Divanir, o Mecenas

Por A. A. de Assis:

Em 1966, Maringá era uma jovem cidade de apenas 19 anos, no auge do pioneirismo, com poucas ruas pavimentadas e uma população ainda empenhada em fincar raízes para a construção de uma vida nova em meio à floresta virgem.

Ninguém estava aqui a fim de piquenique. Vieram todos com o mesmo propósito: trabalhar, ganhar dinheiro, garantir um bom futuro. Eram lavradores, comerciantes, comerciários, corretores, mecânicos, professores, médicos, enfermeiros, pedreiros, cabeleireiros, marceneiros, advogados, eletricistas, encanadores, engenheiros, alfaiates, dentistas, garçons, farmacêuticos, cartorários, bancários, motoristas, jornalistas, radialistas, contadores, enfim homens e mulheres das mais diversas profissões, todos em começo de carreira, vindos dos mais diferentes lugares, cheios de sonhos, sobretudo cheios de coragem.
Tudo isso muito natural numa comunidade nascente. Surpresa foi descobrir que, num aglomerado de pessoas tão intensamente preocupadas em fazer o pé-de-meia, havia também algumas cabeças e corações capazes de encontrar tempo e espaço para a poesia.
Dentro desse burburinho, um moço inquieto, Divanir Braz Palma, jornalista e estudante de Direito, dava seus primeiros passos como futuro grande empresário. Fundou a Editora Rui Barbosa e seu primeiro projeto foi um ato de extrema ousadia: o lançamento da primeira Coletânea dos Poetas de Maringá.
Perguntou-me se estaria disposto a colaborar. Aceitei na hora, e de imediato nos pusemos a visitar um por um os poetas da cidade, a fim de recolher o material.
Feita a seleção final, enquanto eu organizava os originais da obra, Divanir partiu para o mais difícil: conseguir quem financiasse a edição. Conseguiu-o em Curitiba, na Caixa Econômica Federal. Ele não tinha praticamente nada para dar em garantia, mas, por felicidade, o projeto caiu nas graças do então diretor geral da Caixa, também poeta: o saudoso jornalista José Wanderley Dias, que escrevia uma coluna na “Gazeta do Povo” com o título de “A Vista do Meu Ponto”. Quando José Wanderley leu a Coletânea, ficou de tal modo entusiasmado, que assumiu toda a responsabilidade pelo empréstimo, algo que hoje equivaleria a uns 5 mil reais. Claro: Divanir pagou tudo direitinho.
Mas era preciso encontrar também duas pessoas bem ilustres para assinar a apresentação do livro e o prefácio. Dois nomes que, por si sós, mostrassem aos futuros leitores que se tratava de algo realmente importante, não um simples brinquedo de sonhadores.
Conseguimos convencer o então prefeito Luiz Moreira de Carvalho a escrever a apresentação. Emocionado com a iniciativa, o Dr. Luiz fez o texto em versos, um belíssimo poema.
Para assinar o prefácio, Divanir não fazia por menos: queria um escritor de prestígio nacional. Por sorte, eu tinha amizade com o poeta mais lido e aplaudido em todo o Brasil naquela época, JG de Araújo Jorge. Telefonei fazendo o convite, que ele aceitou com enorme alegria. Divanir não perdeu tempo: pegou um ônibus e foi ao Rio de Janeiro buscar o texto. Muito ocupado, JG pediu dois dias. Divanir se hospedou num hotelzinho e pacientemente ficou à espera. Trouxe em mãos a preciosidade.
Reynaldo Costa, criador da Bandeira e do Brasão do município de Maringá, desenhou a capa. Vinte e um autores, cada qual com alguns poemas, foram selecionados para compor a Coletânea. E com a merecida pompa a Livraria Rui Barbosa – Editora, sediada numa sala da Avenida Brasil e equipada com uma kombi e uma máquina de escrever, orgulhosamente entregou ao público a primeira COLETÂNEA DOS POETAS DE MARINGÁ.
Meio século depois, Divanir patrocinou o lançamento de nova edição da Coletânea – marco de um Jubileu que entrou para a história do município como evento altamente significativo, pelo seu inestimável valor cultural.
Felizes, honrados e agradecidos, nós, participantes dessa obra memorável, em nome de todos os poetas de Maringá, pedimos licença para dedicar os maiores méritos do empreendimento ao nosso mais generoso Mecenas, Divanir Braz Palma, e à sua queridíssima esposa Maria Eliana Palma, primorosa escritora e grande incentivadora de tudo o que de mais marcante se realiza nesta cidade no campo das letras.

(Prefácio da edição comemorativa do Jubileu de Ouro da primeira Coletânea dos Poetas de Maringá)

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