Presidente da Abag critica relação com governo
“Não apenas o agronegócio deixou de ser uma prioridade para esse governo, como o setor, apesar de toda a sua importância para a economia do país, nem sabe mais com quem dialogar em Brasília”. A afirmação do presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Correa de Carvalho, resume o que foi a primeira edição do Fórum Nacional do Agronegócio realizada ontem àa noite em Maringá. De acordo com o presidente da Abag, durante o governo Lula o segmento sucroalcooleiro manteve “uma relação saudável e produtiva com o governo” mas, ressaltou, algo não explicado aconteceu já no início do mandato de Dilma Rousseff. “Hoje podemos dizer que a atividade, mesmo sendo estratégica em termos de desenvolvimento e geração de divisas, está completamente abandonada”, disse.Segundo Carvalho, ocupando apenas 74 milhões de hectares – que representam 8% do território nacional – , o campo “é o maior negócio deste país”. Em relação ao setor sucroalcooleiro, afirmou que a produção de açúcar cresce 5% ao ano em média, sendo incapaz de atender a uma demanda crescente, puxada principalmente por Índia, China e Indonésia. “Nos próximos sete anos, teremos que ampliar a produção em pelo menos 15 milhões de toneladas”, informou.
Sobre o etanol, “o combustível renovável mais competitivo e desejado do mundo”, Carvalho disse que a produção nacional encontra-se estagnada. A justificativa é que o governo criou uma situação insustentável ao passar a importar grandes quantidades de gasolina a um custo mais alto do que vende internamente, para tentar segurar a inflação. Isto, além de causar um rombo nas contas da Petrobras e reduzir o seu poder de investimento, afeta diretamente o etanol, que não foi desonerado e, por isso, não raro, acaba custando em muitos Estados mais caro que o combustível fóssil. “Diante dessa realidade, mesmo sem conseguir atender à demanda interna, não há empresário que se anime a investir na produção”, comentou o presidente da Abag.
Promovido pela Rádio CBN Maringá com apoio da Cocamar, o Fórum contou com a participação de cerca de 400 convidados no Recinto de Leilões do Parque Internacional de Exposições da cidade e discutiu o tema “Álcool, açúcar e energia – perspectivas no Brasil e no mundo”.
Após a palestra de Carvalho, um debate contou também com a presença do presidente da Alcopar (Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná), Miguel Rubens Tranin, do diretor do Grupo Santa Terezinha, Paulo Meneguetti, e do presidente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Luiz Lourenço. O desânimo e a falta de perspectivas em relação à atividade, fez com que, nos canaviais, houvesse nos últimos anos uma perda de produtividade. Segundo o presidente da Alcopar, Miguel Tranin, o setor tenta agora recuperar-se, mas sabe que isto não vai acontecer de uma hora para outra. Para dar uma ideia das dificuldades que o segmento enfrenta, Tranin citou que das 30 unidades produtoras de etanol e açúcar do Paraná, três estão fechadas.
Para Paulo Meneguetti, diretor do Grupo Santa Terezinha, o fim da escala de produção decretou o fim de muitos usinas no Brasil e, por outro lado, é preciso investir em infraestrutura e logística. Sobre isso, Luiz Lourenço, presidente da Cocamar, acrescentou que a situação “é desastrosa”. Segundo ele, além da fila de caminhões para transportar mercadorias rumo aos portos, há também fila de navios. Por causa das deficiências portuárias, houve casos de navios demorarem 60 dias para embarcar soja em Paranaguá.
Por fim, Tranin alertou que a nova lei dos portos deu prazo de apenas 30 dias para a apresentação de propostas e a preocupação é que, nesse afogadilho, o segmento exportador fique nas mãos “de alguns poucos”. O Fórum Nacional de Agronegócios terá outras duas etapas. A próxima será no dia 17 de outubro, também no Recinto de Leilões do Parque de Exposições de Maringá, para tratar do tema “Integração lavoura, pecuária e floresta”. A última, dia 18 de novembro, abordará “O papel do cooperativismo no futuro do agronegócio brasileiro”. (Flamma)