Nem só de pão vive o homem

De José Luiz Boromelo:
programasocialO Governo Federal vem sistematicamente veiculando na mídia o incremento dos diversos programas sociais que patrocina, nitidamente com a intenção de associar a prática que foi herdada de governos anteriores com uma suposta capacidade de gerenciamento dos problemas que assolam o país. È sabido que as iniciativas de cunho assistencialista (em tese) haveriam de promover o socorro imediato àqueles desprovidos de condições mínimas para sua subsistência e moradia, sobressaindo-se então a característica emergencial de benefício transitório. Cessada a necessidade do usuário, automaticamente o benefício seria destinado a outros contemplados e assim sucessivamente. Ocorre que nesse País o temporário se torna permanente e o mais grave, sem que se tenha o devido controle, requisito número 1 para a necessária lisura do processo.
As recorrentes campanhas publicitárias, que a todo instante procuram evidenciar uma maior abrangência desse tipo de benefício contrastam diretamente com a real situação dos serviços públicos oferecidos ao cidadão, que é desrespeitado em seus mais elementares direitos. Pessoas continuam padecendo em intermináveis filas de hospitais sem que alguém tome alguma medida eficaz. Não raro acabam por sucumbir ali mesmo sem assistência médica, perdendo suas vidas para a inércia de uma complexa e inoperante máquina administrativa, comandada por incompetentes do mais grosso calibre. O caos na área da saúde expõe visceralmente a fragilidade de um sistema totalmente falido, em que as carências de todo tipo ditam as regras e transformam a vida dos segurados num tormento diário.
O contribuinte está permanentemente sujeito a outros flagelos no país do assistencialismo barato. O transporte público não atende às necessidades atuais nem oferece qualidade considerada razoável para o deslocamento da população. Faltam investimentos maciços em infraestrutura e corredores viários exclusivos para a circulação de coletivos. Não se viabilizam com sucesso soluções de engenharia de tráfego que venham a minimizar o transtorno a que os motoristas são submetidos diuturnamente. O máximo que os engravatados burocratas (alçados ao cargo por conchavos políticos) conseguem são “quebra-galhos” experimentais maquiados. A economia deixa parte de sua riqueza nos congestionamentos sem fim, onerando significativamente o custo final dos produtos e serviços.
A educação pública na terra do futebol e do samba deixa muito a desejar. Via de regra, os educadores não percebem um salário à altura de suas responsabilidades como formadores de gerações. Nossos cientistas altamente qualificados acabam migrando para países onde são reconhecidos por seu valor (uma evasão legítima, mas altamente danosa).
Em meio a tantos problemas, as famílias vivem em constante sobressalto. A violência atinge a todos indistintamente, deixando no ar a sensação de insegurança e impunidade. Das grandes metrópoles aos municípios menores, o cidadão se torna refém dentro de sua própria casa. Sistemas de monitoramento, alarmes e novidades tecnológicas de última geração são utilizados para tentar proteger a vida e o patrimônio, no momento em que o Estado não cumpre com suas atribuições estabelecidas pela Constituição.
Faz-se necessário, portanto, a instituição de uma modalidade de benefício que contemple a população carente sem que isso venha a agregar apelos eleitoreiros e interesses próprios, como acontece escancaradamente na atualidade. Os recursos destinados aos programas sociais devem ser gerenciados com ética e imparcialidade, premissa maior para o exercício probo do cargo público. E que isso venha efetivamente contribuir para a diminuição da pobreza e da desigualdade social no País, objetivo primeiro dos programas em andamento. Em ano de pleito eleitoral, seria como acreditar na existência de fadas e duendes. Coisa do imaginário pueril.
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(*) José Luiz Boromelo, escritor e cronista.