Em Maringá tem muito coveiro, tem muito abutre da democracia?

Confira a reportagem veiculada hoje no Jornal Nacional, sobre a reação da sociedade contra os poucos que atacam a democracia:

A denúncia de que pessoas com propósitos políticos se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros para atacar a democracia brasileira provocou repulsa geral e imediata e manifestações veementes em defesa da Constituição.

A mensagem não faz parte da pauta de reivindicações dos caminhoneiros, mas pôde ser vista em algumas manifestações durante a greve: infiltrados que se aproveitam do momento para pedir a volta do autoritarismo.
A reação é enfática e vem de todos os setores da sociedade civil. O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso afirma que intervenção de militares fere a democracia e é impensável nos dias atuais, qualquer que seja o tamanho da crise.
“Eu acho que momentos de dificuldades, como esse que nós estamos vivendo, testam as nossas convicções e os nossos princípios. Acho que a democracia foi a grande conquista da nossa geração. Eu não acho que, por uma turbulência circunstancial, nós devamos cair em tentações autoritárias nem tentar repetir como videoteipe uma história ruim. Portanto, os que defendem a volta da ditadura precisam saber que cometem um equívoco histórico e uma traição com as pessoas que lutaram pela democracia que nós hoje temos no Brasil. E que com as ditaduras normalmente vêm a tortura, a censura e a perda das liberdades públicas”.
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, criticou os infiltrados na paralisação dos caminhoneiros que falam em volta dos militares ao poder e rechaçou totalmente essa possibilidade.
“Eu vivo no século 21, e o século 21 está divertidíssimo. O farol que eu uso para me conduzir é muito mais potente do que o retrovisor. Eu não vejo nenhum militar, não vejo as Forças Armadas pensando nisso; não conheço absolutamente. O que eu sugiro aos analistas políticos é: por que nós chegamos a isso? É um assunto do século passado, uma pergunta que, do ponto de vista pessoal, não vejo mais nenhum sentido do ponto de vista das perspectivas e do passado político, da maturidade do povo brasileiro”.
Responsável pela segurança pública no país, o ministro Raul Jungmann também fez duras críticas aos radicais.
“Em primeiro lugar, eles agridem as Forças Armadas, que são democráticas e estão plenamente dentro do que a Constituição manda. Em segundo lugar, ele agride a sociedade porque querem tirar o nosso direito de escolher os nossos governantes e de dar destino ao país. Em terceiro e último, eles são coveiros, são abutres da democracia. E é na democracia que os nossos direitos, que as nossas liberdades, que o nosso futuro está em nossas mãos”.
No Congresso, parlamentares de diversos partidos que no dia a dia têm pontos de vista divergentes, contrários, têm o mesmo pensamento ao de falar de intervenção militar: descartam a ideia e nem admitem esse tipo de debate.
“Eu acho que é algo que tem que ser inteiramente repudiado e a sociedade brasileira não aceita porque, se nós temos uma democracia imperfeita, a forma de resolver as nossas crises, os nossos problemas, é com mais democracia, é com mais participação da sociedade. Quem já viveu numa ditadura sabe exatamente quais são os limites que as pessoas têm que ter ao viveram lá. É muito fácil pedir ditadura quando nós temos democracia, mas é muito difícil querer democracia quando vivemos numa ditadura, amordaçados e sem possibilidade de expressão. Portanto, temos que repudiar fortemente essa tentativa de grupos minoritários de levar o nosso país para o abismo do autoritarismo”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).
“O momento que o país vive – e também as reivindicações dos caminhoneiros – é muito grave. E um momento como esse pede diálogo, pede negociação. Isso só pode ser feito num ambiente democrático, que é o que eu espero que nós possamos fazer. A sociedade sabe que ela é muito cara a democracia conquistada pela luta de muitas pessoas. Portanto, eu acho que são grupos de minorias radicais que estão pregando o quanto pior, melhor”, afirmou o deputado Rodrigo Garcia, líder do DEM.
Entidades sindicais e de classe também decidiram se posicionar repudiando as manifestações autoritárias. O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) diz que infiltração em movimentos de trabalhadores é sempre muito ruim e mais grave é o discurso da intervenção.
“Nós que vivenciamos o momento da ditadura, que tão difícil foi para alcançarmos a nossa querida democracia e a liberdade, é muito ruim que se possa pensar numa situação dessa. Por isso, é fundamental o diálogo e nós temos com certeza este ano, que é um ano especial, um ano de eleições. A nossa arma é o voto. Se queremos mudar o Brasil é através do voto”, afirmou Ricardo Patah.
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) reforça que não há saída fora da Constituição, fora do regime democrático.
“Se nós não vivêssemos numa democracia, se nós não vivêssemos num estado democrático de direito, nós não teríamos a condição de ver as pessoas tendo o seu livre direito de manifestação. Isto vem exatamente da própria democracia e, portanto, pensar ou trabalhar com a ideia de uma intervenção militar, fora dos termos da Constituição, porque a Constituição não prevê a intervenção militar para uma situação como esta, é exatamente conspirarmos contra os princípios democráticos e contra o próprio sistema jurídico brasileiro a partir da nossa Constituição federal”.

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