Uma imensa lixeira

De José Luiz Boromelo:
A humanidade depara-se com um problema de grande complexidade e difícil resolução. O quadro agrava-e na proporção do crescimento econômico e populacional mundial, levando as nações a buscarem métodos de tratamento utilizando alta tecnologia. A produção e a correta destinação do lixo doméstico tornaram-se uma questão de saúde pública em todo o mundo. As medidas implementadas pelos governos para reverter a situação são insuficientes ou inadequadas pra fazer frente ao excessivo volume. É preciso mais que consciência ecológica para minimizar os efeitos do descaso da maioria da população com a vida no planeta. Um simples prato dominical transforma-se num vilão quando se exige uma postura ecologicamente correta na defesa do meio ambiente.
Pode-se encontrar em seu invólucro de consumo nada menos que meia dúzia de produtos agressivos à natureza que são compostos em sua grande maioria por polímeros, materiais reconhecidamente duráveis e resistentes, comumente chamados de plástico. O delicioso almoço vem devidamente acondicionado em bandejas de poliestireno (isopor) lacrado com filme transparente, garfo, faca e copo descartável e para o transporte, uma providencial (e altamente poluidora) sacola plástica, que permanece por centenas de anos na natureza. O agravante desse ciclo nada virtuoso se reflete em montanhas de lixo por todos os lados, evidenciando a necessidade urgente em se promover a cultura da prévia classificação de maneira eficiente dos diferentes materiais e detritos sólidos e líquidos produzidos pelo ser humano.
Os resultados da separação e destinação correta do lixo são positivos, especialmente nas últimas duas décadas. A reciclagem mostrou-se uma alternativa viável e altamente rentável, propiciando um significativo aumento na renda dos coletores autônomos. A instalação de cooperativas de trabalhadores nesse segmento proporcionou um aumento expressivo na quantidade de materiais reaproveitados, mostrando que a viabilidade econômica é um incentivo para outras iniciativas semelhantes. Alguns municípios priorizam a coleta seletiva e promovem a conscientização da população sobre o problema, estimulando um comportamento pelo menos aceitável do cidadão. Porém, a peça mais importante (e menos empenhada) nessa complexa engrenagem não corresponde com as reais necessidades em se destinar corretamente o lixo que produz. Apesar das inúmeras e contínuas campanhas governamentais, o ser humano insiste em espalhar suas “lembranças” por todo lado, como a provar constantemente que lhe é facultado o direito de poluir todo ecossistema, em detrimento de outras espécies que padecem com o desprezo pela manutenção da biosfera.
Há muito ainda a se fazer na busca por índices razoáveis de poluição por materiais não biodegradáveis. O ciclo perverso do consumo exagerado e da inserção de novos compostos industrializados na busca por comodidade e praticidade transformou o cotidiano das pessoas. A opção crescente pelos descartáveis se mostra diametralmente na contramão das iniciativas para a preservação do meio ambiente. A insensibilidade da população com referência à conscientização ambiental extrapola os limites domésticos. As vias públicas mais se assemelham a lixeiras a céu aberto, assim como os fundos de vale, as estradas rurais, os terrenos baldios e qualquer espaço em que o animal dominante vislumbre como local propício para depositar as marcas de uma inexplicável ignorância. O que fazer para tentar incutir definitivamente uma maior responsabilidade nas atitudes dessa gente inconseqüente?
As campanhas publicitárias procuram chamar a atenção com vinhetas criativas, imprimindo dinamismo e versatilidade utilizando estereótipos exagerados, com o objetivo único de atrair o interesse do público para a situação ambiental. Porém, todo esforço em suscitar no cidadão a consciência para novas atitudes acaba reduzindo-se a boas intenções. Os exemplos aí estão como lembrar-nos que vivemos num mundo dominado por pessoas desinteressadas pelo bem estar da coletividade, às quais se poderia com toda propriedade impingir-lhes a pecha de “sujismundos”.
A qualidade de vida está diretamente ligada à uma postura coerente em nosso cotidiano. Cabe a cada um fazer a sua parte, com atitudes ambientalmente corretas. E deixar para nossos filhos e netos um planeta com excepcionais condições de vida. Então, mexa-se e faça sua parte.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista