E a democracia, padre Orivaldo?

De Luiz Carlos Rizzo:
Sou cristão e admirador da vida exemplar do pensador, padre Orivaldo Robles. Mas, nem tudo é perfeito, a começar por mim, claro. Tenho também uma jamanta carregada de defeitos. Na caminhada da vida, vou tentando eliminá-los, embora de alguns não sejam nada fáceis de me livrar. Em seu artigo, o bom padre Orivaldo evidencia uma visão bem elitista da democracia. Por ele, o número de candidatos a prefeito e a vereador deveria ser bem menor. Penso o contrário: quanto mais candidatos, maior o leque de alternativas e melhor a representatividade popular.
Eu jamais votaria no Hércules Ananias, porque seu partido faz parte do condomínio comandado pelo capo e nocivo Ricardo Barros. Mas, defendo o direito inalienável do Hércules Ananias ser candidato.
Por que o padre Orivaldo não aceita a candidatura da socialista Débora Paiva? Uma rápida leitura na entrevista que ela concedeu a O Diário neste domingo (2/9/2012) demonstra que ela é a candidata que apresenta a visão mais crítica do que é a política em Maringá. Débora Paiva, a partir de um diagnóstico preciso e sem eufemismos, apresenta as soluções mais convenientes a quem vive o flagelo cotidiano de enfrentar as consequências do monopólio do transporte público. Ela também vive a agonia de quem, sem plano de saúde, usa a rede pública de saúde. Ou seja, os problemas apontados por ela, em relação a Maringá, são por ela vivenciados. E não ditos ao sabor de textos do marketing político.
Ora, cá entre nós, qual o grau de sensibilidade de candidatos latifundiários (nesta disputa pela prefeitura de Maringá são dois latifundiários) em relação ao operário que precisa, de bicicleta, cortar a cidade de um lado para outro, passar pela Colombo e não saber se volta vivo para casa no final da extenuante jornada? Débora Paiva fala o que sente, vive e, portanto, sua empatia (sensibilizar-se com sofrimento do próximo) é muito maior.
Voltando ao tema central, reduzir o número de candidatos a prefeito ou a vereador, como pretende padre Orivaldo Robles, lembra a campanha feita pelo poder econômico local para reduzir o número de vereadores: fica mais fácil “negociar” com menos e patrocinar a campanha de menos candidatos que, uma vez eleitos, recebem uma fatura alta para quitação da dívida.
Sejamos democratas (sem ser do DEM, é claro): quem pode votar, pode ser votado desde que cumpra as exigências legais. Simples assim. Esta é a essência da democracia.
Como dizia o primeiro-ministro inglês, Winston Churchill: ” a democracia é o pio regime do mundo, mas não existe outro melhor”. E viva a democracia, o barulho dos candidatos incluindo aqueles bizarros e/ou que representam interesse$$ oculto$$.
O que fazer no palco das representações político-demagógicas que se acirram neste momento? É só usar a lente da História para cada candidato – e deixar em segundo plano propostas redigidas por marqueteiros – para concluir, por exemplo, que aqueles que querem que a mudança continua lutam – desesperadamente – para tudo continuar como está neste mar de barros, o melhor, de lama em Maringá.