Tratar caso Coaf como ‘irrisório’ magnifica o erro

De Josias de Souza:

O caso Coaf imita uma pedra jogada do alto da montanha. Seu primeiro movimento foi lento. Mas a notícia rola há dez dias sem uma explicação capaz de detê-la. Redobrou a velocidade. Os membros da dinastia Bolsonaro e seus súditos começam a se dar conta de que ficou difícil interromper uma crise que, não tendo sido contida no nascedouro, ganhou dinâmica própria.

A coisa ficou muita parecida com uma avalanche: a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do faz-tudo Fabrício Queiroz, os R$ 24 mil repassados à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, os nove assessores do gabinete do primogênito Flávio Bolsonaro gotejando parte do salário na conta tóxica, os saques em dinheiro vivo na boca do caixa, a filha de Fabrício transitando do gabinete de Flávio para o de Jair Bolsonaro sem dar expediente em nenhum deles…
Zonzos, os devotos do novo presidente temem fazer papel de bobos por falta de material para as barricadas. Parte dos apologistas do capitão começam a aderir à linha de defesa esgrimida pelo general Augusto Heleno, futuro ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
“O presidente tá isento disso aí”, disse o general ao repórter Pedro Bial. Heleno completou: “O que apareceu dele é irrisório, uma quantia pequena, e ele mesmo já explicou.” Nessa versão, caberia apenas ao faz-tudo Fabrício prover novas e definitivas explicações. Mais: eventuais transgressões atribuídas a membros do clã Bolsonaro seriam encrencas para o juizado de pequenas causas se comparadas com escândalos como mensalão e petrolão.
Mantendo-se nessa trilha, os supostos defensores de Bolsonaro não conseguirão senão magnificar o erro. Na prática, estão afirmando, com outras palavras, o seguinte: ainda que fossem comprovados, os indícios que saltam do relatório do Coaf seriam honrosos para a família Bolsonaro que, ao desviar dinheiro público, desvia pouco. Leia mais.

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