Como a Gazeta do Povo, do Paraná, deu uma guinada à direita e virou porta-voz do Brasil de Bolsonaro

De Rafael Moro Martins, do The Intercept Brasil:

Do ponto de vista estratégico, foi um achado. Há alguns dias, a Gazeta anunciou ter sido o jornal mais lido do Brasil em outubro, mês das eleições presidenciais – foram 33,7 milhões de visitantes únicos, segundo o comScore MyMetrix, quase 600 mil a mais que o site da Folha de S.Paulo, ainda líder em tiragem e circulação entre os diários impressos brasileiros.

A audiência se deve, em parte, a um bem feito trabalho de formatação de conteúdo, o chamado SEO, que fez com que qualquer que digitasse, por exemplo, as palavras “candidatos deputado estadual Paraíba” no Google recebesse como primeiro resultado o site da Gazeta. Ainda assim, é um resultado notável para um veículo que, até há dois anos, tinha alcance meramente regional.
Do ponto de vista do prestígio com os novos donos do poder, idem. Coube à Gazeta o privilégio de publicar o primeiro artigo do futuro chanceler Ernesto Araújo após a escolha dele por Jair Bolsonaro – ou pelo filósofo de ultra direita Olavo de Carvalho. O portal também conseguiu entrevistas exclusivas com ministros do futuro governo e teve um de seus colunistas recomendado pela jurista Janaina Paschoal ao presidente eleito.
Do ponto de vista do bom jornalismo, há vários poréns. Ao se assumir como porta-voz de pautas conservadoras como a “crítica ao comportamento homossexual” e do liberalismo econômico, a Gazeta reduziu o destaque à cobertura local e o espaço a vozes discordantes, processo que culminou na demissão de seu principal jornalista, o colunista político Rogerio Galindo, também tradutor literário e irmão do premiado Caetano Galindo. Leia mais.
(Ilustração: Rodrigo Bento/The Intercept Brasil)

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