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Sexo virtual com o porteiro?

De Maria Newnum:

Essa história retrata fatos da vida pós-moderna. Eduarda* descobriu-se traída na Web. Nem cabe discutir o termo “traição virtual”. Parte-se do pressuposto que a perfídia seja em pensamentos, atos ou omissões, causa dor e dano. A Du ficou arrasada. Chorou muito, mas logo partiu para a ação: resolveu vingar-se, pagando na mesma moeda.  Abandonou a condição de cyber-analfabeta, contratando uma assessora de assuntos virtuais; algo bem diferente de hackers, diga-se de passagem. Aprendeu os primeiros passos sobre salas de bate-papo, perfil de MSN, sonico e toda parafernália cibernética que se conhece. Em 20 dias transformou-se numa “fera!”.
Para resumir a história: a Du tomou gosto pela coisa! Já não via traição nos flertes que rolava com os “amigos” dos sites de relacionamentos; ao contrário, achava um excelente subterfúgio para atiçar sua vaidade feminina que andava em baixa. Quando deu por si, toda semana tinha uma nova e tórrida história de sexo picante Online para dividir com as amigas. Pasmem! Ela estava tão envolvida que chegou a marcar um encontro Offline. Qual a surpresa? Isso mesmo. O “moreno, alto bonito e muito sensual” era o seu Zezinho, o porteiro que, aproveitava as noites de folga, enquanto a esposa “cyber-analfabeta” dormia o sono das inocentes para, digamos, “projetar” sua personalidade e “pegar”, sem saber, a dona Eduarda, tratada com toda reverência na portaria. Risível? Nem tanto.
A Du se sentiu miserável. Mas a lição foi apreendida: Na rede, homens e mulheres passam de mão em mão, de boca em boca, de gozo em gozo e o que sobra é, muitas vezes, frustração, dor e desamparo, pois, uma hora ou outra a coisa sairá dos teclados…
Em Uma ética para o novo milênio Dalai Lama diz: “A questão é que de vez em quando chegamos a pensar que encontramos essa espécie de felicidade perfeita, até que a aparente perfeição revela-se tão efêmera quanto uma gota de orvalho em uma folha, brilhando intensamente num momento, no outro desaparecendo”. (p.60)
Esse exemplo chama à reflexão frente a uma realidade em que corpos e sentidos são explorados nas pontas dos dedos num cantinho escuro da sala, na mesa do trabalho ou mesmo na cama enquanto o/a parceiro/a dorme. Isso é traição? Ou gota de orvalho reluzente? Pense e analise.
O fato é que cedendo a tentação da busca do prazer efêmero há o risco de perder-se do outro ou, pior, perder-se de si mesmo. Para Dalai Lama: “Ao contrário dos animais, cuja busca da felicidade restringe-se a sobrevivência e à gratificação imediata dos desejos sensoriais, nós, seres humanos, temos a capacidade de experimentar a felicidade em um grau mais profundo que, quando atingido, tem o poder de sobrepujar as experiências adversas”.
É o mesmo que dizia Freud. Para ele, é a repressão dos instintos que garante o desenvolvimento da civilização; não é possível gozar sempre; é preciso renunciar ao gozo efêmero em favor de algo maior.
No mundo “real” as adversidades da vida podem ser o terreno fértil onde germina a felicidade suficiente para o encanto do viver cotidiano. Ou seja, é na realidade nua e crua que acontece o verdadeiro encontro de amores e amizades reais e leais. É no choro e no abraço apertado e não no gozo efêmero que todos os humanos sabem-se seguros e acolhidos.
É facilmente constatável que a comunicação virtual inaugura modos de “éticas paralelas” aos demais mecanismos da sociedade. Na rede, apenas os “cybers-alfabetizados” possuem a gestão dessas “regras” que, na verdade, são volúveis e descompromissadas com o sentido de fraternidade e respeito pelo outro. Por isso vale uma última reflexão de Dalai Lama: “Na minha opinião, pode-se concluir que um ato ético é aquele que não prejudica a experiência ou a expectativa de felicidade de outras pessoas”. (p.58).
Então fica a dica: Pense bem antes de teclar. Pergunte-se se não haverá risco de ferir-se ou ferir outrem. E ao teclar, não se surpreenda ao descobrir-se traído por você mesmo. Na rede isso pode acontecer…

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Maria Newnum é articulista, pedagoga e mestre em teologia prática. Para comentar ou ler outros artigos acesse: http://br.groups.yahoo.com/group/LittleThinks/
* O  nome é fictício – Referência Bibliográfica
Dalai Lama. Uma ética para o novo milênio. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. p. 58 e 60.
Para aprofundar o tema “traição virtual” veja o site: http://www.traida.net/index.php

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