Apesar de você amanhã há de ser outro dia

Por Newdemar de Souza:

A atual pasta municipal da Cultura não conseguiu estruturar, ao longo de quase oito anos no poder, uma política cultural séria, transparente e democrática, que pudesse dar respostas aos anseios da multiplicidade artística e cultural de nossa sociedade. É extremamente frustrante constatar que no decorrer de quase uma década – nós maringaenses -, construimos as condições históricas essenciais para um grande salto da arte e da cultura em Maringá, mas o que presenciamos pragmaticamente é a reedição de formas de ações culturais alienantes e dominadoras, que servem de pano de fundo para mascarar, silenciar as diferenças e aniquilar as singularidades. E não adianta pensar restrito, alienado à mídia capitalística e acreditar que esses “Convites” (ao teatro, à dança, à música), conseguem servir como um processo real de democratização da arte e da cultura! Na verdade, essas ações culturais redundam em uma política paternalista de eventos, como fora outrora à famigerada política do “Pão e do Circo”, com propósitos claros de estrangular os verdadeiros anseios políticos e artísticos da população. E no caso dos “Convites”. Na verdade é um convite para as classes abastadas que podem frequentar os espaços culturais centrais da cidade, enquanto os bairros da periferia, como o Requião, Atenas, Santa Felicidade e tantos outros, ficam alijados do processo político, social e artístico, portanto, esses “Convites” são um verdadeiro jogo político de dominação; como ainda, observado por outra perspectiva social, são extremamente injustos, pois esses segmentos sociais da periferia (segregados), trabalham, pagam impostos e simplesmente são totalmente ignorados pela atual administração cultural elitista, que desconsidera também, que esses grupos sociais têm vontades e pensamentos próprios, não querem só receber eventos passivamente (política cultural bancária – Paulo Freire – ou política cultural do colonizador – Edgar Moran), mas sim, querem se tornar os protagonistas históricos, criadores artísticos: de sua arte e cultura! Para ai sim, trocar em condições de igualdade com os demais produtores artísticos, suas expressões e singularidades político-culturais.
Outro ponto, que corrobora os aspectos totalitários e dominadores dessa administração cultural medíocre, encontra-se na tentativa da Pasta da Cultura em transferir a responsabilidade do bloqueio da Lei de Incentivo à Cultura às denúncias feitas por artistas e moradores maringaenses, de maneira a eximir o Poder Público da ilegalidade (da qual ele é o único responsável), que levou o Poder Judiciário (e o Ministério Público) a processar a atual administração. Na verdade, devemos aplaudir e respeitar esses artistas que mesmos perseguidos e aviltados prestaram um trabalho pela legalidade, lisura e transparência dos recursos públicos. Desta forma, reivindicamos a responsabilização criminal completa desses dirigentes políticos perversos, que mesmo sabendo que estavam errados, por arrogância e descaso social ignoraram as leis e a Const ituição do Brasil. Que a justiça seja feita, estamos todos aguardando!
Por fim, conclamamos toda a população maringaense a refletir e desmascarar essa administração cultural da perseguição ao artista local, da segregação social e da dominação de classes; concluindo: “Hoje você é quem manda falo tá falado não tem discussão. A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão. Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada nesse nosso penar. Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria. Você vai se dar mal etecetera e tal… Como vai abafar nosso coro a cantar. (Chico Buarque)”.
Por um movimento artístico independente e revolucionário, agora, já: que façamos da arte o mais potente dos conhecimentos e dos afetos! Pois quem sabe das interfaces da história não espera acontecer! Fora ditadores desalmados da cultura local!
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(*) Newdemar de Souza é dramaturgo, diretor teatral e artista plástico.