Vitória de Paula confirma que não é só o BBB que precisa mudar: é o Brasil

De Tony Goes, na Folha de S. Paulo:

O que já era ruim conseguiu piorar. A pouco mais de 24 horas da grande final, Hariany teve a manha de ser expulsa do Big Brother Brasil. Discreta durante os quase três meses em que permaneceu na competição e com pelo menos 50 mil reais já garantidos, a goiana perdeu a paciência com Paula, sua melhor amiga lá dentro.

A cena é estarrecedora. Embriagada depois da festa Internet, Hariany avisa Paula que precisa muito lhe dizer algo, mas que não será em frente às câmeras. Para não prejudicar a mineira – vê se pode uma coisa dessas.
Paula, também afetada pelo álcool, não quer saber de nada. Acaba sendo empurrada por Hari e vai ao chão. Na manhã seguinte, as duas mal lembram do episódio.
Mas o fandom de Paula lembra. As redes sociais se enchem de gente clamando pela expulsão de Hariany. Na tarde de quinta (11), um compungido Tiago Leifert entra no ar e avisa a Paula, Alan e Carol que Hariany não está mais na casa. Desata então uma choradeira generalizada, totalmente incompatível com o que se espera dos últimos momentos de um reality show.
O baixo astral contaminou as horas seguintes, e desanimou os telespectadores. Uma disputa final entre Paula e Hariany era a única chance de o resultado surpreender. Sem Hari pela frente, Paula, a verdadeira vilã dessa edição, já estava com a vitória no papo.
Uma vilã que o Brasil está longe de amar. Apesar de receber 61% dos votos, Paula von Sperling tem uma base de fãs ardorosos, um milhão e meio de reais no bolso e… mais nada.
É difícil imaginar como será sua vida pós-BBB. Fará propaganda de alguma marca? Será contratada como apresentadora pela Globo? Quem vai querer associar sua imagem à dela?
É impossível não comparar o resultado do BBB 19 com o da a última eleição presidencial. A mão do destino interviu nos dois casos, prejudicando o favorito só para lhe garantir a vitória final. E o Brasil saiu ainda mais dividido do que entrou.
Um sintoma do climão reinante no BBB foi a recusa da turma da “Gaiola” – Rízia, Gabriela, Rodrigo, Danrley, Elana e Vanderson – em participar da festa oficial de encerramento. O grupo se retirou assim que Paula chegou ao local, e rumou para uma boate da Zona Sul do Rio de Janeiro.
O mal-estar agora atingirá a própria Paula, que tem alguns processos a responder. Ela finalmente terá que encarar as consequências das barbaridades que disse durante a competição. Igualzinho a um certo presidente da República.
Não podemos esperar que o Brasil tenha aprendido alguma coisa. Mas tomara que a Globo tenha: o Big Brother de 2020 precisa trazer mudanças significativas, da escolha do elenco à maneira como alguns concorrentes são descaradamente protegidos pela produção. Sem falar no sistema de votação, mas aí talvez seja pedir demais.
Muda, BBB. Caso contrário, vai ser ladeira abaixo. O mesmo toque vale para o Brasil.
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(*) Tony Goes tem 56 anos. Nasceu no Rio de Janeiro, mas vive em São Paulo desde pequeno. Já escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. E atualiza diariamente o blog que leva seu nome: tonygoes.blogspot.com

(Foto: TV Globo)
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