Na vanguarda da bioenergia

Biodiesel
Prefeito João Carlos testa óleo de fritura em ônibus da frota municipal

Moringa, planta de origem asiática, pesquisada pela UEM, e óleo de cozinha, que a Prefeitura de Apucarana pretende transformar em combustível para abastecer frota municipal, são alternativas para produzir biodiesel na região. Texto e fotos de Donizete Oliveira:

O professor José Gilberto Catunda Sales, 55, do departamento de Agronomia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), trouxe do Ceará, há seis anos, cinco sementes de moringa, planta de origem asiática que se adaptou ao solo brasileiro. Ele cultivou as mudas e as levou para a Fazenda Experimental da Universidade em Iguatemi, distrito de Maringá.
O resultado foi satisfatório. Hoje, há um pomar de moringa no local, que dá suporte à pesquisa do professor. Ele busca identificar características agronômicas da espécie e extrair óleo de suas sementes para produção de biodiesel. No Brasil, os óleos vegetais mais usados para obtenção do biodiesel são extraídos da soja, milho, mamona, girassol, algodão e palma.
Para o professor, o programa de biodiesel do Governo Federal não pode ter como base de sustentação a cultura da soja, que é um produto da cadeia alimentar mundial. “Qualquer planta que possa substituir essa oleaginosa se apresenta como opção interessante de pesquisa”, aponta.

Viável
Há outras espécies que se adaptam melhor em diversos locais não apropriados para o cultivo das tradicionalmente usadas. “É o caso da moringa”, destaca o professor. “Que tem se mostrado uma alternativa viável para produção de óleo vegetal”.
Segundo Sales, o teor de óleo bruto extraído das sementes de moringa chega a 35%, com grande concentração de ácido oléico, em torno de 70%, que é o ácido graxo ideal para composição do biodiesel por fornecer estabilidade à oxidação, o que facilita o transporte e o armazenamento. “Em nossas pesquisas, a moringa se revelou excelente matéria-prima”, acrescenta. “Com 100 quilos de sementes da planta é possível produzir 18 litros de biodiesel”.

Renda
A temperatura ideal para cultivo da moringa situa-se entre 25 e 35ºC, com tolerância até 48ºC na sombra, podendo sobreviver a geadas leves. “Perfil que encaixa nas características da região de Maringá”, afirma o professor, destacando que a moringa pode ser cultivada em pequenas propriedades como alternativa de renda para a agricultura familiar.
Na Índia, já ocorre a produção de biodiesel da moringa. A UEM, explica o professor, está dando passos efetivos para detalhar agronomicamente a espécie, registrando o que produz e como produz. “Mas já podemos dizer que nossas pesquisas mostraram que se trata de algo com futuro promissor”, afirma.

Planta de muitas utilidades
A moringa oleifera lam, popularmente chamada de moringa, pertence à família moringaceae. Pode ser usada na alimentação humana e animal, em forma de farinha, na produção de medicamentos, cosméticos e no tratamento de água.
O pó obtido das sementes funciona como coagulante natural para clarificar águas barrentas, removendo até 99% das bactérias. O suco das folhas de moringa pode ser usado como fertilizante nas plantas.
É uma árvore de pequeno porte, com longas raízes, que a tornam resistente à seca. Tolera vários tipos de solo e nível de precipitação de chuvas. Suas sementes, produzidas o ano todo, têm polissacarídeos com forte poder aglutinante.

Apucarana aposta no óleo de fritura
Entre as muitas experiências de combustível alternativo no Paraná, a Prefeitura de Apucarana (cidade de 120 mil habitantes, a 60 quilômetros de Maringá) se destaca com um projeto de produção de biodiesel de óleo de fritura. Denominado “Biodiesel Cidade Alta”, o termo de parceria – inédita na região – foi assinado entre Secretaria Municipal de Meio Ambiente e turismo (Sematur), Universidade Tecnológica Federal do Paraná – campus de Apucarana (UTFPR) e Indústria, Comércio e Importação e Exportação de Produtos Químicos (Quimicamil).
O projeto, em fase de experimentação, visa a produzir biodiesel de óleo de fritura para abastecer a frota de carros e máquinas municipais. O total fabricado será dividido em partes iguais pelos parceiros. “É um projeto significativo, que transforma um resíduo agressor do meio ambiente, quando incorretamente destinado, em gerador de energia”, ressalta o prefeito João Carlos de Oliveira (PMDB).
Para obter matéria-prima (óleo de fritura), o projeto “Biodiesel Cidade Alta” vai contar com apoio de restaurantes, lanchonetes, hotéis bem como dos estudantes e donas de casa, que terão eco pontos para descarte do resíduo, instalados em escolas e prédios públicos. “Estamos realizando testes para produzir um biodiesel com a melhor qualidade possível”, afirma o secretário Municipal de Meio Ambiente e Turismo, João Batista Beltrame, o Joba.
Pela parceria, a UTFPR fornece suporte técnico e linha de pesquisa, a Quimicamil – os equipamentos e a Prefeitura – a logística para recolher o óleo de cozinha usado.
A frota municipal consome, por mês, cerca de 30 mil litros de óleo diesel derivado do petróleo. “A produção vai depender de como será a coleta”, diz o prefeito João Carlos. “Mas queremos toda nossa frota abastecida com biodiesel de óleo de fritura, por isso, esperamos comprar também a cota de nossos parceiros”.
O sistema vai gerar economia para o município, pois o custo da produção inovadora não deve ultrapassar R$ 1 o litro, enquanto no mercado, o diesel é vendido a mais de R$ 2 o litro. “Mas o grande lucro desse projeto é dar destinação útil a um produto que polui a natureza”, acrescenta o prefeito. Pesquisas revelam que um litro de óleo de fritura pode contaminar até um milhão de litros de água.
Joba afirma que é prematuro dizer quantos litros de óleo serão coletados por mês pela Sematur. Os eco pontos estão em fase de instalação, e a campanha de conscientização dos moradores está no começo. “Mas a perspectiva é boa, pois a cada 15 dias, a Sematur já recebe cerca de mil litros de óleo de fritura”, declara. Cada litro de óleo gera um litro de combustível.

Pinhão manso ganha espaço
Pelo menos 30 hectares no norte do Paraná são destinados ao cultivo de pinhão manso. A oleaginosa tem ganhado espaço na matriz energética brasileira.
Com teor de óleo quase três vezes superior ao do soja, o pinhão manso se adapta a altas temperaturas e já ocupa 26 mil hectares no país.
Um dos focos do pinhão manso é a produção de bioquerosene para atender a aviação civil comercial, segmento que consome hoje, no mundo, 250 bilhões de litros de querosene fóssil.
A Associação de Produtores Rurais de Pinhão Manso (APPM) reúne 12 associados no norte do Paraná. A rentabilidade média do pinhão manso é de R$ 4,5 a R$ 5 mil por hectare. Pode ser consorciado com outras culturas e, como é perene, pode fazer parte da área de reserva legal.
A soja produz 500 quilos de óleo por hectare. Enquanto o pinhão manso chega a 1.500 por hectare ao ano. Outra vantagem, segundo especialistas, é o fato de ser uma oleaginosa direcionada exclusivamente para a produção de biocombustível e não conflitar com interesses da cadeia alimentar.

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Prefeito João Carlos e autoridades no lançamento do projeto que transforma óleo de cozinha em biodiesel, em Apucarana

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Professor José Gilberto diz que a moringa será alternativa na produção de biodiesel

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Plantação de moringa na Fazenda Experimental da UEM, em Iguatemi

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Sementes de moringa, das quais se extrai biodiesel

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Sementes de moringa transformadas em tabletes