Os desafios do educador
De José Luiz Boromelo:
Houve uma época em que os profissionais da educação assumiam outras funções além da sublime missão de levar o saber. Freqüentemente os professores deslocavam-se até a residência de algum aluno, muitas vezes morador em área rural de difícil acesso, com o intuito de identificar as causas das freqüentes faltas. A locomoção se fazia por meios próprios, amparada no desejo de solucionar os problemas que afligiam aquele educando, na tentativa de reconduzi-lo à sala de aula. Um estímulo e tanto, que na imensa maioria das vezes surtia o efeito desejado e garantia a assiduidade e a continuidade dos estudos, tão importante para o futuro de um jovem. Assim procedeu por muitas vezes minha estimada mestra D. Emília, que exibe com orgulho em meio às lembranças do passado, um brilho especial nos olhos e o sorriso sereno do dever cumprido.
A realidade atual é bem mais austera com o educador. O exercício da mais nobre das profissões tornou-se uma atividade por demais extenuante e não contempla um reconhecimento à altura de suas responsabilidades. Ensinar com qualidade diante dos inúmeros exemplos de “insurgências” juvenis é um balde d’água fria nos mais fervorosos apaixonados pelo ofício. O que leva, então, um profissional a optar pela carreira de docente? Decerto o motivo não contempla o apelo salarial. Uma pesquisa realizada em instituições de ensino de 28 países apontou que o Canadá é o país que melhor paga seus professores, enquanto o Brasil ocupa apenas a 18ª posição. Qual seria o verdadeiro motivo para que os docentes persistam no tablado, perdendo a saúde e a paciência para levar aos jovens a necessária informação? O amor pela profissão talvez explique, em parte, a opção em se dedicar de corpo e alma para a formação de novas gerações.
São muitos os desafios que o educador encontra em seu cotidiano de trabalho. A sociedade moderna impõe suas regras e estimula a adoção de novas posturas em relação a certos conflitos, que no passado eram solucionados de forma unilateral, sem necessariamente atender as partes interessadas. Os resultados nem sempre correspondiam ao desejado, porém, o método mostrava-se uma alternativa viável para conter os abusos. Nos dias atuais, apesar da vigência de legislação específica, a situação mostra-se cada vez mais complexa. Os discentes tendem a apresentar comportamentos agressivos, em que os valores éticos e morais são ignorados. Isso gera inseguranças e contribui para o baixo aproveitamento em sala de aula. A propensão em se questionar as normas das instituições de ensino é evidente e demonstra uma postura de antagonismo explícito aos preceitos pré-estabelecidos, baseados nos exemplos do respeito e da boa convivência.
Um fator que influencia diretamente o aprendizado é o bom relacionamento entre pais, professores e alunos. A necessidade em acompanhar a evolução educacional dos filhos é de suma importância para que os resultados sejam satisfatórios. O acompanhamento é acima de tudo uma obrigação e o diálogo com o educador torna-se imprescindível, mostrando que o interesse pela formação dos filhos vai além do ambiente escolar. Conhecer os professores é o primeiro passo para fortalecer os laços de confiança que farão a diferença no decorrer do ano letivo. Contribui ainda para a resolução de alguns problemas de comportamento quando o assunto envolve tecnologia e educação. As reclamações com relação ao uso indiscriminado (e desnecessário) de equipamentos eletrônicos nas dependências das escolas são freqüentes. Em alguns casos o manuseio deliberado e inconseqüente ocorre em plena aula, causando transtornos diversos e a indignação do educador. Há que se encontrar uma fórmula que contemple o bom senso no uso de novas tecnologias. Que definitivamente, não inclui a liberação do uso de equipamentos eletrônicos em sala de aula.
O educador de nossos dias enfrenta inúmeros desafios a serem superados. E para isso é de extrema importância a inserção do afeto no processo de ensino-aprendizagem. É uma relação de confiança mútua, em que o aluno pode contar com o educador em todos os momentos. Isso não quer dizer que a autoridade é deixada de lado, mas torna-se um ingrediente básico para a eficácia do trabalho escolar. Essa receita, que funcionou por muitos anos ainda mostra-se atual e eficiente. Que o diga a eterna mestra D. Emília.
________
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.