Sociedade Rural lamenta retirada antecipada da vacinação contra aftosa

A Sociedade Rural de Maringá divulgou nota nesta tarde afirmando que é “veementemente contrária” à retirada antecipada da vacinação contra a febre aftosa no Paraná.

A decisão dos estados que pertencem ao bloco 5 do Pnefa (Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa) de apoiar o fim da imunização no Estado a partir deste ano, ontem, em reunião na sede da Ocepar, em Curitiba (leia aqui), é considerada um equívoco e irá afetar profundamente produtores e todos os setores que dependem da entrada de animais de outros estados para as suas atividades.
O governo do estado anunciou recentemente a promoção, em maio, de fóruns regionais em seis municípios para debater com entidades do setor agropecuário as ações necessárias para solicitação e reconhecimento do status de Área Livre de Febre Aftosa, sem Vacinação. Os eventos acontecem nas cidades de Paranavaí (dia 14), Cornélio Procópio (15), Curitiba (16), Guarapuava (21), Pato Branco (22) e Cascavel (23) (leia mais).
Diz a nota da SRM que o Paraná conta com um rebanho de aproximadamente 10 milhões de cabeças de bovinos, sendo cerca de 50% animal de corte. Mais de 2% desses bovinos que são destinados ao abate chegam de outros estados. Com a barreira criada no Paraná para a entrada de novos rebanhos, haverá uma defasagem prejudicando toda a cadeia produtiva de carne, incluindo-se os frigoríficos, curtumes, processadoras de ossos e até mesmo a indústria de biodiesel proveniente da gordura animal. Havendo redução de abate, haverá falta de matéria-prima para todos os setores. Esse quadro afetará até mesmo os empregos nestas unidades, prevendo-se um corte de 30 a 40% da mão-de-obra hoje efetiva, conforme as indústria frigorífica.
“A SRM não concorda com a saída isolada do Paraná. O Estado, que estava no bloco 5 do Pnefa e deveria parar de vacinar só em 2021, poderia se adiantar, mas sair junto com o bloco 2 ou 3, cuja suspensão da imunização está programada para o próximo ano. Seria a forma de não ficar isolado.
A cadeia produtiva/industrial da carne de bovinos do Paraná, importante elo entre o produtor e o consumidor, também se colocou contrária à decisão. É importante atentar que enquanto as cadeias produtivas de aves e suínos estão sob controle das indústrias e são concentradas em aproximadamente 20 mil propriedades de produção de aves comerciais e em torno de 6 mil propriedades de produção de suínos comerciais, em regiões com alta concentração, a cadeia da carne de bovinos está distribuída em todo estado (algo em torno de 180 mil propriedades) com grande variação de qualidade de carcaças, transporte distante e oneroso, e raras propriedades são da própria indústria.
Portanto, os cenários diferentes merecem tratamento e análises diferenciados. O abastecimento para o abatedouro de carne bovina não é arbitrado pela Indústria, como é nos suínos e nas aves. É disperso e incerto, requer organização e planejamento de longo prazo, o que reforça a tese de que a alteração do cronograma para o fim da vacinação no estado irá prejudicar o setor.
De acordo com um estudo encomendado por entidades do setor, realizado pela Athenagro, os benefícios com o fim da vacinação seriam colhidos pela suinocultura, enquanto os riscos seriam todos da bovinocultura. A tese do benefício, no entanto, baseia-se na premissa que haja retorno econômico com as exportações de carne suína, caso o estado deixe de vacinar. Entretanto, Santa Catarina que atingiu o status livre de aftosa sem vacinação em 2007, não confirmou a expectativa de aumentar suas exportações para países com melhor remuneração.
Mesmo sendo o Estado de maior produção e exportações de carne suína no Brasil, apenas 6% do total exportado seguiu para mercados considerados mais restritivos em relação à vacinação, como Estados Unidos, Japão e Singapura. Em 2006, antes de atingir o status, 7% do total exportado pelo vizinho atingiu os mercados restritivos.
A carne suína paranaense também acessou mercados restritivos. Em 2018, o Paraná exportou 18,6 mil toneladas métricas de carne suína para Singapura, equivalente a 17% do total exportado pelo Estado. No mesmo período, Santa Catarina exportou 13,6 mil toneladas para o mesmo mercado, ou 4% do total. O restante exportado por Santa Catarina aos mercados restritivos soma 6,4 mil toneladas em 2018, destinadas ao Japão e Estados Unidos.
Mesmo responsável por 51,4% de todas as exportações de carne suína em 2018, Santa Catarina enviou 19,9 mil toneladas aos mercados considerados mais restritivos. O Paraná, que respondeu por apenas 16,8% das exportações brasileiras de carne suína, enviou 18,7 mil toneladas nos mercados restritivos. É conclusivo que a diferença do status não representa vantagem competitiva alguma para atender os mercados, destaca o documento.
A análise das séries históricas de volume e preços de exportações e mercado interno, tanto para carne suína como bovina, são mais contundentes. Comparando o desempenho do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, não há sinais de que Santa Catarina ganhe espaço ou benefícios com relação às exportações ou valorização do mercado interno. “Não há dúvidas que a retirada precipitada das campanhas de vacinação represente mais riscos do que benefícios para ambas as carnes. A expectativa de benefícios não se confirmou em Santa Catarina, nem mesmo nos momentos mais complicados para a suinocultura”, frisa o estudo.
Com a crise da peste suína na China e vizinhos, é esperado um rearranjo em todos os players do mercado global. A oportunidade para o Brasil é inquestionável. Será que interessa ao Paraná aumentar os riscos sanitários em um momento tão importante para a consolidação dos mercados? O status livre sem vacinação deve ser buscado, mas não a qualquer custo. Aguardar mais um ano ou dois anos seria o mais prudente para todos”.

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