A utilidade do fator arreprendimento

De Elio Gaspari, em O Globo:

Hoje o eleitor poderá escolher entre 13 candidatos. Nos últimos 29 anos os brasileiros elegeram quatro pessoas para a Presidência: Fernando Collor, FH, Lula e Dilma. Pode-se dizer que uma boa parte dos eleitores de Collor e Dilma arrependeram-se do voto. Muita gente que preferiu Aécio Neves também deve ter se arrependido, e essa história mostra o risco embutido em eleições que desembocam em votos contra.

Quem já votou para presidente terá mais facilidade de lidar com o fator arrependimento, quer pelos candidatos em quem votou, quer por aqueles em que se orgulha de não ter votado. Em todos os casos, pode-se ir à seção eleitoral movido pelo voto contra A ou B. No caminho, vale a pena pensar no fator arrependimento. No dia da eleição o voto contra pode ser glorioso como uma vitória no futebol. Ao contrário das disputas esportivas, eleição elege e o candidato assumirá a Presidência. Daí em diante o eleitor recebe a parte que lhe cabe desse latifúndio. Muitos eleitores de Dilma, Collor e, lá atrás, Jânio Quadros arrependeram-se ou arrumaram justificativas fúteis para suas escolhas. Muitos colloridos votaram contra Lula, sabendo quem era a turma do “Caçador de Marajás”. Os janistas votaram contra a turma de Juscelino Kubitschek, mas sabiam que Jânio era, no mínimo, “a UDN de porre” (palavras de Afonso Arinos, referindo-se à União Democrática Nacional, o partido que se ajoelhou para Jânio).
Eleição embebida em votos contra produzem vencedores, mas a experiência mostra que, em pelo menos dois casos, entregaram o Brasil a presidentes desastrosos.

Advertisement
Advertisement