Mentiras virtuais na mira da lei

De André Vargas e Fernando Lavieri, na revista IstoÉ:

As redes maliciosas para divulgação de notícias falsas colocam em risco as eleições municipais de 2020 — além de terem influenciado o último pleito no Brasil. Um indicativo é a descoberta de que seguem ativas 80% das 1.690 contas do aplicativo de mensagens WhatsApp usadas por robôs para a disseminação de dezenas de milhares de mensagens contra os adversários de Jair Bolsonaro na última eleição. O mapeamento foi feito pelos grupos de ativismo digital Programadores Brasileiros pela Pluralidade e Democracia e Hackers pela Democracia. No âmbito jurídico, autoridades tentam puxar o fio dessa intrincada meada executada por empresas de comunicação e marketing digital que operam fora dos limites legais.
Para evitar as fraudes, o aplicativo de mensagens WhatsApp baniu 1,5 milhão de contas brasileiras em definitivo ou temporariamente, entre outubro de 2018 e setembro de 2019. As suspeitas é de que as contas eram usadas para disseminação de fake news e discursos de ódio para diferentes partidos. O WhatsApp detectou que algumas contas chegaram a distribuir 14 mensagens em apenas 30 segundos, o suficiente para concluir que eram robôs. De acordo com a empresa, 75% dos banimentos se dá de forma automática, mediante monitoramento de atividade, mas sem vasculhar o conteúdo das mensagens, que seguem privadas.

TROPAS VIRTUAIS
Em São Paulo, uma das empresas de marketing encarregadas de disparar mensagens para candidatos do PSL durante e depois das eleições entrou na mira do Ministério Público Regional Federal. Documentos aos quais ISTOÉ teve acesso mostram pedidos de investigação junto ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Morais. Há um inquérito em andamento no STF contra ameaças e calúnias aos ministros. Os investigadores descobriram que o trabalho dessas empresas só ocorre mediante a prática de um crime anterior, que é a aquisição ilegal de mailings com dados atualizados de clientes de operadoras de telefonia móvel — a prática fere a Lei de Proteção de Dados.
Com os números de celulares, e-mails, CPFs e CEPs é possível disparar mensagens direcionadas para determinados públicos em regiões, cidades, bairros e até vizinhanças mapeadas pelos partidos e analistas digitais. Como a inteligência artificial não resolve tudo, esse trabalho seria amparado por uma militância local — remunerada ou não —, que se encarregaria de divulgar inicialmente as mensagens mentirosas. Aos poucos, os perfis e as contas fal sas seriam admitidas em grupos de WhatsApp e compartilhadas por Facebook e Twitter, entrando em difusão viral, até o processo se repetir em outro grupo ou comunidade. E assim por diante. O que não se tinha certeza era da necessidade da presença massiva de ativistas. Leia mais.

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