De José Luiz Boromelo:
Numa conhecida fábula infantil um filhote é rejeitado pela família por ser diferente dos demais, apesar de ter nascido da mesma ninhada. Ao atingir a fase adulta revelou-se toda sua beleza, pois na verdade era um cisne e não um pato. Assim como na primeira parte da estória o Paraná transformou-se no patinho feio do governo atual, ficando mais uma vez de fora de importantes investimentos federais. O estado foi preterido nos últimos repasses dos recursos do PAC, mesmo com três ministros ocupando pastas de grande relevância na esfera federal. Se bem que os paranaenses nunca foram devidamente respeitados na capital da república, como pleiteia agora nosso governador. Desde há muito somos menosprezados no cenário nacional, não obstante nossa comprovada participação na economia do país.
Ignorando o suposto peso político dos ministros paranistas o governo federal colocou para escanteio o segundo maior produtor de grãos do país. Culpa da falta de articulação política, dizem alguns. Como reclamou o governador, faltou respeito para com o estado. Mas este importante quesito não se impõe, se conquista. Então, o que estão fazendo os senadores e os nossos deputados em Brasília? Por acaso não se sensibilizaram pela causa ou mantiveram-se à distância por conta de interesses outros que não os dos agora rejeitados paranaenses?
Os últimos acontecimentos contradizem as afirmações do governador, que garante ter uma “excelente relação pessoal e administrativa” com a presidenta. É de se imaginar, portanto, se as relações não fossem tão boas como o anunciado, em que situação ficaria nosso estado. Pelo sim, pelo não, o comportamento omisso mostra mais uma vez que nossos parlamentares têm pouca ou nenhuma representatividade em suas respectivas Casas de Leis. Tem-se a impressão que estão ali só fazendo número. Ou resolveram participar do jogo político conforme suas conveniências, evitando fornecer munição aos adversários. A resposta ao pacote de programas logísticos chamado “PAC das Concessões” limitou-se a uma manifestação da Assembleia Legislativa do Paraná, que aprovou uma moção de protesto pela forma como foi proposto.
A questão principal não se resume na adoção da bitola mais larga dos trilhos ou no traçado das ferrovias, que em tese “esvaziaria” o escoamento da produção agrícola dos estados do Centro-Oeste. Atualmente, nossas ferrovias são rota obrigatória para o Porto de Paranaguá, maior exportador de grãos do país. A coisa é um pouco mais embaixo. O governo federal deu mostras claras que não tem intenção alguma de contemplar o Paraná com recursos de vulto como o polêmico projeto. Diversas reivindicações antigas de pavimentação e duplicação de rodovias paranaenses nunca saíram do papel ou nem foram incluídas em qualquer orçamento anual. São obras imprescindíveis para o desenvolvimento econômico do estado, que apesar de ocupar apenas 2,34% do território brasileiro e ser o responsável por quase 20% da produção agrícola ainda sofre com o gargalo logístico causado pela alta demanda.
A indiferença do Palácio do Planalto para com o povo paranaense requer algumas atitudes concretas por parte de nossos representantes. Ocorre que aqueles ocupantes de cargos eletivos federais já demonstraram seu total desinteresse com as legítimas aspirações desse estado. Se nada for feito para reverter a situação, a inércia diante da estagnação econômica do Paraná será determinante para o futuro do estado nas próximas décadas. Mesmo assim, isso não mobiliza Suas Excelências, que por conta de diferenças político-partidárias e coisas afins, acabam se engalfinhando ridiculamente nas redes sociais. Ano eleitoral tem dessas coisas.
Pelo andar da carruagem tudo indica que nosso estado será mesmo o protagonista daquela estória infantil. Porque num ente federado onde a preocupação maior de certos políticos resume-se a “Marias-Loucas” e “Sanchos-Panças” da vida, precisamos que o cisne cresça logo e ocupe seu lugar na economia nacional. Complementando o que asseverou nosso governador, não só merecemos como exigimos o devido respeito.
________________________
José Luiz Boromelo, escritor e cronista