Iapar: ainda há tempo para Ratinho Júnior evitar esse crime

Por José Antonio Pedriali:

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, encaminhou à Assembleia Legislativa projeto de lei que reestrutura o Sistema Estadual de Agricultura, criando o no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, resultado da fusão dos quatro órgãos do setor – Iapar, Codapar, Emater e Centro Paranaense de Referência em Agroecologia.
A proposta, formulada no início do seu governo, causou apreensão aos técnicos do setor, sobretudo os pesquisadores do Iapar, que será duramente afetado em sua autonomia, com risco de comprometimento das pesquisas que o fazem um centro internacional de referência.
Apesar das advertências, o governador levou adiante a proposta. Não bastassem as advertências dos pesquisadores, que sequer foram ouvidos na formulação do projeto, parecer da Secretaria de Fazenda (SEFA) informa que, ao contrário da economia de recursos apontada por Ratinho Júnior como meta da alteração, o que ocorrerá será um aumento brutal para o caixa do estado.
A economia em custeio, segundo o relatório da SEFA, será de pouco mais de R$ 900 mil por ano, o equivalente a 0,2% do orçamento do setor, que é de R$ 419 milhões em2019. Enquanto isso, a recomposição de cargos comissionados e funções gratificadas – com a diminuição destas últimas e aumento dos primeiros – vai custar R$ 3 milhões (arredondados) a mais por ano. E a contratação de servidores por meio da Casa Civil, sem que haja especificação técnica e objetivo para os cargos, advertem os pesquisadores, custarão outros R$ 3 milhões (também arredondados).
O maior disparate, no entanto, deverá ocorrer com a Codapar – Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná. A folha salarial dos servidores será integralmente absorvida pelo Estado (31 milhões) e seu passivo será dividido entre o Tesouro (18 milhões) e o novo instituto (43 milhões). Ou seja, o órgão pretendido pelo governador nascerá endividado até o pescoço…
Sediado em Londrina (foto), o Iapar foi criado há 47 anos como resultado da mobilização da comunidade do Norte do Paraná, região predominantemente agrícola que exigia um centro de pesquisa para o aumento da produtividade – hoje uma das maiores do mundo. Expandiu-se para todo o estado, ganhou fama mundo afora graças à competência de seus pesquisadores e abarcou a pecuária, a ponto de desenvolver a raça Purunã.
Todo esse patrimônio cultural e científico, legado por uma geração operosa e visionária, está ameaçado, advertem os pesquisadores do Iapar. Que pedem apenas que o projeto seja retirado de pauta para ser analisado com profundidade. E com a participação dos principais interessados em seu êxito: os técnicos do setor.
Ainda há tempo para Ratinho Júnior evitar a consumação desse crime.
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(*) José Antonio Pedriali é jornalista e escritor em Londrina

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