Uma agenda de confusões

De José Casado:

Jair Bolsonaro se consolida como favorito. Além de manter a vantagem obtida no primeiro turno, com 18 pontos à frente, conseguiu inverter o fluxo da rejeição eleitoral, agora liderada por Fernando Haddad.
Como a perspectiva do poder embriaga, Bolsonaro já aumenta os custos políticos do eventual governo.

Semana passada, no Rio, celebrou com aliados políticos e religiosos a vitória no primeiro turno, com 49 milhões de votos. “Depois de Israel, o próximo país que vou visitar é os Estados Unidos, ok?”, avisou.
Na plateia, muitos perceberam nesse aviso de viagem o eco de uma promessa de Bolsonaro a sionistas cristãos feita em outubro do ano passado, na Nova Inglaterra (EUA): se eleito, vai transferir a embaixada do Brasil em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém, cidade sagrada para judeus.
Significaria uma reversão em meio século de política externa do Brasil, com alinhamento às prioridades do governo Donald Trump e, também, ao governo conservador de Israel. Desde 1967, o Brasil vincula o status de Jerusalém ao reconhecimento das fronteiras de duas nações, Israel e o Estado palestino.
A reação à promessa de Bolsonaro já é perceptível entre diplomatas de nações islâmicas. Consideram provável uma revisão do comércio do Brasil com 57 países, entre eles 22 árabes — destino de 25% das exportações brasileiras de carne.
O candidato favorito à Presidência conseguiu, também, nublar o horizonte das relações com a China, ao anunciar mudanças no rumo da privatização do grupo Eletrobras: “Você vai deixar nossa energia na mão do chinês?”, argumentou em entrevista à Band.
A China comprou 21 empresas brasileiras, investindo US$ 21 bilhões nos últimos três anos. Mas o candidato acha que as relações com os chineses devem passar pelo prisma do alinhamento com Washington, em guerra comercial com Pequim. Em uma semana, Bolsonaro abriu focos de potencial conflito com países cujas populações, somadas, representam metade dos habitantes do planeta. E ainda nem foi eleito.

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