Vergonha nacional

De José Luiz Boromelo
brigaMais uma vez o país foi destaque no noticiário dos principais jornais pelo mundo afora. Dessa vez não somos citados pelo magnífico carnaval com suas alegorias milionárias e mulheres ousadas, nem pela exuberância de nossas florestas inexploradas ou pelo futebol pentacampeão que produz e exporta continuamente jogadores de altíssimo nível. Tampouco pela diversidade de culturas regionais, que reúne uma miscelânea de etnias envoltas com o manto verde-amarelo da ordem e do progresso, estampado em nossa bandeira. No último final de semana um jogo de futebol trouxe novamente à tona um comportamento condenável que se repete com freqüência em nossos estádios. Uma briga entre torcidas deixou vários feridos logo às vésperas da Copa do Mundo, o maior torneio da categoria entre as melhores seleções do planeta.
Representantes do segmento de turismo manifestaram preocupação com as conseqüências do acontecimento, que poderia comprometer a imagem do país e intimidar eventuais turistas sazonais, aficionados pelo esporte. Agências de viagens e a rede hoteleira procuram avaliar se houve de fato o prejuízo futuro, uma vez que o fato repercutiu negativamente em todas as mídias. De qualquer maneira, é evidente que ocorrências dessa natureza acabam influenciando os potenciais visitantes. Principalmente porque o Brasil é reconhecido por seu clima ameno, suas praias paradisíacas, sua gastronomia variada e pela hospitalidade natural de seu povo. O detalhe é que somente nesse ano foram registradas mais de uma dezena de confusões e brigas em estádios brasileiros. Uma prova inequívoca de que as autoridades responsáveis não conseguem controlar a situação, muito menos oferecer a segurança necessária ao torcedor que procura prestigiar seu time.
Alguns questionamentos e constatações óbvias ficam evidentes numa rápida análise dos fatos com a devida isenção. Por quais motivos não se utilizam os rigores da legislação penal para responsabilizar os marginais uniformizados que colocam a integridade física das pessoas em risco? Os crimes de tentativa de homicídio, lesão corporal de natureza grave e outros, além de danos ao patrimônio não são suficientes para manter os reincidentes longe dos estádios? Por que o Estatuto do Torcedor não é aplicado como deveria, quando reconhecidamente alguns dos protagonistas envolvidos nesses casos já possuem histórico anterior pelos mesmos crimes? Por acaso a morte do jovem torcedor boliviano e os meses de cárcere em Oruro não arrefeceu a ira assassina dos trogloditas desse último e desprezível episódio? Qual a parcela de responsabilidade dos clubes nesse tipo de ocorrência, suas respectivas punições e quais medidas foram tomadas para coibir tal prática no futuro? Não seria o momento de se extinguir definitivamente as torcidas organizadas, comprovadamente um reduto de torcedores violentos?
É incompreensível a complacência da legislação penal para com os marginais dos estádios conferindo-lhes benesses e conseqüentemente a liberdade, medidas que não atendem aos interesses maiores da sociedade. Nem a postura de alguns na defesa explícita dos criminosos que se escondem sob o brasão de uma agremiação, tentando minimizar sua atuação criminosa. Está na hora de se deixar a hipocrisia de lado mostrando que a civilidade e o respeito ao ser humano são imprescindíveis em quaisquer situações, especialmente naquelas em que a rivalidade sadia não ultrapasse os limites do bom senso comum, como no emocionante esporte chamado futebol.
___________
(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.