crônica

Crônica

Os sentidos do amor

Amor

Por João Batista Leonardo:

O amor é um sentimento bom, nasce no âmago, frutifica nas ações. Mostra-se até numa mínima manifestação como no tombo da gota, na mansidão da amamentação, no zumbir dos ventos. Com os poetas e pensadores, embeleza pensamentos, versos e escritas. Faz parte das almas pacíficas que entendem nele a força e brandura frente aos atropelos diários. É arma potente para quebrar barreiras e sentir a gratificação da vitória.Continue lendo ›

Opinião

Crônica de um operado de hemorroidas

planeta

De Zé Roberto Balestra, cinco anos atrás:

Eu, simplesmente eu, descobri em apenas três dias, após 56 anos, que ambos estavam redondamente enganados: o centro do universo é o cu. Isso mesmo, o cu!
Operei de hemorroidas em caráter de urgência algumas semanas atrás. No domingo à noitinha, o que eu achava que seria um singelo peidinho, quase me virou do avesso. Leia na íntegra.

Crônica

Somos míopes diante da bondade alheia

xisAnos passados e eu perambulava, como já contei procês, nas ruas de Curitiba, vendendo bijujas nos semáforos, para arrumar algum dinheirinho para fazer frente ao meu tratamento. Não é apenas falha da Saúde Pública, mas as doenças degenerativas raras, mundialmente são poucos os investimentos em pesquisas de condutas, tratamentos e remédios e enfim eu tinha que chacoalhar o arreio, morder o bridão e seguir na batalha…mas o começo foi tortura de chinês traído. Era muita bronca pra quem só queria trabalhar feito eu.Continue lendo ›

Crônica

O milagre do arroz

Ilustração

Dos dias em que vejo destruírem minha Pátria por pura vaidade, dias tristes
de alegres e vesgos porcos eleitos, Deus me enviou Anjos
e tais Anjos me presentearam um livro
E o livro, presente de amor, narra a misericórdia
pelo Amor

((Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio…))Continue lendo ›

Crônica

Zika, a talidomida orgânica

Ilustração

Na pobre ética política praticada em nosso país, os créditos das inaugurações, que conseguem unir num só evento, o maior nível de pelegos por centímetro de risoles quadrados do mundo, a um número surpreendente de oportunistas ávidos por uma dica de concorrência, desde que seja pública, pois a fatura, nos acertos é creditada aos mandatários eleitos, e, em efeito trágico, a conta vem nas guias de nossos impostos.
Não temos, enquanto cidadãos, o direito a ampla defesa, nem o benefício da dúvida, mas na mesma dúvida, imposto que vence no sábado, tem que ser pago na sexta-feira.Continue lendo ›

Crônica

A crise que podemos evitar

Ilustração

Anos atrás, na Lapa (PR) fui visitar o túmulo de Seo Abbas Salim Abulkaliq, meu avô, e da minha amada avó, Dona Erna Pasche Salim. Meu avô, imigrante libanês Druzo, por décadas foi barbeiro na pequenina Lapa, e Dona Erna cobria botões dos vestidos das moças da cidade.
Meu querido Abbas, deixou sábia herança. Ele certa vez comprou um terno bem bonito na Pernambucanas, porém só o vestiu para sair quando pagou a última prestação do carnê. Continue lendo ›

Crônica

“No Natal eu fui apresentado ao Cristo Jesus”

Ilustração

Do Velho Gagá:

Alguns anos atrás, eu perambulava pelas ruas de nossa capital, Curitiba, entre uma internação e outra, com uma caixa de jujubas nas mãos, para vendê-las e assim prover alguma melhora na qualidade de vida dos meus dias.
Jamais deixei de subir a ladeira da rua Ermelino de Leão nas sextas, para cumprir minha obrigação religiosa na Mesquita Imam Ali ibn Abi Talib (A.S.) e na Husseanie (local de reza e estudos xiitas da escola Duodecimal).
Sou um dos poucos ainda vivos, descendente do povo Druzo cuja escola Islâmica é xiita.Continue lendo ›

Crônica

Minha delicada obsessão

De Beliza Farias Coelho:
É bem possível que eu entre em uma loja de sapatos e saia exatamente da mesma forma que entrei, apenas com aqueles que calçam meus pés. Agora, quando entro em uma livraria, dificilmente conseguirei sair de mãos vazias. Guardo comigo uma lista escrita e mental dos livros que ainda quero ler, sem contar aqueles que me surpreendem com suas cores, letras e prefácios pelas prateleiras.
A curiosidade em ler cada boa palavra escrita faz transbordar meu coração de euforia. Se eu pudesse, pedia para parar o mundo de vez em quando, só para ler horas seguidas despreocupadamente, longe das tarefas do dia-a-dia.Leia mais.

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Viver além dos rótulos

Beliza Farias CoelhoDe Beliza Farias Coelho (foto), que todas as terças-feiras publica um texto novo no blog A Prosa do Cotidiano:

Tenho reparado nessa nossa tendência em definir as pessoas com as quais convivemos, os sentimentos que nutrimos por elas ou determinadas situações, sendo que, por vezes, ao nos deparamos com a incapacidade de fazê-lo, chegamos a desistir da vivência que podem nos oferecer.
Quantas pessoas titubeiam ou deixam de experimentar uma linda relação amorosa pela ausência do casamento. Realmente acredito que essa instituição é importante, por diversos fatores que não vêm ao caso, mas ele deve acontecer naturalmente, pela simples e íntima decisão de dois seres em partilhar as alegrias e as mazelas do dia-a-dia. Leia mais.

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Linda flor

padreorivaldoNesta semana, explicando sobre atendimento preferencial, a jovem funcionária quis saber se eu tinha 60 anos. Devolvi-lhe um sorriso de indulgência. Não me senti lisonjeado. Acho que ela quis ser delicada. Ou sentiu pena de mim. Não precisava. Não tenho problema com idade. Impossível esconder o estrago que os anos fazem. Inútil simular mocidade que não temos mais. Além de que certos fatos revelam o que vivemos. Como a entrevista de Paulo Roberto Pereira de Souza, ex-reitor da UEM, que li nestes dias. Reavivou-me uma enxurrada de lembranças.
Conheci Paulo Roberto em 1967, estudante no Gastão Vidigal, onde eu lecionava, mas não para sua turma. O Gastão reunia um quadro de professores admiráveis. A exemplo de Ary de Lima e Aniceto Matti, autores de letra e música do Hino a Maringá. Ou Darcy de Carvalho, José Hiran Salée, Walter Pelegrini, Renato Bernardi, Leila dos Santos, Ester Gonçalves, Henrique Ortêncio, Antônio Carlos Braga… Esses e dezenas de outros, já na casa do Pai. Sobreviventes, apenas septuagenários. Como eu, que nunca me senti admirável.Continue lendo ›

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Desculpe, sim?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldo“Homo sum, humani nihil a me alienum puto” (Sou homem, nada do que é humano eu considero estranho a mim). A sentença é de Terêncio (185-159 a. C.), poeta e dramaturgo romano. Posto no fim da oração, como é praxe em latim, um curioso verbete nada tem a ver com o que algum apressadinho imaginou. É só a primeira pessoa singular do modo indicativo do verbo “putare”, sinônimo de pensar, achar, considerar. Terêncio afirmava que, sendo humano, ele não se via como melhor do que ninguém. Qualquer falta cometida por alguém ele também poderia cometer.
Aprendi essa verdade na infância. Estou convencido que não existe barbaridade praticada por outrem que eu não possa repetir. Não sou melhor que os outros. Nem tinha por quê. Estou sujeito ao erro como qualquer mortal. Continue lendo ›

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Gente importante

padreorivaldoComentei, outro dia, o retiro espiritual que fizemos no mês passado. O pregador impressionou pela vastidão de conhecimentos e pela propriedade de colocações sobre nosso papel de servidores do povo de Deus. Dia 20 p. p., a CNBB informou que o papa Francisco o nomeou membro da Pontifícia Comissão Bíblica de Roma. Seu nome é padre Luís Henrique Eloy e Silva. É doutor em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, professor universitário em Belo Horizonte, membro da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e coordenador da equipe de revisão da Bíblia da CNBB. Depois dos cursos superiores de Filosofia e de Teologia, já padre, estudou mais oito anos na Europa (mestrado e doutorado). Tem formação musical, toca piano e fala oito línguas além do português. No Brasil e no Exterior disputam-no para conferências, palestras e pregações. E aí, é fraco o cidadão? Continue lendo ›

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É vergonha pedir comida?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEnquanto a mãe vivia, todos os domingos eu almoçava com ela e os de casa. Depois que morreu, mantenho o costume. Para preservar o que sobrou da família. Dos sete que mudamos para cá em 1957, sobramos quatro. Por quanto tempo ainda?
Domingo passado, como sempre, minha irmã acompanhou-me até ao portão. Dois homens de média idade, maltrapilhos e barbudos, pediram comida. Não eram daqui, mas de Cianorte, disseram. Acrescentaram: “É melhor pedir que roubar”. Enquanto minha irmã voltava para lhes preparar o que tínhamos na mesa, dirigi-me a eles: “Não é vergonha pedir um prato de comida”. Agradeceram efusivamente. Notei que ficaram surpresos. Talvez ninguém lhes fale de modo amistoso.
Anda muito confuso este nosso velho mundo. No passado, todos sentiam gosto em dar comida a um pobre. Mesmo que nunca tivessem ouvido o nome de Jesus, intuitivamente percebiam a correção daquele “Quem vos der de beber um copo d’água porque sois de Cristo, não ficará sem recompensa” (Mc 9,41). Ou daquele “Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).Continue lendo ›

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Retiro espiritual

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoSemana passada, fizemos nosso retiro espiritual. Todo ano, reservamos quatro dias para refletir sobre nossa vida de ministros de Deus. Ministro é quem serve. O padre serve a Deus prestando serviço aos irmãos.
Ninguém vira padre da noite para o dia. Passamos tempo mais ou menos longo de preparação. Antigamente começava no seminário menor, para o qual entrávamos aos dez, doze anos. Entre nós, poucos são desse tempo. Apenas os padres Banki, Telles, Almeida, Julinho e este escriba. Dom Anuar costuma chamar-nos de anciãos. Depois do Concílio Vaticano 2º (1962-1965), os candidatos começam pelos cursos superiores de Filosofia e Teologia (oito anos). Os anciãos, que fizemos seminário menor, tivemos uma preparação mais longa. Foram não oito, mas catorze anos.
Retiro espiritual é uma antiga prática espiritual da Igreja. É a busca de maior intimidade com Deus. A gente se retira da vida de todos os dias para, no silêncio e na oração, examinar a resposta que estamos dando ao que Deus espera de nós. O retiro é orientado por um pregador, que propõe aos retirantes o tema da reflexão pessoal.Continue lendo ›

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Eleitor, pense bem

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoSe bem me lembro, neste espaço, falei já de Benedito Valadares, folclórica raposa mineira para quem política é como nuvem: você olha, é uma coisa; olha de novo, já é outra bem diferente. Ontem como hoje, veem-se aos abraços desafetos políticos que, há não muito tempo, se ameaçavam de morte. Não é reconciliação cristã, não; apenas acomodação de interesses.
Noutros países não sei, mas no Brasil política é a habilidade de abandonar o barco ao primeiro sinal de naufrágio. E de rumar bem depressa para outro mais seguro. Gente do mar conhece isso como procedimento de ratos. Sem risco de erro, pode-se garantir que a maioria dos nossos políticos tem em mente apenas a conquista do poder. “Mas não é o objetivo da política?”, perguntarão. Sim, mas para quê? Os nossos, em sua maioria, querem o poder para se ajeitar na vida. “Bem comum”, para eles, é pura balela.Continue lendo ›

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Estes também votam

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEra minha intenção expor ideias que me ocorrem especialmente no período eleitoral. Coisas assim:
1. Coragem ou cara-de-pau de uns que pleiteiam cargos eletivos. Ou confiam demais no próprio taco, ou dispõem de muito dinheiro para jogar fora, ou, quem sabe, padecem de orgulho patológico, que os leva a se acharem o último biscoito do pacote. A menos que pratiquem artimanhas desconhecidas de cidadãos ingênuos, como eu.
2. Trinta e dois partidos políticos. Vai saber se não chegarão a 38, 42 ou 50? Será que espelham mesmo 32 distintas propostas de condução do país? Ou meros artifícios para fatiar o bolo do poder? E a “genialidade” de 39 ministérios? Lúcio Costa projetou a Esplanada com 17 prédios, mais do que suficientes.
3. Político profissional. É a carreira mais cobiçada, ao lado de futebolista de sucesso ou banqueiro. Por que todos querem agarrar-se ao poder até à morte? Por que fazem de tudo para colocar os parentes na mesma “profissão”? Em todos os Estados do Brasil existem cônjuges, irmãos, filhos, sobrinhos, netos, até cunhados no caminho do coronel da família. Dizem que o poder é afrodisíaco. Deve ser.
Pensava trazer ao leitor uma reflexão nessa linha. Mas tive a atenção desviada para algo mais banal. E deprimente. Que acontece bem diante do nosso nariz.Continue lendo ›

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Quando vale a pena imitar

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoNa última edição do “Bem, amigos” perguntaram a Levir Culpi a diferença entre ser técnico de futebol no Japão, onde trabalhou muitos anos, e no Brasil. Embora atento ao horário do programa, ele disse que as três primeiras palavras japonesas que ouviu num vestiário foram: “com licença”, “desculpe” e “obrigado”. No Brasil, o que se ouve, em vestiário ou fora dele, são três palavrões cabeludos, que ele falou, mas não tenho coragem de reproduzir. É a diferença entre povo que valoriza a educação e povo para o qual educação não passa de tolice ou frescura.
No interior paulista, quando criança, vi poucos japoneses, nisseis ou sanseis. Aqui, conheci pessoas de olhos puxados, cabelo liso, voz mansa e sorriso doce. Em geral, educadas.Continue lendo ›

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Racismo faz mal

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoO racismo pode fazer um mal maior ao seu autor do que à sua vítima. Aquela torcedora do Grêmio de Porto Alegre teve a infelicidade de ser filmada enquanto gritava “macaco” para Aranha, goleiro do Santos, na partida entre as duas equipes, quinta-feira passada. Ela estava no meio de um grupo atrás da meta defendida pelo santista, que, visivelmente irritado com as injúrias recebidas, foi reclamar ao árbitro interrompendo a partida aos 42 minutos do segundo tempo. A imagem espalhou-se pelo Brasil inteiro, talvez pelo mundo. Não há como desmentir nem defender uma interpretação diferente. Até um cego de olhos vendados é capaz de entender aqueles três movimentos labiais destacados e inconfundíveis. A moça não só ofendeu a vítima, mas o fez aos gritos, no volume mais alto que podia.
Ela é um dos dois sócios reconhecidos e afastados do quadro social do clube dos pampas. Perdeu o emprego na empresa terceirizada, que prestava serviço à Brigada Militar da Polícia Militar Gaúcha. Teve a casa atingida por pedras atiradas por gremistas receosos da punição que o clube poderia vir, como realmente veio, a sofrer. São consequências dolorosas de uma atitude infeliz, que tem chance de ainda provocar mais dissabores.Continue lendo ›

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Melhor idade?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEnsina a filosofia do irmão da estrada que na escola da vida não há férias. Desde que nascemos entramos em processo de permanente aprendizado. Seguimos aprendendo até ao dia da nossa morte. Morrer é, na verdade, a última lição do curso. Quando ela chega, deveríamos sabê-la direitinho. Afinal, tivemos toda a vida para estudá-la. Não é, infelizmente, o que acontece. A maioria nem quer ouvir sobre ela. Se há uma lição a cuja aula a gente faz questão de faltar é essa.
Dom Murilo Krieger tinha o costume de dizer: “Morro e não vejo tudo”. Queria deixar claro que podemos ter uma experiência, antes não pensada, que supúnhamos impossível. Porque, queiramos ou não, a vida ensina. Quanto mais tempo a gente acumula na sacola, tanto mais vai também ajuntando conhecimentos. Por isso, aos velhos costuma-se atribuir maior sabedoria que aos jovens. Se bem que, em nossos dias, as pessoas não se mostrem interessadas em sabedoria. Muito mais parece se interessarem por dinheiro, beleza e juventude.
Diógenes (412 a. C. – 323 a. C.) de Sinope, da Grécia (não Sinop, do Mato Grosso), filósofo, exilado de sua cidade, instalou-se em Atenas. Foi viver num tonel ou barrica, a cuja frente ergueu uma placa com o anúncio: “Vende-se sabedoria”. Coitado, estivesse hoje no Brasil, iria morrer de fome, com certeza.
Vivemos a era das aparências que fascinam. Dos brilhos sedutores que dão a impressão momentânea de oferecer uma felicidade que nunca terá fim. Entretanto, como a vida é cambiante, cheia de surpresas e novidades, em pouco tempo, já pensamos em mudar de novo. Parece difícil admitir que algo seja definitivo. Queremos que tudo seja substituível, descartável. Até as pessoas. Talvez nunca, como hoje, os casais tenham trocado tanto de companheiro (a).
Não é possível entender como regra absoluta, mas parece que, quando a mulher procura outro, está interessada num mais rico; o homem, numa mais bonita. Dinheiro e bela aparência foram elevados à categoria de valores imprescindíveis. Ainda assim, menos apreciados que juventude, esta, sim, objeto do desejo de dez entre dez pessoas consideradas normais. A fase que atravessamos é bastante curiosa. Nunca as pessoas desfrutaram, como agora, de vida tão longa. Ao mesmo tempo, nunca apreciaram tanto a aparência de jovem sarado (a). Ser (ou somente parecer) jovem tornou-se um ideal a conquistar, qualquer que seja o custo. Chegamos a esta incoerência: ninguém quer morrer jovem, mas também não quer ficar velho.
De todos os mal-estares da vida seguramente nenhum é pior que a velhice. Para a maioria das pessoas, nela reside a desgraça maior. E não há como evitá-la. Ela vem de braço dado com um bando de más companhias, as temidas doenças. Por mais que se disfarce ou dela se evite falar, a velhice vai inevitavelmente instalando-se no corpo da gente. Não há força capaz de impedir.
Dos idosos espera-se sabedoria, não é? Melhor, então, deixarmos de fingimento e piedosas mentiras. Qual o sentido de expressões como “melhor idade” ou tolice semelhante? Melhor para quem? Para os laboratórios produtores dos remédios de uso contínuo, que precisamos tomar? Nenhum idoso inventou essa bobagem, tenho certeza.
Vamos aceitar, com serenidade e gratidão, que a velhice nos alcance. Mas não permitamos que se instale em nosso espírito. No corpo já está de bom tamanho.

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Lei para regular o óbvio

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoNão tenho culpa de ter nascido em outro tempo. Nem de, por isso, carregar lembranças que vêm de longe. Hoje a meninada recebe, a cada momento, um bombardeio de informações novas, que nem consegue processar. Tudo é engolido num jato, sem reflexão. Pergunte a um garoto: “Que lhe aconteceu ontem?” “Nada”, ele dirá. Teve tantas vivências que não conseguiu deter-se em nenhuma.
Não sei quanto às crianças de hoje; para os que fomos meninos outrora, as experiências eram marcantes. Poucas, nascidas de fatos comuns, mas vividas com intensidade. Formaram um bloco de recordações que se tornaram parte do nosso ser. Marcaram-nos para o resto da vida.
Lembro o ano de 1952. Na volta da escola, esperando o ônibus no Bar do Donda, no rádio da parede eu escutava o Repórter Esso, “testemunha ocular da História”. Continue lendo ›

Crônica

Nosso Dom João

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoDom João Braz de Aviz, terceiro arcebispo de Maringá, enviou-me da Itália, por meio de Dom Anuar, o seu livro “Das periferias do mundo para o Vaticano”. Tem como subtítulo “Minha história rumo à Igreja de amanhã”. Acaba de sair do forno, em italiano. Será traduzido para o português, na forma de entrevista conduzida por Michele Zanzuccchi, diretor da revista “Città Nuova”. Aviz, hoje cardeal, vive no Vaticano, onde é prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e para as Sociedades de Vida Apostólica. Não há como falar dele sem lembrar o tiro que levou em 1981. Foi a primeira coisa que procurei no livro. Está no capítulo intitulado “Estou vivo por milagre”. Não há como discordar.Continue lendo ›

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Canção para meu pai

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEsclareço que não sou compositor. Para isso não tenho talento. Se tivesse, eu lhe escreveria a mais caprichada canção. Sempre que aparece oportunidade, comento sobre quanto nos marcou a figura do homem franzino e calmo – calmo demais para um espanhol – a quem chamávamos pai. Para as pessoas de fora sou o filho que mais fala sobre ele. O amor e o respeito, no entanto, que merece um verdadeiro pai, os cinco nunca deixamos de consagrar ao nosso velho. A rigor, nem tão velho: morreu mais jovem do que eu sou hoje.
Não me preocupa nem um pouco que percebam como sou sensível. Ou “manteiga derretida”, conforme o povo diz. De vez em quando, sinto vontade de escutar “Mi viejo”, composição de Piero y José. Em português existe como “Meu velho”, versão de Nazareno de Brito, conhecida na interpretação de Altemar Dutra. Prefiro a original, aquela que no 3° Festival da Canção de Buenos Aires, em 1969, apresentou um Piero ainda seminarista, de batina e colarinho romano. Dependendo da hora, quando a ouço, me acaba vindo aos olhos alguma lágrima intrusa, que não dei conta de segurar.Continue lendo ›

Crônica

Os descartáveis

padreorivaldo Sábado passado, depois de noticiar que na Faixa de Gaza o conflito entre palestinos e israelenses tinha produzido 1000 mortos em dezenove dias, o âncora de um noticiário de TV comentou: “O mundo inteiro sente-se horrorizado com tanta violência. Enquanto isso, no Brasil, 3000 pessoas são assassinadas mensalmente e ninguém fala nada. O Brasil produz três Faixas de Gaza por mês e achamos uma coisa normal”. Dita dessa forma, a afirmação nos golpeia com a brutalidade de um soco na cara. Contudo, o quadro é mais assustador.
O Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, registrou em 2012 (último dado disponível) 56.337 assassinatos no país, cifra jamais atingida anteriormente. Quer dizer: 4690 pessoas morrem, todo mês, de morte “matada”. Essas, as conhecidas. Mas longe dos grandes centros as informações são deficientes. Terá havido comunicação de todas? Digo o registro, não esclarecimento ou solução. Nossa realidade possivelmente seja bem pior do que a descrita.Continue lendo ›

Crônica

O novo e o velho

Do padre Orivaldo Robles: padreorivaldoCom exceção da terça-feira, todos os dias salto da cama às 5h45. Às 6h00, dou uma olhada rápida nas notícias da Internet. Depois saio para a Catedral onde procuro, na oração da manhã, juntar fé e vida. Vez por outra surge um informe interessante, embora incapaz de mudar o rumo do nosso mundo sem juízo. Como a nota, outro dia, da volta à fabricação, nos Estados Unidos, do LP (long playing record), que a meninada nem sabe o que é. Sobrevive entre nós quem prefira os antigos “bolachões” tocados na radiola, pickup, radiovitrola, toca-discos ou, simplesmente, vitrola. Diz que o som é mais fiel que o do CD, DVD, Mp3 ou de outras invenções que desisti de acompanhar. E eu que julgava um transtorno acomodar meus 700 LP perfeitos, sem arranhão nenhum! Tive o bom senso de não me desfazer também do pickup Polyvox, da potência Akai e das caixas Celebration. Podem considerar-me o zelador de algum museu, não ligo. Importante é que funcionam que dá gosto. Gostei de ler (DNP, 13/07/2014, Cultura, pág. D1) que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967, é o primeiro dos 200 álbuns do Rock and Roll Hall of Fame. Tenho esse CD.Continue lendo ›

Crônica

Deu a lógica

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoPeço a paciência de me permitirem, ainda uma vez, tocar no assunto. Perder uma Copa do Mundo é aceitável. Inaceitável foi a postura dos nossos atletas nas duas partidas finais. Não é a primeira vez que disputamos um 3° lugar. Em 1938 eu não era nascido. Em 1974 eu assisti e, pelo que o Brasil apresentou, o 0x1 contra a Polônia (gol de Lato) ficou de bom tamanho. Nesta Copa de 2014 apontavam-se como possíveis campeões Espanha, Alemanha, Holanda, Argentina e Brasil. Alguns arriscavam ainda França, Itália, Uruguai e Portugal. Analisando friamente, deu a lógica.
O que nos fará passar vergonha por cem anos é o modo como tudo aconteceu. A conquista da Copa das Confederações, ano passado, deve ter convencido nossos dirigentes de que a Copa do Mundo estava no papo. Não perderam a pose nem quando conseguimos passar da primeira fase com as calças na mão. Ainda bem que era possível empatar, senão o México… não sei, não. Contra o Chile tivemos sorte, nada mais.Continue lendo ›

Opinião

Anjos ou demônios?

De José Luiz Boromelo:
Copa do Mundo 2014A participação da seleção brasileira na Copa do Mundo de futebol 2014 terminou de forma melancólica. Após a derrota humilhante para a ótima equipe alemã, nossos jogadores não deram conta da eficiência de Van Persie, Roben e companhia na disputa pelo terceiro lugar da competição. O orgulho verde-amarelo foi ofuscado pela saraivada de gols (10 em dois jogos), sem direito a reclamações. O inexplicável “apagão” de seis minutos que acometeu nossos futebolistas não deixa dúvidas de que algo precisa ser feito para se mudar radicalmente a forma de gestão desse esporte que atrai, encanta e apaixona pessoas em todo o planeta. De nada adianta apontar os responsáveis pelo fracasso acachapante, mas é imprescindível identificar e corrigir os erros cometidos, uma forma de mostrar ao torcedor que os cinco títulos mundiais haverão de ser honrados nas próximas edições do evento.Continue lendo ›

Crônica

Um dia para esquecer

padreorivaldoDo padre Orivaldo Robles:
A derrota por 7×1 para a Alemanha, terça-feira passada, a mais humilhante de uma semifinal de Copa do Mundo, fez lembrar episódio que, lá na minha infância, ouvi de Padre Edwin Smeets. De 6 de março de 1953 a 27 de dezembro de 1957, estudei no seminário de São José do Rio Preto (SP), dirigido por padres holandeses. Nesse período houve a Copa de 1954, da fatídica “batalha de Berna”, Suíça, em que sofremos aqueles 4×2 a nós impostos pela Hungria de Grosics, Czibor, Kocsis, Bozsik e, acima de todos, de Puskas, lenda do futebol mundial.
Em 1950, ano do “maracanazo”, o Brasil já dispunha de apreciável valor futebolístico. Prova-o a construção do Maracanã, então o maior estádio do mundo. Estados Unidos, Canadá, Caribe e América Central não tinham futebol de expressão, mas Europa, América do Sul e México recebiam times brasileiros, que por lá excursionavam colhendo excelentes resultados.Continue lendo ›

Crônica

Um padre na balada

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoFazia 73 anos que eu não entrava numa casa noturna. Dessas que organizam noitadas tão do gosto da nossa moçada baladeira. Pelo menos não entrava numa em funcionamento: gente elegante às pampas, som nas alturas, conversa aos gritos, bebida à escolha e à vontade, salgadinhos de fino gosto, essas coisas. Eu tinha estado numa, sim, faz tempo, mas de dia, junto com o proprietário, que lá me levou para dar uma bênção às instalações. Evidentemente, estava vazia àquela hora. Nem sei se ainda está em atividade. Estabelecimentos dessa natureza abrem e fecham com rapidez surpreendente.
A casa a que me dirigi, segundo fui informado, vem bombando na noite maringaense. Nunca tive curiosidade de saber o que fazem ou como se comportam as pessoas lá dentro. Quando comentei que, à noite, estaria lá, um jovem amigo pôs-se a troçar de mim: “O que, hein! Como as coisas mudam. Padre agora frequenta balada, é?”. Não exatamente. O que houve é que o diretor comercial do DNP pediu-me que lá comparecesse na noite do último dia 25 de junho para fazer uma oração de ação de graças e dar a bênção pelos 40 anos de existência do jornal. Só isso.Continue lendo ›