Ao poeta Zeca Corrêa Leite

O Zeca não existe. Ele é uma miragem na paisagem grotesca do nosso dia a dia. Sempre disse que ele é anjo, santo, alguma coisa assim. Pela tom da voz, poderia ser arcebispo, papa. E dos bons, porque ao contar os causos engraçados que protagonizou, não mexe um músculo do rosto enquanto nos rolamos no chão de tanto rir.

Jornalista? Não. Zeca é poesia mesmo dormindo. Recebo suas cartas escritas à mão e o carteiro, pra mim, é Isaurinha Garcia cantando. Guardo tudo como um tesouro no meu baú do peito. Ele descreve um ato corriqueiro e, na ponta da caneta esferográfica, passa imagem, som, cheiro. Às vezes penso que tudo isso tem a ver com o quintal da casa da família dele lá em Sorocaba. E alguma coisa me faz enxergar o lugar através de outro quintal, o do Graciliano Ramos, em Palmeira dos Índios, antes de ser engolido por uma caixa de concreto que virou museu. O Zeca me chama de menino e ele é muito mais novo, porque, em qualquer momento, em qualquer ação, é a pureza da criança que não conseguimos manter. Trabalhamos juntos na Folha de Londrina, quando este era o grande jornal do Paraná. Tempos depois ele escreveu que recebia informes sobre minha pessoa, sobre minha energia, etc. e tal, e que quis logo conhecer. Quem saiu ganhando? Eu, porque garramos amizade, com fundo musical de Rinaldo Calheiros e Silvana, Cascatinha e Inhana, e, claro, ela, Elis, a deusa dele. Este Zeca Corrêa Leite não tem data de aniversário. Ele é comemoração sempre. O presente que nos damos, portanto, é deixar que ele nos leve para onde quiser – com seus textos, suas cartas, suas conversas, sua presença.

* Publicado no “Jornal do Zeca”, edição especial em homenagem aos 70 anos de vida do poeta comemorados ontem (Via Blog do Zé Beto/ Foto Monica Santana)

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