Canafístula, 9 anos

Canafístula 9-12-07

Este aí de cima sou eu, o blogueiro, dias após ter sofrido uma cirurgia cardíaca, em 2007. Acreditaram que nesta situação os homens mandados pelo prefeito de Maringá não teriam coragem de cortar uma canafístula de 120 anos. Ledo engano.
Aproveitando o Dia do Meio Ambiente, uma postagem para novo registro da história, dedicada em especial a todos os envolvidos nela – em especial o ex-prefeito Silvio Barros (PP), que mandou pôr abaixo, em novembro daquele ano, uma árvore centenária numa casa construída em 1945 pelo primeiro prefeito de Maringá.

Infelizmente muitas fotos perderam-se porque estavam num serviço gratuito que fechou, mas ainda há outras e vídeos produzidos na época. Segue:

Postagem do blog no dia 8 de dezembro de 2007:
Em risco – A residência do ex-prefeito Inocente Villanova, o primeiro da cidade, está prestes a perder uma canafístula (espécie nativa da região) de cerca de 120 anos de idade e alguns exemplares de araucária – árvore-símbolo do Paraná, protegida por lei. As obras do viaduto da Tuiuti estão avançando e tem gente da Urbamar que não quer proteger as árvores; prefere derrubá-las. A construtora, fiquei sabendo, é contra a derrubada. A família do ex-prefeito, também.

No final de semana os dois lados conversaram a respeito. Funcionários da prefeitura iriam pressionar Paulino Mexia, do IAP, para que a autorização fosse dada de imediato e a derrubada acontecesse neste final de semana. O órgão estadual em Maringá é considerado altamente pressionável, normalmente atendendo os pedidos feitos pela prefeitura e grandes empresários. Vamos conferir neste final de semana se, mais uma vez, o IAP se dobrou e jogou contra o meio ambiente.

Postagens do dia 9 de dezembro de 2007:
Crime ambiental – Confirmou-se temor do blog: a administração “cidadã” de Silvio Barros II (PP) está neste instante derrubando árvores que se encontram no terreno da família do ex-prefeito Inocente Villanova. Há araucárias e uma canafístula de 120 anos.
O pior é que, pelo jeito, eles não se preocuparam sequer em retirar sementes. (8h48)

Em cima da árvore – Permaneci por mais de duas horas em cima da canafístula de 120 anos, que a administração cidadã de Silvio Barros II (PP) quis cortar na manhã de hoje. Acabei de chegar, depois que a Força Verde determinou que, sem autorização do IAP, a árvore não poderá ser cortada. Sei que o chefe do IAP, Paulino Mexia, chamado em mesa de restaurante semana passada por diretores da Urbamar de “submisso”, vai dar a autorização amanhã cedo – mas, antes disso, vamos novamente tentar impedir o crime.

Somente fotografias podem mostrar o tamanho do crime que a prefeitura quer fazer: além da canafístula, há sete araucárias (duas delas com mais de 60 anos) e um trabalho artístico, de importância também cultural e arquitetônica, dentro do terreno que pertence aos Villanova. As árvores arrancadas hoje pela administração cidadã de Silvio II foram todas plantadas pelo primeiro prefeito de minha cidade, Inocente Villanova Junior. A canafístula já estava ali 60 anos antes de Maringá nascer.
Cansei de reclamar. Vou protestar, sempre que possível, sim. Hoje foi meu batismo. Sempre defendi o jornalista dar a notícia, não querer se transformar em notícia. Mas o que fiz hoje foi um ato de cidadão.

Daqui a pouco, fotos e detalhes do evento. Só pra lembrar: ontem foi o Dia da Ação Global contra as Mudanças Climáticas; hoje, o prefeito dá o péssimo exemplo mandando cortar dezenas de árvores. (13h58)

Indagação – O que leva uma administração a pagar hora extra para dezenas de funcionários e mobilizar dezenas de veículos públicos para cortar árvores num domingo?
Isso me lembra a demolição do prédio da clínica do dr. Valdir e do Hotel Esplanada, ocorrida num feriado, na virada do ano. (14h58)

Cortando árvore – Seqüência do corte de um pinus, plantado pelo primeiro prefeito de Maringá, Inocente Villanova Junior, derrubado pela prefeitura hoje pela manhã. A muda do pinus foi trazida de Ponta Grossa, na década de 50. (15h13)

Araucárias – Uma das sete araucárias cortadas neste domingo pela prefeitura de Maringá, com autorização do IAP (o processo entrou dia 3 e anteontem Paulino Mexia liberou). Duas delas têm mais de 50 anos e todas foram plantadas pelo primeiro prefeito de Maringá, Inocente Villanova Junior. (15h19)

Conservação obrigatória – Está na autorização dada pelo IAP: “É obrigatório conservar as matas nativas existentes sobre o imóvel”. A canafístula é nativa e rústica. A que existe na propriedade tem 120 anos, o dobro da idade de Maringá.(15h29)

Uma obra de arte pode ser destruída – A desapropriação de parte do terreno dos Villanova foi uma decisão da administração cidadã do prefeito Silvio Barros II (PP) tomada em agosto último. Até então não estava nada planejado de, estendendo-se o túnel ferroviário, ter que alargar, naquelas proximidades, a via que ficará na superfície.

No terreno dos Villanova – desapropriado de forma surpreendente pelo município – mora a ex-mulher do irmão do prefeito, o deputado federal Ricardo Barros (PP). A desapropriação, feita judicialmente na 6ª Vara Cível, não atinge apenas árvores; pode acabar, se ninguém fizer nada, com um conjunto artístico construído ali em 1945 – que inclui uma pequena piscina ornamental em forma de coração, três viveiros de pássaros exóticos, um espaço para descanso, um portal e uma pequena gruta para a santa. O conjunto foi construído por um artista italiano e inclui uma carranca vinda da Itália. Todo este espaço corre o risco de ser destruído, e talvez ainda hoje, o que seria um verdadeiro atentado à história da cidade. (15h35)

A história da canafístula – Recapitulando: este blog publicou ontem pela manhã a informação de que a administração municipal de Maringá queria cortar uma árvore centenária no terreno dos Villanova, na avenida Tuiuti – uma canafístula, árvore nativa da região, neste final de semana, “de qualquer jeito”. Eu tinha a informação desde a quinta-feira, por conta do vazamento de uma conversa entre diretores da Urbamar. Dois deles comentaram que precisavam da autorizaração do IAP para cortar agora “ou nunca mais” poderiam cortar; imagino que sabiam que o corte de uma espécie nativa é proibido por lei. Na conversa, citaram que Paulino Mexia, chefe do IAP em Maringá, estava sendo pressionado e que “por ser b(*)-mole” iria dar a autorização o mais rápido possível.

Hoje às 8h um diretor da prefeitura, Edson Cantadori, que desde setembro negociava com a família Villanova a desapropriação do terreno, chegou com as máquinas para derrubar as árvores e fazer a limpeza. Só que a autorização do IAP “só” permitia a derrubada de sete araucárias, árvore-símbolo do Paraná.

Fui o primeiro a chegar lá, depois de receber um telefonema. Em seguida chegaram o advogado Alberto Abrão Vagner da Rocha, presidente do Partido Verde, e o professor e ambientalista Jorge Villalobos. Servidores estaduais da Força Verde estiveram lá e, depois de uns engasgos, concordaram que não havia permissão específica para a derrubada da canafístula, ela não seria derrubada. A saída da madeira foi feita sem o selo do IAP, como estabelece a legislação, mas a FV não se incomodou. Eles foram embora, disseram que iriam atender um caminhão cheio de pneus que estava pegando fogo. Nisso chegou o secretário de Serviços Públicos, Diniz Afonso, e disse que iriam derrubar a canafístula; mostraram pra gente e para os proprietários do terreno (que foi desapropriado no primeiro dia de dezembro) um documento da prefeitura e não do IAP. Aí, reunidos, decidimos por subir na árvore para impedir o corte. A turma colocou um pano branco em torno dela e arranjou uma escada que deu o maior trabalho pra montar. Disse ao Alberto e ao Jorge que subiria. Mesmo estando em cima da canafístula de cerca de 30 metros – onde um casal de gaviões tem ninho -, o pessoal ainda cortou alguns grandes galhos perto de onde eu fiquei.

A PM chegou a ir lá, os policiais foram muito educados e garantiram que nada seria feito para me tirar de lá. Disse a eles que sairia assim que visse o documento autorizatório; eles procuraram junto com os funcionários da prefeitura e também não encontraram. Perceberam que o objetivo de todos que estavam ali era sério e legal. A chegada novamente da Força Verde fez prevalecer o bom senso pregado por Alberto Abrão e Villalobos: não se corta a árvore enquanto não existir autorização. Agora é ficar em cima do Paulino Mexia e fazê-lo ver que deve tomar uma decisão que favoreça o meio ambiente.
PS – O primeiro número da revista Página 9 que fiz trouxe Inocente Villanova Junior na capa. A edição comemorou o centenário de nascimento do primeiro prefeito da minha cidade. Hoje subi numa árvore que ele cuidava (Villanova dizia para as netas que ela nunca deveria ser derrubada), vi outras que ele plantou serem postas ao chão e a casa que ele cuidou começar a ser destruída. Mas creio que o domingo fez muito bem ao meu coração. (16h06)

Cortaram a canafístula – A árvore foi cortada agora há pouco. Li no Toscorama, liguei para a família – que, acreditando nos homens públicos, também não tinha visto. A canafístula centenária foi cortada pela administração cidadã do prefeito Silvio Barros II (PP).

O sr. Paulino Mexia, o “b(*) mole” a que os diretores da Urbamar fizeram referência na quinta-feira, teria assinado a autorização depois do manifesto, depois que desci da árvore. Quando a confusão corria por lá ninguém achava ele. O Mexia não é fraco não, mas a culpa não é dele – é de quem o nomeou.

PS – Fiquei sabendo que Paulino Mexia negou que houvesse autorizado o corte da árvore. Teriam, portanto, feito à revelia. Assim, o IAP deve ser o primeiro a apurar responsabilidade, inclusive judiciais, pelo fato. (17h01)

Canafístula 9-12-07
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Canafístula 9-12-07
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Hoje, passados nove anos do que considero um crime, a família Barros fez Beto Richa nomear o secretário de Meio Ambiente do Paraná, o (*)-mole Paulino Mexia, como disseram os funcionários da prefeitura.
Silvio Barros II (PP) manteve até recentemente programa na rádio dos seus primos para falar, vejam só, de meio ambiente e sustentabilidade. Sua gestão notabilizou-se por dizimar árvores e, passados 12 do grupo no poder, a mesma turma não foi capaz de produzir um projeto de manejo de árvores para cidade.

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