E agora, Brasil?

De José Luiz Boromelo:
(*Um “plágio” necessário, no momento em que o país passa por turbulências. Que me perdoe o grande mestre Drummond em sua infinita sabedoria, mas é por uma boa causa).

E agora, Brasil?
O dinheiro sumiu,
a paciência acabou,
o caldo entornou,
o povo reagiu,
e agora, Brasil?
E agora contribuinte?
E agora trabalhador?
Você que “rala” todo dia,
que produz riquezas,
você que faz o país crescer,
e agora Brasil?

Está sem crédito,
está sem apoio,
está sem rumo,
já não pode pagar,
já não pode comprar,
gastar já não pode,
a coisa complicou,
o salário não deu,
o ônibus não veio,
a esperança não veio,
não veio a alegria
e tudo parou
e tudo acabou
e tudo mudou,
e agora, Brasil?

E agora, Brasil?
Seus desejos por mudanças,
sua persistência infinita,
sua resignação e vontade,
seu eterno sonhar,
com uma gente feliz,
em seus devaneios febris, sua inocência,
seus objetivos – e para quê?

Com o poder nas mãos
querem mudar o mundo,
não existem limites;
querem mandar em tudo.
Mas o povo reage,
querem dominar sua gente,
que não é mais aquela.
Brasil, e agora?

Se tivéssemos hospitais e transporte dignos,
se tivéssemos escolas e creches suficientes,
boas estradas, portos modernos e eficientes,
se tivéssemos educação de qualidade,
e segurança para nossos filhos,
se tivéssemos políticos honestos…
Mas aí já é querer demais, Brasil
você é injusto, Brasil!

Agora falam do pacto, que a presidenta inventou,
como se a responsabilidade fosse do trabalhador.
Como se a alta do dólar, o rombo na Petrobrás,
os cabides de emprego, os acordos eleitoreiros,
a corrupção que dilapida os cofres públicos,
fosse culpa do povo brasileiro.

E aí vem a Copa
com seus estádios caríssimos,
e a ralé só de longe,
sem poder participar.
Às favas com as licitações,
quem manda não fiscalizar?
Porque dinheiro tem de montão,
e eles querem diversão.

Agora marchamos todos, Brasil!
Brasil, pra onde?
_________
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.
Obs: este texto teve como inspiração estrutural, dialética e estética o poema “José”, de Carlos Drummond de Andrade.