De José Luiz Boromelo:
Mas o que fazer para mudar o cenário atual? É sabido que o brasileiro mostra-se arredio a mudanças que impliquem numa postura diversa daquela adquirida ao longo do tempo. Portanto, as iniciativas devem partir dos órgãos oficiais, com a instituição de programas visando a conscientização de todos os envolvidos no processo. As adequações necessariamente teriam como ponto de partida o campo, local de origem dos produtos. Técnicas corretas de colheita seriam o primeiro passo para a longevidade do alimento. Outro item de fundamental importância é o acondicionamento e o manuseio recomendado para cada produto, preservando-se sua aparência original. Há que se ressaltar o compromisso do produtor, do transportador e do intermediário na comercialização de um produto de qualidade comprovada, o que não acontece atualmente. É necessário abolir de vez as embalagens que se danificam com facilidade e optar pelas de plástico ou similar, mais resistentes e com elevado grau de assepsia, evitando possíveis contaminações.
O desperdício ocorre também por conta do processamento culinário e hábitos alimentares incorretos. Não temos o costume de aproveitar o potencial energético dos alimentos em sua plenitude, uma vez que a abundância se faz presente. Não se utiliza regularmente folhas, caules e casca de frutas, verduras e legumes. Jogamos fora uma fonte inestimável de nutrientes, essenciais para o perfeito funcionamento do organismo. Na Europa e América do Norte cada pessoa desperdiça de 95 a 115 quilos de alimentos por ano que vão para o lixo antes mesmo do vencimento. Já no Brasil, cada pessoa de classe média desperdiça 182,5 quilos. O desperdício nos restaurantes brasileiros é uma afronta àqueles menos privilegiados que não têm alimento regularmente em sua mesa. Mas esse problema não se concentra somente nos alimentos perecíveis. Os acostamentos das rodovias são a prova fiel de que parte da safra agrícola de grãos é perdida. A precária conservação do pavimento asfáltico e a frota de caminhões defasada contribuem para que nossa riqueza se perca pelo caminho. Uma incoerência, diante das necessidades diárias da população carente.
Historicamente somos os campeões em desperdiçar tudo o que produzimos. Enfrentamos sistematicamente o racionamento de água tratada, mas esquecemos da torneira aberta. Convivemos com o horário de verão (supostamente instituído para economizar energia elétrica) e ainda assim as lâmpadas e os aparelhos eletrônicos funcionam sem necessidade por horas a fio. É hora de se mudar o pensamento e as atitudes, até mesmo porque a demanda tende a ser maior que a oferta. Há que se buscar o equilíbrio para que as futuras gerações possam desfrutar de uma vida com qualidade. Esse é o desafio. Então, que cada um faça a parte que lhe cabe.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.