Um breve relato sobre nossa história política

De Fúlvio B. G. de Castro:
FulvioA impressão que tenho é de que a história do Brasil começou a ser contada a partir da chegada do PT ao governo federal, para algumas pessoas, pois a população perdeu a memória dos outros 501 anos do nosso país. Haja vista que se esqueceu dos 389 anos de império onde éramos uma colônia, dos 41 anos da república velha onde se alternavam primeiro os militares no poder e depois as oligarquias cafeeiras e do leite, período chamado de política do “café com leite”, depois “estado novo” quando o Getulio Vargas chega ao poder com um golpe de estado e governou até 1945. Chegada do presidente Dutra ao poder, aliás, a primeira eleição “verdadeiramente democrática” para presidente e com o voto das mulheres que até então eram cidadãs de segunda categoria. 1950 Getúlio Vargas é eleito presidente da república, a primeira e única vez que chegou ao poder pelo voto popular e se mata durante seu governo.
Em 1955 Juscelino Kubitschek é eleito presidente.
1960 Jânio Quadros é eleito e governa somente sete meses e renúncia. A Constituição dizia que o vice-presidente deveria assumir o cargo de presidente da República se o titular não pudesse exercer a função. João Goulart, o Jango, estava na China, e no lugar dele assumiu o presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli. Muitos militares eram contra a posse de Jango, pois acreditavam que ele era uma ameaça ao país por seus vínculos políticos com o comunismo. Através da campanha da legalidade liderada pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, que era cunhado de Jango, ele consegue assumir sob o sistema parlamentarista tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro. Em 1963, é realizado um plebiscito para a escolha entre parlamentarismo e presidencialismo. O presidencialismo vence, e a chefia do governo é devolvida a Jango.
1964 para ser mais exato dia primeiro de abril o Golpe militar e governam até 1985. Vale lembrar que 13 de dezembro de 1968 temos o AI-05 Ato Institucional Número 05 que caça direitos civis e políticos dos cidadãos.
1985 Tancredo Neves é eleito pelo colégio eleitoral sem voto popular para presidente da república. Não assume morre, seu vice José Sarney assume.
Primeira eleição democrática e direta para presidente da república 1989 eleito Fernando Collor de Melo. Sofre o processo de Impeachment. O processo, antes de aprovado, fez com que o presidente renunciasse ao cargo em 29 de dezembro de 1992, deixando-o para seu vice Itamar Franco.
Fernando Henrique Cardoso em 1994 é eleito presidente da república e reeleito em 1998.
2002 o sindicalista, Luiz Inácio Lula da Silva é eleito presidente, e governa até 2010 é substituído por sua Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff primeira mulher Presidenta do Brasil depois de 80 anos que o direito ao voto foi conquistado pelas mulheres.
Bom esse breve histórico foi para tentar responder alguma indagações feitas por amigos, alunos e mostrar como nossa democracia é juvenil, creio que com as manifestações que estamos assistindo recentemente a população brasileira está realmente aprendendo a lhe dar com a democracia. E o exercício político é realmente esse. Até para entendermos melhor a política, é aconselhável verificar o significado etimológico dessa palavra. Política é uma palavra grega que significa “a arte de viver na polis”. Assim, política pode ser interpretada como uma atuação dos seres humanos no sentido de dirigir ou governar a sua cidade, isto é, o bem público. Mas governar a cidade não significa atribuir esse compromisso a alguns poucos, e sim à participação de todos nesse processo. Isso está relacionado com o princípio de cidadania, ou seja, o morador (cidadão) participa das decisões tomadas para o funcionamento da cidade. Há outros dois conceitos que aparecem relacionados à participação do cidadão na gestão de sua cidade: a isonomia (igualdade de todos perante a lei) e a isegoria (direito de expor suas opiniões sobre aquilo que acredita ser benéfico para a cidade).
Então quando ouço falar de “curral eleitoral” por conta dos programas de transferência de renda (bolsa escola, bolsa família ou coisa que o valia) me sobe um frio na espinha. Pelo simples fato do desconhecimento ou fingir desconhecer a história do próprio país. Por tanto vou enumerar dois elementos:
1 – Os coronéis que usam esse método não pertencem aos partidos democráticos do Brasil, como por exemplo, PC do B, PSTU, PSoL, PCB, PT e outros de esquerda;
2 – Nenhum e digo nenhum desses partidos são herdeiros da velha política latifundiária da UDN que criou os “currais eleitorais” como no caso dos partidos: PP, PTB, PSDB e por fim atualmente, a herança política da UDN mais forte é representada, no plano ideológico, pelo DEM (que já se chamou Arena, depois PDS e PFL) em cujos quadros fundadores encontraram-se tanto netos de antigos udenistas como figuras como o já falecido Antônio Carlos Magalhães, que já integrou a antiga UDN.
Esses elementos são somente para exemplificar como alguns discursos tentam mostrar uma realidade que não existe!
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(*) Fúlvio B. G. de Castro é professor de Sociologia em Maringá