A história da construção da sede da Umes
A propósito da oposição do prédio histórico da Umes, vale a pena recordar trecho que está na página 196 do livro “A Igreja que Brotou da Mata”, do padre Orivaldo Robles, publicado em março de 2007. O texto foi elaborado a partir do depoimento de Carlos Alberto Borges (1938-2010), em 13 de setembro de 2006. Confira:
Não existindo curso superior na cidade, Carlos Alberto Borges (foto), presidente do grêmio estudantil da escola técnica de comércio (que pertencia à diocese e funcionava no prédio do Colégio Marista), representava os estudantes do nível mais “adiantado” de Maringá. Decidido a dar à população estudantil maior consciência de classe e poder de representação, convocou todos os colégios para a assembléia de fundação da Umes. Apesar da euforia pelo primeiro título de campeão mundial de futebol, conquistado pelo Brasil ao meio-dia, [1] o antigo Cine Maringá, na avenida Getúlio Vargas, recebeu, na tarde daquele 29 de junho de 1958, uma multidão de estudantes. A ata de fundação da entidade estudantil de Maringá conserva, entre outras, a assinatura de dom Jaime Luiz Coelho, bispo diocesano, que também apoiou o anseio de uma sede para a nova entidade. Borges tinha em mente uma Umes de forte presença na área cultural, social, esportiva e de lazer para os estudantes da cidade. Mas a construção da sede representou verdadeira aventura, bem mais difícil do que previra. Doutor Hermann de Moraes Barros, diretor-gerente da CMNP, morava em São Paulo e vinha, em avião particular, quase toda semana, inspecionar obras de Londrina, Maringá e Cianorte. Da parte da CMNP havia interesse de vender toda a área loteada. Era importante, por isso, que os proprietários não retardassem o levantamento de construções nos lotes adquiridos. Contudo, associações profissionais de Maringá beneficiadas com doação de áreas para suas sedes, demoravam a construir, causando desagrado à direção da Companhia. Sabendo que os estudantes também queriam pedir um terreno, Barros não se deixava encontrar com facilidade. Acompanhado de uns cinquenta colegas, Borges postou-se então no escritório da CMNP, à espera do diretor-gerente. Não houve como deixar de receber a delegação. O presidente da Umes propôs: “Doutor Hermann, o senhor não precisa fazer a doação agora. Só escriture o terreno para a Umes quando tivermos a sede pronta”. Venceu. A Companhia cedeu o terreno da avenida Cerro Azul, em frente à Câmara Municipal de Maringá, escolhido pelos estudantes entre outros dois propostos, por causa da proximidade, na época, com o Colégio Gastão Vidigal. O prédio, terceiro no lado esquerdo da avenida, no abandono a que foi relegado, nem vagamente lembra as memoráveis discussões cívicas dos anos 60, quando ali funcionou o único restaurante acessível aos bolsos estudantis. Campanhas, rifas, bailes, promoções de todo tipo foram empreendidos para levantá-lo e, dessa forma, assegurar a posse do terreno. A construção, moderna para a época, foi erguida a partir de planta doada pelo engenheiro Luty Vicente Kasprowicz, e sólida bastante para resistir às intempéries e ao descaso das décadas seguintes. Inaugurada em 1960, com a presença do governador eleito Ney Braga e de dom Jaime, até hoje não conseguiu a escritura de doação da CMNP que, no entanto, continua assegurando à Umes sua posse e uso, sem jamais ter deixado de respeitar a palavra empenhada pelo diretor-gerente daquela época.
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[1] Sem televisão, as partidas eram acompanhadas pelo rádio, na voz de locutores famosos como Pedro Luís, Edson Leite e outros. Por causa do fuso horário, a final entre Brasil e Suécia começou às 11h do Rio, hora oficial do Brasil, à época.