Entre aviões, helicópteros e meias

verri9De Mário Verri:
O apressado como cru. Enfim, esse ditado popular não pode ser direcionado a todas as pessoas, pois há aqueles carnívoros que preferem carne mal passada. Há ainda os vegetarianos. Mas não me refiro à alimentação. Evento recente em Maringá ilustra o significado desse ditado que tem tudo para terminar em outro ditado: quem fala demais dá bom dia a cavalo. O crescimento de uma cidade está relacionado com o aumento de renda de seus habitantes, geração de emprego e investimentos em educação e saúde. Isso pra começar bem qualquer planejamento. Contudo tem de ser feito com parcimônia, ou no embalo dos ditados, “com muita calma nessa hora”.
No final da semana passada fomos surpreendidos com o anúncio da vinda de uma fábrica de aviões e helicópteros para Maringá, diretamente da Suíça. Com direito a diretor dando entrevista na TV e falando que serão investidos R$ 174 milhões na construção da unidade e que a produção – quando em pleno vapor -, seria de 600 helicópteros e 200 aviões por ano.
Foi dito também que a fábrica vai gerar aproximadamente mil empregos diretos e mais uma centena de indiretos. Outra informação que também circulou é de que com a fábrica a cidade se tornaria pólo aeronáutico inclusive com a possibilidade de parceria entre instituições de ensino superior da cidade com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), uma das instituições de maior prestígio do país.
Já no começo desta semana, alguns blogs do Paraná veicularam informações sobre uma possível falta de idoneidade da empresa, a Avio International, e de seu presidente, o italiano Luigino Fiocco, com base em informações de jornais italianos sobre falências fraudulentas de empresas do mesmo ramo naquele país. Inclusive com condenações pela Justiça Italiana.
As dúvidas e questionamentos surgiram e obrigaram respostas. Em nota, Fiocco disse que “as informações divulgadas são referentes a um processo de mais de dez anos, já resolvido na justiça italiana”. A nota ainda afirma que a construção da fábrica “possui investidores e parceiros internacionais definidos” e informa ainda que “vai apresentar, como definido no protocolo de intenções, um plano de negócios detalhado em 90 dias”.
Segundo reportagem do jornal Gazeta do Povo/Gazeta Maringá, o secretário de Comunicação, Milton Ravagnani, destacou que se a empresa provar sua capacidade assim como esboçado no protocolo de intenções ela pode receber os benefícios do Programa de Desenvolvimento Econômico de Maringá (Prodem). “Na pior das hipóteses, fica do jeito que está”, disse ao jornal.
Ainda no mesmo jornal há uma declaração do secretário de Indústria, Comércio e Assuntos do Mercosul, Ricardo Barros, representando o governo Beto Richa, que intermediou a possível vinda da fábrica para a cidade. “O que importa é o investimento da empresa, que é bastante positivo para o Paraná”. Ainda no jornal, Barros disse que pretende viajar à Europa para conhecer melhor o investidor.
Explicações dadas. O que não significa que serão aceitas. Há muita coisa para ser esclarecida. Não podemos ficar atônitos diante disso. É importante para a cidade. Sim, sem dúvida. Mas que seja algo concreto, real. Não somente falácias e promessas. Caso contrário corre-se o risco de comer cru e ainda conversando com os eqüinos. E pra não passar despercebido, ainda mais com o frio dos últimos dias, como faz falta uma fábrica de meias aqui na cidade.
______
(*) Mário Verri é vereador pelo PT em Maringá.