A escalada da violência

De José Luiz Boromelo:
O cidadão brasileiro convive com uma onda de violência sem precedentes. Em todas as regiões do país as diversas modalidades de crimes tiveram um aumento considerável. O Brasil tornou-se um dos países mais violentos do mundo ocupando o 4º lugar, atrás apenas de El Salvador, Venezuela e Guatemala. O aparato policial disponível não é suficiente para fazer frente à demanda por segurança. Com efetivos e salários defasados, equipamentos obsoletos e os índices de violência nas alturas só resta ao contribuinte recorrer à proteção divina e manter-se recluso dentro de sua própria casa. E não adianta os governantes “taparem o sol com a peneira”, pois o clima de insegurança atinge níveis insuportáveis. Há muito o contingente policial está aquém das reais necessidades, apesar dos discursos oficiais contradizerem uma realidade bem diferente daquela apresentada pela mídia diariamente.
A maioria das Delegacias de Polícia e cadeias padece com a superpopulação carcerária, em que a improvisação faz parte do cotidiano dos servidores públicos. A absoluta inexistência de carcereiros obriga os agentes a exercerem outras funções que não a de investigação de delitos e crimes graves. Nos destacamentos policiais não se encontram as condições ideais de trabalho. Ocorrências de vulto são na maioria das vezes atendidas por um único militar, colocando desnecessariamente sua integridade física em risco. Esse é o retrato cruel da omissão e da incompetência administrativa, que submete o cidadão a arcar com as conseqüências do descaso oficial. Mesmo considerando o aumento populacional, as carências na área de segurança pública são evidentes.
A criminalidade apresenta variáveis distintas e características peculiares. Por conta da ineficiência do sistema repressor, houve um aumento substancial nos crimes relacionados ao tráfico de drogas, que inclui a participação maciça de crianças e adolescentes. Essa triste realidade é comprovada pelo Mapa da Violência 2012, divulgado recentemente pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos. Em outra vertente, observa-se um aumento dos crimes contra o patrimônio, que se perpetua de maneira acentuada. Há alguns anos as rodovias paranaenses são utilizadas para a consecução de roubos a coletivos. Apesar da desarticulação recente de algumas quadrilhas organizadas, o fato se repete com freqüência, levando insegurança ao usuário da rodovia. Outra forma de criminalidade são os ataques a caixas eletrônicos utilizando explosivos de alta potência. A migração desse tipo de delito dos grandes centros para as cidades menores tem causado preocupação e deixado enormes prejuízos materiais. A violência contra a vida também é crescente. Casos recentes de estupros e homicídios são contabilizados diariamente pelos indicadores do crime. Enquanto isso, o único equipamento para análise de DNA disponível no Paraná apresenta defeitos constantes, comprometendo sobremaneira a elucidação de crimes.
Em determinada região, a criminalidade desafia as autoridades constituídas. Há ocorrências recentes de atentado a tiros em prédio público, emissoras de televisão, residência de comandante militar e delegado de polícia. A afronta é explícita, mas apesar do empenho das forças policiais os casos continuam insolúveis. O clima de insegurança no país incentivou o crescimento de um segmento de serviços cada vez mais requisitado: a segurança privada, que cresceu 74% em 10 anos. E no rastro da violência o mercado de equipamentos de proteção patrimonial teve suas vendas alavancadas. Os novos empreendimentos imobiliários já contam com projetos que incluem os mais modernos dispositivos de segurança.
É evidente que a situação caótica que vivemos atualmente é o reflexo do descaso com a segurança pública há muito tempo. Os ônus não devem ser debitados ao governo atual, porém, é necessário muito mais que boa vontade política para reverter o quadro. A indicação de profissionais capacitados para os cargos, o investimento substancial em efetivo e equipamentos e uma série de medidas pontuais seriam um indício de que as coisas estariam tomando o rumo desejado. É imprescindível que as autoridades façam algo urgente para reduzir os índices atuais da criminalidade. O contribuinte merece o devido respeito.
__________
(*)nJosé Luiz Boromelo, escritor e cronista