Perspectivas para 2014

De José Luiz Boromelo:
2014As emissoras de televisão costumam exibir no final do ano a retrospectiva dos acontecimentos relevantes que se tornaram notícia na mídia. Seria interessante que o expectador tivesse outras opções de informação e entretenimento nos moldes dos que são apresentados atualmente, porém com um enfoque diferente: as perspectivas para o próximo ano. Assunto é o que não haveria de faltar, em todos os setores. O Brasil é muito bem servido nesse quesito, por conta da índole de um povo naturalmente irreverente e meio “esquentado”. Mesmo sem ter bola de cristal para adivinhar os fatos mais interessantes que eventualmente poderiam ocorrer, de antemão poder-se-ia elaborar um rol considerável de acontecimentos que certamente fariam de qualquer programa televisivo uma atração imperdível.
Dos eventos mais importantes esperados para 2014 está a Copa do Mundo de futebol. Pela sua tradição, por sua capacidade em movimentar cifras astronômicas e pelo espetáculo ao reunir as melhores seleções do planeta. Não é necessário qualquer esforço mental para se constatar que passada a euforia da competição, independente dos resultados a realidade se fará presente. Os bilhões de reais torrados nos estádios serão sentidos mais cedo do que se espera. Os hospitais públicos continuarão (mais ainda) superlotados por doentes atendidos em macas e corredores, uma imagem bem conhecida a lembrar os contribuintes de que os impostos arrecadados tiveram um destino diferente do esperado e que as coisas poderão ficar muito piores. Outra certeza é a de que em ano de pleito eleitoral a chave do cofre forte será literalmente disputada a tapas pelos apoiadores do atual governo. O “toma lá dá cá” será moeda corrente nos bastidores da República. Tudo muito natural como sempre foi, como é de praxe entre os políticos mal intencionados que elegemos sucessivamente. Sempre os mesmos, com suas promessas mirabolantes.
Pelo andar da carruagem 2014 será mesmo um ano difícil. A Petrobrás está mal das pernas, aparentemente abalada pela defasagem no preço dos combustíveis (segundo consta, por pressão do Palácio do Planalto que não aceita reajustes). Enquanto isso, a economia brasileira caminha a passos de tartaruga, com um crescimento pífio do PIB. A balança comercial continua deficitária, sem previsões de reversão do quadro atual. Se tudo correr como esperado, o setor do agronegócio será mais uma vez o responsável pelas boas notícias. A estimativa de uma safra recorde de grãos está mantida, elevando o otimismo dos agricultores. Pelo visto o próximo ano não será diferente do atual. Se de um lado produzimos como nunca, por outro sofremos (por quanto tempo ainda?) com os gargalos na infraestrutura. Nossas esburacadas rodovias não atendem às necessidades da demanda atual, nem oferecem o mínimo de segurança aos usuários. Nossos portos ineficientes cobram as maiores tarifas do segmento e há muito deixaram de ser atrativos. Todos esses problemas continuarão existindo e inúmeros outros surgirão quando mudar o calendário.
O que dizer então da situação da segurança pública do país no ano vindouro? Unidades prisionais abarrotadas, os índices de violência crescentes, a população amedrontada. Os políticos garantem que tudo está sob controle (por que não encaram a realidade e admitem suas falhas, apontando soluções?). No próximo ano certamente teremos notícias sobre alagamentos, deslizamentos de encostas, congestionamentos gigantescos, escândalos dos mais variados, acidentes trágicos, manifestações e greves por todo o país, desastres ambientais, os extremos do clima, brigas em estádios, as “musas” do carnaval e muito mais. E nem precisamos de bola de cristal para adivinhar isso. Tudo é muito previsível. Mas são apenas expectativas para o próximo ano. Então, até lá. E feliz ano novo!
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista