Benedito Ruy Barbosa e as lembranças de Maringá, Marialva e Mandaguari

Autor de novelas de grande sucesso, como Cabocla (1979), Os Imigrantes (1981), Pantanal (1990), O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999), o jornalista e publicitário Benedito Ruy Barbosa viveu quase dois anos na região de Maringá, no início dos anos 50. Aos 12 anos ele começou como auxiliar de guarda-livros da firma comercial Antônio Perez, mudou-se para São Paulo e em 1952 veio residir em Marialva e trabalhar na filial da mesma firma em Maringá, conforme registra depoimento à Memória Globo.

No livro “Autores – Histórias da teledramaturgia”, de 2008, também da Globo, ele dá mais detalhes: conta que trabalhou também na filial da empresa em Mandaguari e compara Marialva àquelas cidades de faroeste, “onde não havia nada para fazer”. “Eles queriam que eu fosse subgerente, apesar da minha idade. Abandonei tudo tudo em São Paulo, inclusive os estudos, e viajei para o sul, com espírito aventureiro. Pensava em fazer um pé-de-meia. Dei um duro danado”, conta.

“À noite, nos reuníamos nos bares, onde se declamava poesia e se contavam casos. A grande maioria era de solteiros. Tinha gente do Rio de Janerio, de São Paulo e de Minas Gerais, todos mais ou menos da minha faixa de idade. Rapazes com certa cultura, acima do padrão da região, que chamavam a atenção das filhinhas dos fazendeiros”.

Benedito Ruy Barbosa conta sua convivência com a comunidade nipo-brasileira, a experiência com alto-falante e até um jornalzinho da região, além de uma grande geada. “Ainda permaneci por lá durante um tempo, feito barata tonta, indignado porque os cafeicultores começaram a plantar arroz, milho e feijão no meio dos cafezais. Eles transportavam tudo nos caminhões até a porta das máquinas, mas ninguém comprava. Minha mãe pagava 16 cruzeiros pelo quilo de feijão. Em Maringá, eles entregavam a saca por 10, e ninguém comprava. Acabavam fazendo uma montanha de feijão e queimando. Depois recebi ordens para cobrar as dívidas dos nossos clientes fazendeiros. Eles assinavam promissórias – que eu guardava debaixo do colchão, porque era uma atividade proibida, uma operação bancária -, e a gente adiantava dinheiro, para ser pago em café. Era uma forma de assegurar o que eles produziam. Na verdade, ficamos com um monte de promissórias e ordens para tomar bens como caminhão, geladeira etc. Mas eu não tive coragem de fazer isso. Pedi demissão e voltei para São Paulo”, diz o depoimento.

(Foto: João Miguel Junior/TV Globo)