Carlos, o procurador

Por Hudson Correa, na revista Crusoé:

Carlos Bolsonaro foi o vereador mais votado no Rio de Janeiro em 2016, quando conquistou o quinto mandato consecutivo, mas se tornaria um político realmente poderoso longe da tribuna, ao comandar a campanha do pai pelas redes sociais no ano passado e – mesmo sem cargo no governo – esbanjar influência ao ponto de sua opinião pesar até na demissão de ministros. Outra face de Carlos, desconhecida do público, aparece agora em documentos, obtidos por Crusoé, sobre o negócio imobiliário que representou o grande salto na vida financeira de Jair Bolsonaro.

Em novembro de 2002, o então deputado federal e a sua segunda mulher, Ana Cristina Valle, selaram num cartório do centro do Rio a compra de uma casa por 500 mil reais, ou 1,4 milhão em valores atuais. Localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, com 515 metros quadrados, o imóvel valia mais que o total de bens, cerca de 420 mil reais, declarados à época por Bolsonaro à Receita Federal.
A negociação começara três meses antes, em agosto, com a assinatura da chamada escritura de promessa de compra e venda. Segundo esse documento, Bolsonaro e Ana Cristina deram um sinal de 90 mil reais (não ficou esclarecido se foi em espécie) e um cheque de 160 mil reais da agência do Banco do Brasil localizada na Câmara, em Brasília — e ainda assinaram uma nota promissória de 250 mil reais que venceria, em parcela única, no mês de dezembro daquele ano.
Ao fechar esse acordo, a vendedora do imóvel, a economista Maria Celina Magalhães, nomeou dois procuradores para assinar no cartório a escritura definitiva, que transferiria a casa para o nome do casal Bolsonaro, tão logo ocorresse o pagamento da promissória. A surpresa é que os dois procuradores eram gente de extrema confiança não de Maria Celina, mas da intimidade de Bolsonaro. Ela entregou a tarefa a Carlos, então com 19 anos e recém-eleito vereador, e ao capitão da reserva do Exército Jorge Francisco, que chefiou o gabinete do então deputado.
Jorge Francisco morreu de infarto em abril de 2018, o que levou um Bolsonaro emocionado, às lágrimas, a cancelar a agenda de sua então campanha a presidente. Na última segunda-feira, 24, na dança de cadeiras no governo, o filho de Francisco assumiu a Secretaria-Geral da Presidência. O major Jorge Antônio de Oliveira se tornou um dos ministros mais próximos de Bolsonaro. Ele mantém uma relação de amizade com os filhos do presidente, o que será importante para se manter no cargo. Leia mais.

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