De José Luiz Boromelo:
Como sempre acontece em casos que repercutem na mídia, logo aparecem os especialistas para comentar sobre o assunto polêmico do momento. Nessa situação específica a maioria dos profissionais defende a livre manifestação dos jovens em qualquer espaço de convivência (pública ou privada), independente das conseqüências. Chegam inclusive a sugerir que o fechamento preventivo dos locais é uma forma de discriminação especialmente dos jovens da periferia, tradicionalmente caracterizados pelo modo de vestir e falar. Enfatizam ainda que o fato poderia ser classificado como segregação social e reafirmam a manutenção dos direitos do cidadão, entre eles os da livre expressão e o de ir e vir. Não obstante, por quais motivos os jovens haveriam de escolher determinado horário para freqüentar os shoppings? E por que a necessidade de se juntar um número expressivo de integrantes num só local? Quais os verdadeiros objetivos que se ocultariam por trás desse comportamento (muitas vezes) agressivo e com alto poder de intimidação? Por experiências anteriores, é sabido que o agrupamento de pessoas tende a conferir supostos poderes que individualmente não são colocados em prática. Mesmo que as intenções iniciais dos integrantes sejam apenas buscar a diversão (com a justificativa de que não se oferece essa opção na periferia), as ações de vandalismo e violência que acompanham os movimentos impõem prejuízos aos lojistas. Se por um lado os jovens se declaram detentores do direito de freqüentar locais teoricamente franqueados a todo e qualquer cidadão (independente de classe social ou comportamento ali observado), por outro os comerciantes (que pagam seus tributos e geram empregos) têm a prerrogativa de trabalhar com a tranqüilidade necessária e sem qualquer tipo de ameaça aos seus investimentos.
A sociedade não pode ignorar essas manifestações, nem tentar minimizar suas conseqüências com justificativas de acatamento aos direitos individuais previstos na Carta Magna. O temor dos comerciantes é compreensível porquanto os “rolezinhos” podem descambar para os “arrastões” verificados na orla das capitais. Porém, o livre acesso deve ser facultado a todo cidadão, sem qualquer tipo de distinção. Espera-se que seja apenas mais um modismo passageiro, como aqueles já relegados ao esquecimento. A convivência sempre gera responsabilidades, distribuídas equitativamente entre as partes. Se há desequilíbrio, então que seja corrigido a tempo. Porque cedo ou tarde, a democracia há de cobrar seu preço.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.