Chico Anysio


De Donizete Oliveira:
Um típico cearense de Maranguape. Assim era Chico Anysio. Homem tranquilo, bondoso. Fiz uma entrevista com ele em 2004, quando esteve em Maringá para apresentar um espetáculo solo. A assessora dele, muito simpática, pediu que eu o esperasse na recepção do Hotel Elo. Lá fiquei por um bom tempo.
Até que um carro preto parou próximo à porta. Chico desceu devagar. Na rua, em frente ao hotel, havia um pedinte. Ele se aproximou e lhe deu R$ 10,00. O homem agradeceu.
Antes de começar a entrevista me disse que a bondade é uma característica do brasileiro. “Nunca vi isso em nenhum outro país”, afirmou. “Aqui as pessoas estão sempre dispostas a ajudar o próximo”.
Chico afirmou na entrevista que estava chateado com a televisão. Para ele, os humoristas que saíram do rádio não tinham mais espaço na telinha. O próprio Chico, Zé Vasconcellos e Ronald Golias fizeram sucesso no rádio.
Segundo ele, a imitação pela imitação, como se vê muito hoje, não é humor de primeira linha. Depois vi Juca Chaves dizer numa entrevista que não se pode fazer graça com o engraçado.
Simpático, Chico falou por um bom tempo. Da sua amizade com Sean Connery, para quem mandou um roteiro, entre outros assuntos.
Falou também da dificuldade de o Brasil lidar com o sucesso. Ele reclamou de uma coletânea de contos que fora publicada. Disse que não havia um conto seu entre os 100 melhores do Brasil. “Posso te dizer que alguns dos que estão lá são piores do que os meus”, declarou.
Por fim, Chico pediu um café e subiu para o quarto. A entrevista durou uns 30 minutos. Não sei por que, mas não a publiquei. A fita está numa gaveta lá em casa.
Hoje, Chico se foi. Com ele, sai de cena mais um capítulo do rádio e da televisão brasileira.
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Donizete Oliveira, jornalista e professor