A avareza…

… uma dissertação de São Luiz, ditada em 1858:

‘Tu, que possuis, escuta-me. Certo dia, dois filhos de um mesmo pai receberam, cada um, o seu alqueire de trigo. O mais velho guardou o seu num lugar oculto; o outro encontrou no caminho um pobre a pedir esmolas; dirigindo-se a ele, despejou no seu manto metade do trigo que lhe coubera; depois, seguiu caminho e foi semear o resto no campo paterno. Ora, por esse tempo veio uma grande fome, as aves do céu morriam à beira dos caminhos. O irmão mais velho correu ao seu esconderijo, ali não encontrando senão poeira; o caçula, tristemente, ia contemplar o trigo que havia secado no pé, quando depara com o pobre que havia assistido. – Irmão, disse-lhe o mendigo, eu ia morrer e tu me socorreste; agora que a esperança secou em teu coração, segue-me. Teu meio alqueire quintuplicou em minhas mãos; aplacarei tua fome e viverás em abundância.
Escuta-me, avaro! Conheces a felicidade? Sim, não é? Teus olhos brilham com um sombrio esplendor, nas órbitas que a avareza cavou mais profundamente; teus lábios se cerram; tuas narinas estremecem e teus ouvidos se apuram. Sim, ouço: é o tilintar do ouro que tua mão acaricia, ao se derramar no teu esconderijo. Dizes: É a suprema volúpia. Silêncio: vem gente! Fecha depressa! Oh! como estás pálido! todo o teu corpo estremece. Tranqüiliza-te; os passos se afastam. Abre: olha, ainda teu ouro. Abre; não tremas mais; estás sozinho. Ouves? não é nada; é o vento que geme a passar pelas frestas. Olha; quanto ouro! mergulha as mãos: faze soar o metal; tu és feliz. Feliz, tu! mas a noite não te dá repouso e teu sono é atormentado por fantasmas. Tens frio! aproxima-te da lareira; aquece-te junto a esse fogo que crepita tão alegremente. Cai a neve; o viajor friorento envolve-se em seu manto e o pobre tirita sob seus andrajos. A chama da lareira diminui; atira mais lenha. Não; pára! É o teu ouro que consomes com essa madeira; é o teu ouro que queima.
Tens fome! olha, toma; sacia-te; tudo isso é teu, pagaste com o teu ouro. Com o teu ouro! esta abundância te revolta; esse supérfluo é necessário para sustentar a vida? não, esse pedaço de pão será bastante; ainda é muito. Tuas roupas caem em frangalhos; tua casa se fende e ameaça ruir; sofres frio e fome, mas, que importa! tens ouro! Leia mais aqui.
Meu comentário (Akino): Quero falar da avareza pelo poder, que ficou, mais uma vez, demonstrada por deputados na aprovação do fundão eleitoral e com regras que só favorecem a políticos com mandatos. Políticos que vivem do dinheiro público, que estão a três, quatro, cinco, dez mandatos e não ‘largam o osso’, pelo contrário agregam familiares e cada vez mais buscam a riqueza e poder. Reflitam sobre o texto de São Luiz, em Espírito, que assim concluiu: ‘Infeliz! a morte vai separar-te do ouro. Deixá-lo-á à beira do túmulo, como a poeira que o viajor sacode à soleira da porta, onde a família bem-amada o espera para festejar o seu regresso. Teu sangue congelou-se em tuas veias, enfraquecido e envelhecido por tua voluntária miséria. Ávidos, os herdeiros atiram teu corpo num canto qualquer do cemitério; eis-te face a face com a eternidade. Miserável! Que fizeste do ouro que te foi confiado para aliviar o pobre? Ouves estas blasfêmias? vês estas lágrimas? este sangue? São as blasfêmias do sofrimento que terias podido acalmar; as lágrimas que fizeste correr; o sangue que derramaste. Tens horror de ti; desejarias fugir e não podes. Tu sofres, condenado! e te contorces em teu sofrimento! Sofre! nada de piedade para ti. Não usaste de misericórdia para com o teu irmão infeliz; quem a teria por ti? sofre! sofre! teu suplício não terá fim. Para te punir, quer Deus que assim o CREIAS.’
PS: Vale para todos os avarentos por bens materiais e poder. Pense nisso, o inferno, como as religiões tradicionais ensinam não existe, mas o inferno que podemos enfrentar é tão pavoroso quanto. Não adianta ‘aceitar Jesus’. Nenhum homem, que se diz de Deus poderá perdoar nossos pecados, como num pacote de impunidade que se vota no Congresso.
Akino Maringá, colaborador

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