Sete homens e um destino

De José Luiz Boromelo:
A população da Cidade Canção foi mais uma vez brindada com acontecimentos políticos dignos de um bom roteiro de Hollywood. Os legítimos representantes do povo resolveram legislar em causa própria, a despeito das inúmeras demonstrações de desagrado por parte dos eleitores, com respeito a decisões que se mostraram essencialmente corporativas. O imbróglio do aumento dos subsídios dos parlamentares municipais se arrasta há um bom tempo, e apesar das pressões de entidades, grupos organizados de diversos segmentos da sociedade e dos cidadãos comuns que demonstraram sua indignação, fez-se a vontade da maioria dos edis maringaenses. A votação da referida matéria acabou com um empate de 7 a 7, restando somente ao presidente daquela casa legislativa a decisão final. Porém, de maneira inesperada e fazendo uso das prerrogativas que o regimento interno lhe proporciona, manteve-se “em cima do muro”, preferindo abster-se de externar sua posição. Em outras palavras, sua inexplicável omissão foi decisiva para que o projeto de lei fosse aprovado.
Não é novidade no país a tendência dos representantes do povo em aprovar leis que venham a beneficiar a classe. O fato é que em alguns casos, a insensibilidade com relação à majoração de seus subsídios chega às raias do absurdo. Não é plausível que os valores pagos aos parlamentares contemplem tamanha dissonância com as diferentes classes profissionais, a ponto de se criar uma animosidade dessa magnitude. O valor pretendido pelos sete vereadores que tiveram o voto vencido já poderia ser considerado como aviltante, se comparado à imensa maioria dos trabalhadores brasileiros. Com o agravante que a carga horária dos distintos membros do parlamento é infinitamente inferior aos demais, mesmo considerando o compromisso com as reuniões das comissões internas das Câmaras Municipais.
Mais uma vez, o destino da população foi traçado por uma decisão. Que se revelou completamente equivocada, uma vez que a omissão definiu os rumos da polêmica matéria. Poderia ser diferente, pois o presidente da Casa sempre foi sensato e equilibrado em suas resoluções. Faltou-lhe naquele momento uma indispensável dose de intrepidez, requisito básico para se exercer com competência a difícil tarefa de defender os interesses da sociedade. A sua posição diante dos demais vereadores e das pessoas que acompanhavam a importante votação não seria julgada por privilegiar uma ou outra corrente de pensamento diante do empate ora verificado, mas sim por exercer seu dever cívico de fato e de direito, simplesmente direcionando sua decisão para um ou outro lado. Inexplicável, portanto, a forma como protagonizou o último ato, e o mais grave, em detrimento aos interesses da população, que tende a arcar com o ônus do aumento nos subsídios parlamentares através dos tributos municipais a que todos, indistintamente estarão sujeitos.
O que se evidencia agora é a postura do presidente da Casa, não sendo admissível qualquer grau de preterição num momento decisivo como aquele. Mas diante das circunstâncias, estariam então com a razão os manifestantes que compareceram àquela sombria sessão legislativa? Prova disso é que se faziam acompanhar de algumas iguarias de formato esférico e origem européia, que têm como ingredientes principais farinha de trigo, azeite de oliva, queijo, tomate, condimentos diversos e são tradicionalmente servidas em pedaços concêntricos. Provavelmente ensejam poucas semelhanças com as produzidas num estabelecimento maringaense apropriadamente denominado “Mario’s Pizzaiolo Delivery”, numa alusão homônima de mera coincidência.
Melhor mesmo seria que algum influente diretor de cinema estrangeiro viesse buscar inspiração em nossos representantes cancioneiros, a fim de produzir alguma película sobre o famoso faroeste americano de 1960, apenas plagiando parcialmente o já sugestivo título do filme original (incluindo mais um protagonista). A diferença é que por aqui, não haveria a necessidade de duelos sanguinolentos, cujas divergências eram tradicionalmente resolvidas à bala. Somos aculturados o suficiente para compartilhar o diálogo profícuo entre os pares. E a arma mais adequada a ser utilizada seria o exercício da plena democracia, através do voto consciente. Até lá, teremos que conviver com algumas de Suas Excelências municipais exibindo sorrisos de ironia. Quiçá, não por muito tempo. Porque o eleitor, quando se propuser a mudar as coisas, haverá de colocá-los em seus devidos lugares.
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José Luiz Boromelo, escritor e cronista.