O gargalo da irresponsabilidade
De José Luiz Boromelo
Trinta e cinco minutos para percorrer pouco mais de dois quilômetros. Seria um tempo razoável se a distância fosse vencida com as próprias pernas. Naquela sexta-feira de sol escaldante o trânsito teimava em simular o caminhar pachorrento dos quelônios. Em ambos os sentidos da via a situação idêntica de lentidão irritava os motoristas. Se a coisa estava complicada antes, ficou pior com a inauguração daquilo que se apregoava como um alívio para o já conturbado trecho urbano da importante rodovia federal que atravessa a Cidade Canção. Há que se ter determinação e autocontrole invejáveis para superar (sem alterar demasiadamente os batimentos cardíacos) o obstáculo equivocadamente inserido naquela confluência sensível, de modo a testar os limites da paciência dos usuários da rodovia. Qualquer leigo no assunto que se obrigue a transitar por aquele local (em qualquer horário) tem plenas condições de enumerar com toda propriedade os desacertos no polêmico e milionário projeto de engenharia, um legado de modernidade para os maringaenses.
Tem-se a impressão de que nesse País tudo se faz de maneira improvisada e depois vai se ajeitando conforme as necessidades. Tal qual o conhecido “puxadinho”, uma solução caseira que busca suprir alguma carência urgente, mas que destoa do conjunto no qual foi anexado. Assim será quando as autoridades responsáveis mostrarem algum resquício de sensibilidade para com o sofrimento alheio contratando dessa vez alguns competentes profissionais de engenharia viária, empenhados em pelo menos minimizar o gargalo provocado pela convergência inconseqüente de fluxo rodoviário. Até lá, a obra recém-inaugurada denominada Contorno Rodoviário Norte de Maringá será protagonista de quilômetros de indignação e prejuízos. Da forma como foi concebida, a obra mostra-se um corpo estranho que inexplicavelmente invade as faixas de rolamento deixando os condutores sem opção, fato agravado pela sinalização deficiente. Nota-se que o projeto em si foi subestimado, sem levar em conta o aumento do número de veículos que naturalmente haveria de ser direcionado para aquele estratégico entroncamento rodoviário.
Seria razoável ainda esperar que os estudos de viabilidade técnica indicassem o melhor local para a execução da obra levando-se em conta fatores diversos que norteiam um empreendimento dessa envergadura. Nesse sentido, é notório que existem outros tantos pontos na rodovia que poderiam receber, direcionar e distribuir o fluxo de veículos com a eficiência necessária, garantindo assim o escoamento do tráfego com toda a segurança. Ocorre que por motivos alheios aos interesses da população, decidiu-se pelo trajeto atual e o resultado aí está. Não obstante os objetivos iniciais em se retirar o tráfego de caminhões da principal avenida da cidade, os moradores do entorno sofrem com o isolamento imposto pelas características obrigatórias de uma via de trânsito rápido, que privilegia a segurança em detrimento da acessibilidade. Impelidos pela necessidade em cruzar constantemente a rodovia, ficam sujeitos ao transtorno e ao risco iminente, agravado nos horários de pico. A situação mais crítica concentra-se entre Sarandi e Maringá, onde falta organização e sobra incompetência, apesar dos valores estratosféricos consumidos na obra.
Como acontece nos casos em que o remendo fica pior que o soneto, o jeito é esperar por medidas efetivas visando adequações. Isso demanda além de tempo, investimentos vultosos e pontuais. Já que a corda sempre arrebenta no lado mais fraco, o melhor a fazer é reunir forças e paciência suficientes para suportar o caos motorizado com seu ar impregnado de monóxido de carbono. E torcer para que o “puxadinho” improvisado (quando e se algum dia for viabilizado) amenize as coisas por lá.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista
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