Entre a cruz e a espada

Por José Luiz Boromelo:

Mais uma vez o País convive com um dilema: às vésperas de um pleito eleitoral esquisito e diferente, os eleitores não têm uma opção razoável para escolher seu representante no executivo federal.

Se resolverem afastar de vez do poder o partido que, por mais de 12 anos deu as cartas e jogou de mão, nadou de braçadas e viu seu líder máximo encarcerado por corrupção, acabarão elegendo um controverso militar reformado do exército, deputado do “baixo clero” com pouco prestígio na Casa Legislativa onde atuou nos últimos 27 anos. O desempenho sofrível na campanha eleitoral dos demais candidatos, em sua maioria figurinhas carimbadas do meio político (com plataformas de governo à altura de acirradas eleições nos grêmios estudantis) foi a gota d’água que faltava para a debandada e consequente polarização entre os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas de opinião.
Jair Bolsonaro sempre mostrou radicalismo em suas declarações e atitudes, por vezes abordando temas polêmicos com uma postura excessivamente agressiva, típica de quem defende suas ideias com convicção. Envolveu-se em polêmicas diversas, foi acusado de racismo, homofobia, misoginia. Tem respostas prontas a questionamentos distintos, postura que desagrada a determinados setores da mídia e uma parcela significativa da população. Sua recorrente (e contumaz) falta de delicadeza no trato com o sexo oposto fermentou a antipatia de entidades feministas, que repudiam cada palavra julgada ofensiva à classe. Esteve presente no noticiário por conta do atentado que sofreu, o que quase lhe custou a vida. No outro lado da história a ser escrita a partir do dia 7 de outubro está Fernando Haddad, fiel escudeiro e preposto-mor do prisioneiro “pai dos pobres”. O professor-doutor tenta, de todas as formas, atrair os eleitores indecisos. Para isso o PT inclui inserções do presidiário e em alguns casos utilizou a sórdida estratégia de distribuir “santinhos” com a figura do ex-presidente como candidato. Como o eleitor está escaldado com esse tipo de artimanha e ainda sofre com os desmandos dos últimos governos, Haddad tem uma difícil missão pela frente. Suas esperanças recaem no segundo turno, onde, segundo os principais institutos de pesquisa, suas chances de vitória, em tese, seriam maiores.
Em meio a esse caldo de efervescência, em parte azeitada pelas chamadas redes sociais, o questionamento se faz necessário: onde estariam nossos verdadeiros líderes, se é que eles ainda existem realmente? Onde foram parar os legados de Ulysses Guimarães, Aureliano Chaves, Tancredo Neves, Mário Covas e tantos outros homens que fizeram a história política desse País? Por onde andam aqueles que no passado recente defendiam, do alto das tribunas, os interesses maiores da nação? Quais os limites de influência e convencimento de um determinado grupo político sobre os representantes do povo, que comprometidos com os conchavos das siglas partidárias, se submetem a situações de extrema incoerência, na busca pelo poder a qualquer custo? A constatação é inequívoca. Os grandes líderes ficaram no passado. A realidade hoje é outra e baseada em interesses próprios, que não atendem aos anseios da coletividade. É por essa e por outras que o eleitor se encontra entre a cruz e a espada. Resta a opção pelo “mal menor”, se esse for mesmo o único caminho a seguir. Então, que cada um decida conforme sua consciência.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista em Marialva

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