O BNM teve três principais objetivos: evitar que os processos judiciais por crimes políticos fossem destruídos com o fim da ditadura militar, tal como ocorreu ao final do Estado Novo; obter e divulgar informações sobre torturas praticadas pela repressão política; e estimular a educação em direitos humanos.
A partir do exame de cerca de 850 mil páginas de processos judiciais movidos contra presos políticos, foram publicados relatórios e um livro de igual nome (Editora Vozes, redigido por Frei Betto e Ricardo Kotscho) retratando as torturas e outras graves violações a direitos humanos durante a ditadura militar brasileira.
As principais informações foram obtidas a partir dos depoimentos prestados pelos réus no âmbito dos tribunais militares. Com efeito, quando interrogados em juízo, diversos acusados denunciaram e detalharam as práticas de violência física e moral que sofreram ou presenciaram enquanto presos.
Essa, aliás, é uma das ideias geniais do BNM: o uso de documentos oficiais do próprio Estado para comprovar a prática reiterada e institucionalizada da tortura como ferramenta de investigação e repressão durante a ditadura.
Frei da ordem franciscana, foi nomeado Arcebispo de São Paulo em 1970, cargo que exerceu até 1998. Sua atuação contra a repressão política ganhou destaque a partir de 1969, quando defendeu os seminaristas dominicanos presos por ajudarem militantes opositores do regime. Desde então tornou-se um ícone na luta contra a ditadura, organizando redes de proteção a perseguidos políticos e enfrentando os governos militares que tentavam coibir sua atividade sacerdotal e cívica. Coordenou de forma clandestina, junto com Jaime Wright, o projeto BNM. Faleceu em dezembro de 2016.
Filho de missionários norte-americanos, era pastor presbiteriano. Adotou o Brasil como sua casa para viver e trabalhar. Desde o início dos anos sessenta notabilizou-se pela denúncia de violações aos direitos humanos, especialmente da população pobre e trabalhadora. Em 1973, seu irmão, Paulo Wright, deputado estadual cassado por Santa Catarina e militante de esquerda, desapareceu nos porões da ditadura. Jaime partiu, então, para uma luta contra a tortura e os assassinatos praticados pelo Estado. Recebeu de Eny Raimundo Moreira e Charles Roy Harper Junior a ideia de realizar o BNM. Uniu-se a Dom Paulo Evaristo Arns e, juntos, assumiram a coordenação e o risco do projeto. Faleceu em 1999.
É uma das idealizadoras do BNM. Advogada, à época integrava a equipe do escritório de Sobral Pinto, no Rio de Janeiro, um dos endereços mais procurados para oferecer apoio jurídico a perseguidos políticos, vítimas de torturas e maus-tratos, e a familiares de desaparecidos políticos. Preocupada com a eventual destruição dos arquivos dos processos judiciais que registravam a repressão política, propôs a Charles Harper e a Jaime Wright a realização do projeto, o qual acompanhou até o final.
Pastor brasileiro ordenado nos Estados Unidos e membro do Conselho Mundial de Igrejas em Genebra. Viabilizou o apoio financeiro para organizações e ativistas da resistência política, refugiados e torturados pelos regimes de exceção. Teve papel fundamental na obtenção dos recursos financeiros para a concretização do BNM. Organizou e catalogou os registros de matérias veiculadas na imprensa brasileira e internacional, reunidos pelo reverendo Jaime Wright durante anos. Faleceu em maio de 2016.
Coordenou o trabalho de compilação dos documentos do BNM que resultou na elaboração do relatório do BNM e na publicação do respectivo livro, a convite de Dom Paulo Evaristo Arns. Foi preso político durante a ditadura. Seu primo, Alexandre Vannucchi Leme, foi um dos líderes estudantis assassinados pela repressão.
O acervo do site é composto pelo Relatório BNM, 710 processos do STM, Documentos do Conselho Mundial de Igrejas e Documentos da Comissão Justiça e Paz.
Se precisar de informações sobre como pesquisar, clique aqui.
A equipe do BNM Digital elaborou um resumo de cada processo BNM. Acesse essas informações, com enlaces para as páginas principais dos 710 processos do STM.
Consulte quadros sinóticos de informações elaborados pela equipe original do BNM, os quais destacam diversos aspectos relevantes do projeto BNM.
Você também pode baixar os arquivos do acervo do site:
Relatório, quadros e tabelas 185 MB
Acervo do Conselho Mundial de Igrejas 312 MB
Comissão de Justiça e Paz 50 MB
Nos processos do BNM encontram-se diversas fotografias de manifestações populares e personagens relevantes de nossa história, alguns conhecidos e muitos anônimos. O Armazém Memória, parceiro do BNM Digit@l, fez uma seleção dessas fotos, organizadas em 6 álbuns que são aqui apresentados. Além delas, há duas coleções especiais: uma contendo exposição sobre o BNM preparada pelo CEDIC da PUC-SP, e outra como forma de homenagem aos colaboradores do projeto que fizeram as cópias dos processos originais do Superior Tribunal Militar e deixaram, em algumas flagrantes, a imagem de suas mãos.
Este acervo reúne documentários, depoimentos, reportagens e registros sobre o BNM e o BNM Digit@l. Destaca-se Coratio, de Ana Castro e Gabriel Mitani, que retrata a idealização e realização do BNM nos anos oitenta e seu impacto para a proteção dos direitos humanos. A ele somam-se as declarações de diversos dos atores que fizeram o BNM uma realidade, assim como uma captura do ato de repatriação dos microfilmes que estavam acautelados nos Estados Unidos desde a ditadura e foram entregues ao Ministério Público Federal. Finalmente, há documentários sobre Dom Paulo Evaristo Arns.
“Na tortura, o corpo volta-se contra nós, exigindo que falemos. Da mais íntima espessura de nossa própria carne, se levanta uma voz que nos nega, na medida em que pretende arrancar de nós um discurso do qual temos horror, já que é a negação de nossa liberdade.”
“Não há ninguém na Terra que consiga descrever a dor de quem viu um ente querido desaparecer atrás das grades da cadeia, sem mesmo poder adivinhar o que lhe aconteceu. O 'desaparecido' transforma-se numa sombra que ao escurecer-se vai encobrindo a última luminosidade da existência terrena.”
“Eu era fisicamente muito fraco em relação aos torturadores e me perguntava: 'por que usam tanta violência para me dominar'? Essa pergunta não saía da minha mente até que tudo começou a clarear. Eu tinha algo mais forte dentro de mim: o amor à Verdade, à Justiça, à Ética, e o compromisso com o povo... Os torturadores eram fisicamente fortes, mas moralmente eu era mais forte e tinha condições de resistir.”