Ciência e negacionismo

Ultimamente, o mundo e o Brasil em especial, tem enfrentado uma situação de confronto ao fato científico, em algumas áreas, tais como ciência, meio ambiente, saúde, entre outros, que obviamente nos tem custado muito caro, uma vez que diante de uma população majoritariamente com limitados conhecimentos e capacidade de discernimento em várias áreas do conhecimento, curvam-se ao famigerado e nefasto negacionismo.

Lamentavelmente, as gêneses destes fatos negacionistas são oriundas a partir de um núcleo gestor da maior hierarquia administrativa do país e de suas assessorias e grupos filiados, justamente de onde deveria ocorrer exatamente o contrário, ou seja, os fatos embasados na clareza da ciência e dos fatos científicos, excluindo-se o perverso autocratismo vinculante ao processo. 

No Brasil, apenas como exemplo cotidiano podemos abordar uma questão bastante oportuna, relacionada a saúde (Covid-19), e sobre a qual, as posições negacionistas oficiais ou não, tem custado muitas vidas e infindáveis sequelas pelas décadas futuras, e cujas responsabilidades criminais nunca terão atribuições, embora as autorias demandadas sejas fatos concretos e de autorias conhecidas.

Em termos de propagação e tratamento da Covid-19, é evidente e de domínio público que as grotescas argumentações negacionistas, mesmo não possuindo nenhum procedimento com base científica, têm encontrado adeptos ferverosos em suas pregações. Entretanto, diante do confronto pró e contra o fato científico, parte da população pouco esclarecida, muitas vezes preferem ficar escudado na dúvida e não raro, no conforto do imobilismo, aderindo a inverdade e engrossando o primitivismo empírico.

Ainda, no caso da Covid-19, talvez inconscientemente para muitos, seria mais fácil renegar a ciência que se encontra mais distante dos mesmos, assim como seria mais cômodo como justificativa em burlar as regras impostas pelos cuidados pessoais para evitar-se o contágio (máscaras, asseio, distanciamento social, confinamento, etc.). Da mesma forma renegar a vacina, sob justificativas tão aberrantes e inverídicas propagadas pelas “fake news” e pelos negacionistas, representam na realidade resquícios de nossa mente encruada, em sua volta as nossas origens neandertais. Sequer entendem o espírito coletivo do processo de vacinação e o veem apenas como uma defesa unilateral de sua própria proteção individual.  

Infelizmente, embora haja uma grande maioria neste espectro populacional, é até curioso observar que tal comportamento prolifera inclusive no próprio meio científico, onde pseudocientistas apresentam crises de demências e passam a disparar teorias conspiratórias negacionistas. Isto seria também a propagação de um novo vírus?

Certamente, não podemos mancomunar com tais fatos, uma vez que o preço que pagaremos será incalculável e irrecuperável em termos de dívida humanitária, não somente nos meandros da ciência, assim como em todo o seu entorno evolutivo conquistado há cerca de milhões de anos de avanços científicos.

O negacionismo que estamos vivenciando por parte de alguns, em suas evidências mais banais como a negação científica de uma simples vacina, são resultantes de distorções de valores técnicos científicos e são agravadas por precursores distorcidos de uma educação ineficiente, desde a formação de valores fundamentais de vida, até a formação do que se presta a ciência. Minimamente, negar-se a um processo de salvaguardas comportamental coletivo, tais como a utilização recíproca de máscaras e da submissão a uma simples vacina, significa meramente renegar e não compreender os princípios básicos que remontam às próprias origens.


(*) Carmino Hayashi – Biólogo, Doutor em Ciências, professor universitário e pesquisador científico em Ciências Ambientais e Sustentabilidade / e-mail:hayashi@terra.com.br

(Foto: Pixabay)

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