O espectro da discórdia

De José Luiz Boromelo:
Uma recente polêmica foi originada na cidade por ocasião da veiculação de um cartaz na Internet, que divulga um evento programado para acontecer em Maringá. Numa montagem pouco verossímil destaca-se a Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória atingida por um feixe de luz e que produz um espectro multicolorido imitando as cores de um arco-íris. Não por coincidência, as mesmas cores são utilizadas por grupos que defendem os plenos direitos da diversidade sexual. De acordo com a maior autoridade eclesiástica local, o uso foi indevido por utilizar um símbolo reconhecidamente religioso e não apenas por tratar-se de um monumento público, conforme alegaram os idealizadores do referido cartaz. As partes manifestaram-se através da mídia e numa reunião de conciliação ficou definida a alteração no controverso cartaz, colocando fim às divergências.
É fato comum que grupos organizados em defesa de seus interesses, passem a utilizar-se de alguns símbolos relevantes para ilustrar um evento qualquer, principalmente quando esse símbolo tem grande representatividade para um município, uma instituição ou uma marca já consolidada. A atenção das pessoas será automaticamente direcionada ao apelo do marketing empregado, muitas vezes conferindo relevância desproporcional ao acontecimento divulgado, como que induzidos a acreditar sem reservas nas propostas apresentadas.
A sociedade brasileira vem progressivamente experimentando profundas mudanças em seus conceitos, outrora consideradas como anomalias perante os “avanços” conquistados agora. Porém, é inquestionável a necessidade de adaptação aos novos tempos, até por conta de uma adequação à legislação vigente. Isso não implica abrir mão de valores há muito estabelecidos, mas assimilar as novas tendências sem maiores traumas, mesmo porque isso é, decididamente, um caminho sem volta.
O encontro entre as partes mostrou-se oportuno, uma vez que o diálogo prevaleceu. A disposição em pôr fim ao mal entendido ficou evidente, provando que o Arcebispo está aberto às discussões de alto nível, em prol de uma percepção que contemple o bom senso comum. É gratificante constatar que os legítimos representantes da fé cristã buscam o entendimento perante as divergências de forma serena e isenta de quaisquer resquícios de discriminação. O discernimento em relação ao tema mostrou que a posição da Igreja é inflexível, porém, contempla o pleno respeito às diferentes correntes de pensamento, enquanto partícipes da sociedade.
Contudo, observa-se que na maioria das vezes o desfecho de uma simples divergência como essa não ocorre como o desejado. É sabido que alguns integrantes de grupos sectários insistem em manter posições radicais e têm como marca registrada a intolerância, protagonizando cenas de inconformismo inaceitáveis, e se prestam a promover desordens e a incomodar aqueles que nada têm a ver com o caso. Esse é um fato recorrente por todo o país, como se a impetuosidade das manifestações viessem a mudar o entendimento de valores há muito inserido no âmago do ser humano.
Felizmente para o bem de todos os maringaenses, o colóquio foi produtivo. O respeito e o acatamento aos valores éticos e morais do cidadão foram preservados, sem quaisquer melindres às diferentes formas de expressão, sejam elas oriundas de pessoas ou entidades, na busca por reconhecimento aos seus direitos garantidos pela Carta Magna. A decisão em levar a um bom termo as versões díspares do caso foi premiada com o acatamento irrestrito aos anseios da doutrina cristã. E assim deve ser em todos os momentos, a mostrar que o respeito mútuo precede decisões sábias amparadas no equilíbrio e na razão.
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José Luiz Boromelo, escritor e cronista