Programa inédito vai revitalizar
a produção de uvas no Paraná

O governador Carlos Massa Ratinho Junior lançou hoje, no Palácio Iguaçu, o programa Revitis, destinado a estimular a produção de uvas no Paraná.

Iniciativa inédita no Estado, o programa está apoiado em quatro eixos: incentivo para a produção, reorganização da comercialização, desenvolvimento do turismo e apoio à agroindústria.

O programa é uma parceria entre o Governo do Estado (por meio da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento), suas autarquias, as universidades e a iniciativa privada, e prevê a autossuficiência da cadeia como resposta à falta de parreiras para atender a demanda da indústria local.

O governador afirmou que o estímulo à produção de uva com qualidade vai gerar emprego e renda, principalmente diante de um contexto de 85% de propriedades ainda dedicadas à agricultura mais enxuta no Estado. “A ideia é fortalecer a produção de uva, suco e vinho. O Paraná foi um grande produtor no passado e ao longo do tempo diminuímos a produção. Queremos retomar essa cadeia com muita força e com planejamento integrado”, afirmou Ratinho Junior. “Queremos disputar em grau de igualdade com o Rio Grande do Sul e consolidar nossos vinhos em todo o mundo”.

O Revitis vai integrar os atores da cadeia produtiva da uva, capacitar produtores e reestruturar a rede estadual da pesquisa para a viticultura, além da promover o turismo relacionado à cultura da uva e derivados. Haverá linhas de financiamento e acompanhamento técnico. A viticultura e a vitivinicultura (produção para vinhos) têm potencial de aumentar o leque de alternativas para a geração de renda nas pequenas propriedades rurais, porque conseguem gerar mais oportunidades de emprego do que culturas extensivas.

No Paraná, falta uva para atender o aumento da demanda para a indústria instalada, cuja capacidade de processamento cresce todos os anos. Os produtores estaduais importam mais de 90% das uvas de mesa que utiliza para fazer sucos e vinhos coloniais e cerca de 84% das uvas para vinhos finos.

O Revitis, afirmou o governador, visa reverter esse modelo comercial desequilibrado. “Temos qualidade e sabemos o que queremos entregar, mas faltava organizar esse ecossistema”, disse. “Nossos técnicos vão ajudar os produtores a especificar as variedades genéticas para eles produzirem mais e com mais qualidade em todas as regiões. Queremos fazer do Paraná um Estado agroindustrial, capaz de tirar do campo e processar com valor agregado”.

O programa se soma à retirada do vinho do regime de substituição tributária no começo de novembro, o que já apresenta redução do preço de venda para o consumidor final.

AÇÕES DO PROGRAMA – O Revitis será gerido em parceria pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento, Emater, Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Associação de Vitivinicultores do Paraná (Vinopar), Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Assembleia Legislativa e secretarias da Fazenda, do Planejamento e Projetos Estruturantes e do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo.

Ele prevê a criação de uma câmara técnica setorial de viticultura, que será responsável por deliberar sobre as políticas públicas de integração, agroindústria, turismo e relação com os produtores, e tem como um dos principais objetivos ampliar a participação de viticultores iniciantes no processo produtivo.

“Temos conhecimento, clima, solo e produtores. Por que não espelhar o Chile, a Argentina, a França, a Itália, a Espanha e o vale dos vinhedos gaúcho? É um programa que tem a ousadia de fortalecer uma cadeia inteira, gerando oportunidades no campo e na indústria”, disse Norberto Ortigara, secretário da Agricultura e do Abastecimento.

“Vamos aportar recursos, integrar a cadeia, treinar técnicos e agricultores, financiar ideias, rever tributos e participar do esforço do turismo”, complementou o secretário. Ele destacou que um hectare de uva gera um emprego no Paraná, em média, e dois ou três empregos na cadeia produtiva. “Ampliar um pouco essa margem trará muitos ganhos ao Estado, além de possibilitar ao pequeno agricultor multiplicar seu retorno financeiro em até cinco vezes”.

GENÉTICA E CRÉDITO – O programa prevê, ainda, um viveiro de mudas que será montado pelo Iapar para colocar material genético de procedência à disposição dos agricultores e linhas de crédito da Fomento Paraná e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). “O sistema paranaense de fomento vai lançar linhas para toda essa cadeia de uvas, seja para os agricultores, as cooperativas ou os comerciantes. Os juros serão subsidiados, logo, os valores serão mais baixos do que os bancos comerciais”, afirmou Heraldo Neves, diretor-presidente da Fomento Paraná.

SUCOS E VINHOS – A Associação de Vitivinicultores do Paraná (Vinopar) estima que a manipulação industrial tem potencial de crescimento de 57% para a fabricação de sucos e vinhos coloniais e de 342% para vinhos finos em cinco anos.

“Vamos resgatar a viticultura estadual. Temos total condição de voltar a fazer do Paraná um grande produtor de uvas. O Rio Grande do Sul emprega 20 mil famílias, com média de dois hectares cada. Se a gente alcançar esse patamar no Paraná, os produtores terão renda extra de R$ 60 mil ao ano. Isso ajudará os agricultores a ficarem no campo”, afirmou Giorgeo Zanlorenzi, presidente da Vinopar.

Esse planejamento abrange ampliar a área plantada para mais de 6.000 hectares, alcançando, pelo menos, patamar de 2010 da produção. Atualmente são 3.666 hectares de área plantada – 2.049 hectares com uva de mesa e 1.617 hectares com uva rústica, para fabricação de sucos e vinhos. O Estado perdeu dez mil postos de trabalho nos últimos dez anos.

Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, o cultivo de uva para fins comerciais está presente em 138 municípios paranaenses, com volume de produção de 65 mil toneladas da fruta, entre uva de mesa e uva rústica. Em 2018, o faturamento bruto dos produtores girou em torno de R$ 254 milhões. A fruticultura como um todo representa 2% do faturamento rural do Paraná (R$ 1,7 bilhão por ano).

“Envolvemos todos os elos da cadeia produtiva, da produção à comercialização, para aumentar o sucesso da atividade. A atividade caiu nos últimos anos, mas tem potencial de revitalização”, destacou Alessandra Maria Detoni, pesquisadora do Iapar, que participou da construção do programa. “Formamos uma rede de pesquisa em viticultura. Vamos solucionar os problemas do campo com a introdução de novos cultivares e manejo fitossanitário adequado e subsidiar o trabalho técnico dos agricultores”.

PRESENÇAS – Estiveram presentes no lançamento do programa os secretários João Carlos Ortega, do Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas, e Beto Preto, da Saúde; o presidente da Paraná Turismo, João Jacob Mehl; o diretor-presidente do Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná (ITCG), Mozarte de Quadros; o diretor-presidente da Emater, Natalino Avance de Souza; o diretor-presidente da Adapar, Otamir Cesar Martins; os deputados estaduais Jonas Guimarães, Marcel Micheletto, Hussein Bakri (líder do Governo), Dr. Batista, Delegado Fernando, Evandro Araújo, Wilmar Reichembarch, Emerson Bacil, Luiz Claudio Romanelli, Luiz Fernando Guerra, Nelson Luersen e Cobra Repórter; a deputada federal Luiza Canziani; prefeitos, vereadores e produtores de diversas cidades do Paraná, além de representantes do G7 – que reúne entidades dos principais setores da economia do Estado.

Revitis prevê retomada da cultura do vinho

O Revitis tem como embasamento técnico estudos recentes da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves (RS), que incluíram o Paraná como local de clima indicado para a viticultura.

A partir da classificação climática, as características dos planaltos de Curitiba e de Guarapuava foram considerados semelhantes aos da Serra Gaúcha e da Serra do Sudeste, também no Rio Grande do Sul, onde a produção já se consolidou e obteve reconhecimento internacional.

Essas regiões no Paraná com características de clima úmido, temperado quente e com noites amenas guardam semelhanças com regiões produtoras do Uruguai, Espanha (Galícia) e Itália (regiões de Modena e do Vêneto).

Uma das ideias é estimular a produção de uvas em áreas de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e que sejam declivosas. São áreas da região Centro-Sul de baixa exploração e que podem se tornar rentáveis e produtivas com pequenas áreas plantadas.

Outras regiões no Estado como o Sudoeste, o Norte e o Oeste também apresentam características climáticas ideais para produção de uva de mesa, suco e vinho – Marialva, responsável por mais de 40% da produção estadual, é uma das cidades produtoras mais conhecidas.

O Revitis ainda vai ajudar a impulsionar as atividades de diversas vinícolas já instaladas em Araucária, São José dos Pinhais, Campo Largo, Colombo e Piraquara.

O cultivo de uva e produção de vinho estão presentes no Estado desde o período da colonização por imigrantes europeus italianos e alemães, no início do século 20. A atividade se concentrou na Região Metropolitana de Curitiba até a década de 60, com grandes vinícolas economicamente competitivas, mas houve queda da produção a partir dos anos 70.

Entre os motivos desse hiato produtivo estão pragas que causaram quedas acentuadas de produtividade e, em muitos casos, perdas totais nos parreirais; e valorização do mercado imobiliário no entorno da Capital, o que deixou os terrenos muito caros para viticultura. Também houve o fechamento de uma unidade de pesquisa, deixando o setor carente de tecnologia.

Com o apoio da assistência técnica rural do setor público e do desenvolvimento da pesquisa no Estado, novos parreirais destinados a uva de mesa, suco e vinho foram instalados em outras regiões do Paraná nas décadas de 70, 80 e 90.

Uvas de Marialva já têm indicação geográfica

Marialva, capital da uva fina

Marialva, cidade do Noroeste do Paraná, é a maior produtora de uva do Estado, responsável por mais de 40% do total produzido. De acordo com a Associação Norte-Noroeste Paranaense dos Fruticultores (Anfrut), são pelo menos 700 produtores e 570 hectares de parreiras que cultivam as variedades Brasil, Benitaka, Rubi, Itália, Núbia e Vitória.

O perfil do solo, as condições climáticas e as técnicas de plantio dos produtores possibilitam produção perene durante todo o ano, características que foram essenciais para garantir a Indicação Geográfica da fruta.

A história do município com as uvas começou na década de 1960, com os descendentes japoneses da região. Com o tempo, as terras vermelhas começaram a ficar invalidadas pelas monoculturas mecanizadas, por isso houve grande incentivo para que a uva ganhasse mais espaço. Atualmente cerca de 5,5 mil pessoas trabalham diretamente no cultivo, com outros 7,5 mil empregos indiretos.

O Paraná está entre os estados com o maior número de produtos certificados ou em processo de certificação de Indicação Geográfica, atrás apenas de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Os chamados produtos de origem são aqueles com característica diferenciada por serem produzidos em uma região ou território específicos. A uva fina de mesa de Marialva é um deles.

No Paraná, o processo de certificação iniciou com o Sebrae-PR, que fez um diagnóstico em 2013 para identificar potenciais produtos que pudessem ser reconhecidos por sua origem, e passou a orientar as indicações. Órgãos da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, como a Emater e a Agência de Defesa Agropecuária (Adapar), dão apoio e assistência técnica aos produtores.

Além da uva fina de mesa de Marialva, já receberam a certificação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o café do Norte Pioneiro, a erva-mate de São Mateus do Sul, o mel de Ortigueira e do Oeste do Paraná, a goiaba de Carlópolis, e os queijos da Colônia Witmarsum, em Palmeira. (AEN)

(Foto: Viaje Paraná)

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