Tempestade em copo d´água

De José Luiz Boromelo:
É o que alguns presidentes de sociedades rurais de todo o estado fazem agora. Descontentes e inconformados com a instituição da ExpoLondrina como feira agropecuária oficial do Paraná, divulgaram um manifesto público em repúdio à aprovação da lei. A carta enviada ao governador cita o projeto de lei nº 945/11 e o classifica como um desrespeito às demais regiões com relevância no setor agropecuário. Até aí seria compreensível a posição intransigente da signatária-mor do referido documento, uma vez que não se pode privilegiar uma determinada região em detrimento de outras, reconhecidas como centralizadoras de investimentos nos segmentos de grandes cooperativas, serviços, indústria, comércio e outras atividades do agronegócio.
Ocorre que o aludido projeto de lei tramitou normalmente na Assembleia Legislativa do Paraná, os prazos regimentais foram cumpridos, a matéria aprovada por seus integrantes e enviada para sanção governamental. Em nenhum momento desse trâmite legislativo houve qualquer manifestação por parte de algum dirigente de entidades ligadas ao setor agropecuário. A atitude tempestiva observada agora teve o apoio de parlamentares que representam a região de Maringá e que votaram contra o projeto, manifestando-se solidários à iniciativa da dirigente local. Contudo, não se justifica, definitivamente, a veemência incisiva utilizada no tal documento. Ainda mais partindo de pessoas altamente capacitadas e esclarecidas, com poder de fomentar discussões de alto nível no âmbito de suas respectivas áreas de atuação, inclusive com possibilidades de influenciar e direcionar opiniões.
Em que pese a iniciativa salutar e necessária em defender os interesses de cada região, há que se ter alguns critérios para distinguir sabiamente a crítica da insatisfação. O esperneio é legítimo, porém desproporcional. Os argumentos apresentados são tão consistentes quanto óbvios, e pelo visto, não têm o poder de sensibilizar o chefe do Executivo estadual. Essa discussão, da forma como foi originada, acaba se tornando estéril e improdutiva. O fato está sendo superestimado, uma vez que na prática, tudo fica como está. Da forma como foi proposta, a lei acaba se tornando inócua, sem efeitos práticos. O desgaste do debate público em nada contribui para que uma determinada feira agropecuária seja reconhecida como a oficial do estado.
A mídia veiculou a notícia que a participação de Maringá no evento foi cancelada e o estande retirado, em retaliação à aprovação do projeto de lei. Estimular a polêmica não é o melhor caminho. Há que se encontrar uma forma de administrar esse desencontro de interesses regionais sem externar demonstrações exacerbadas de opiniões, mesmo porque tudo foi feito às claras, com o aval e o assentimento da maioria dos deputados. A medida mais sensata no momento seria aglutinar esforços para que a Expoingá se solidifique cada vez mais, mostrando sua robustez com resultados expressivos. Somente com números superlativos de comercialização e um grande volume de negócios viabilizados teremos o reconhecimento desejado.
A região já provou que tem potencial suficiente para oferecer o que há de melhor no setor do “agrobusiness” nacional. Competência para organizar, promover e administrar uma feira agropecuária de excepcional qualidade a diretoria atual tem de sobra. Portanto, seria interessante voltar o foco para realização desse evento. E deixar os títulos honoríficos (e a polêmica) de lado, uma vez que o desejo do governador em privilegiar a feira de Londrina é evidente. Com um bom trabalho, empenho e muita dedicação a situação poderá ser revertida, trazendo para a Cidade Canção as honras de ser classificada como a melhor e maior feira do estado. Sem a necessidade de projetos de lei ou qualquer outro artifício, somente premiando com justa eqüidade aqueles que se dedicam diuturnamente ao desenvolvimento e ao progresso dessa promissora região. E esses, por sua vez, melhor seriam esquecer as cartas, comunicados oficiais, moções de apoio, de repúdio ou quaisquer outros meios de persuasão disponível. Porque como diria o saudoso amigo Salustiano, se vivo estivesse, incansável a aconselhar os mais afoitos: “Rapaziada, menos, menos, menos…”.
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José Luiz Boromelo