O senador Álvaro Dias, a liberdade do jornalista Juvêncio Mazzarollo e a democracia

Por Walter Praxedes:

Álvaro Dias foi um dos principais organizadores da campanha das Diretas Já no Paraná, em 1984, quando era senador, viajando por todo o Estado para incentivar a participação popular na oposição ao regime militar, inicialmente sem o apoio do governador José Richa.

Mesmo em seu crepúsculo, o regime continuava ameaçador. O jornalista Juvêncio Mazzarollo, fundador do jornal Nosso Tempo, de Foz do Iguaçu, de linha editorial de oposição à ditadura, desde 1982 estava detido em Curitiba como preso político, condenado sob a Lei de Segurança Nacional.
O comício pelas Diretas Já da cidade de Apucarana ocorreu em um Ginásio de Esportes. Eu e um amigo atuávamos no movimento estudantil e ficamos do lado de fora do ginásio distribuindo panfletos de apoio à campanha por eleições diretas, quando fomos cercados por policiais militares e outros não uniformizados. Meu amigo foi detido em um camburão.
Consegui escapar ao cerco policial. Antes de me afastar, com o olhar fixo em mim ouvi meu amigo gritar: “Avisa o Álvaro”.
Corri até o palanque em que Álvaro esperava o momento de discursar, enquanto Belchior cantava em coro com a multidão “Eu sou apenas um rapaz latino-americano…”
Eu tinha 18 anos e nunca tinha conversado com o Senador. Mesmo assim toquei em seu braço e falei ao ouvido: “O Andrade foi preso pela polícia do lado de fora do ginásio”. Ele não me falou nada. Chamou um assessor e o instruiu a procurar o comandante da Polícia Militar para pedir-lhe que o libertassem. Foi o que ocorreu.
Com medo de ser preso fiquei esperando em cima do palanque. Belchior terminou a sua canção e em seguida Álvaro começou o seu discurso. Ainda me lembro algumas de suas palavras em defesa da liberdade e da democracia:
“Estamos aqui hoje para exigir a liberdade imediata do jornalista Juvêncio Mazzarollo! Diretas Já!” “Abaixo a ditadura!”
Como desdobramento dessa história, Juvêncio Mazzarollo foi libertado ainda em 1984, ficando conhecido como o último preso político do regime militar. Em 1989 os brasileiros puderam voltar às urnas para eleger o Presidente da República em eleições diretas.
Em 2014 vários senadores se manifestaram contra o saudosismo da ditadura. Entrevistado pelo jornalista Moisés de Oliveira Nazário, da Agência Senado, Álvaro Dias declarou: “não se pode concordar com nenhum movimento que tenha por objetivo voltar ao “passado autoritário”.
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(*) Walter Praxedes é professor em Maringá
(Foto: http://www.f24.com.br)

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