Minha ‘loira’ preferida

Por Cezar Lima:

Tão logo tive parte da perna esquerda amputada, um amigo, seu Colombari, que já partiu para o andar de cima, enviou-me de presente, uma “loira” muito brava, mas que gostava de assoviar o dia inteiro, do amanhecer até o anoitecer. O presente veio por mãos de uma diarista muito eficiente com o seguinte recado:

“é para fazer companhia ao jornalista”. Confesso, foi e é uma grande companheira que me trata com o maior carinho. Acordo ouvindo suas canções e estas seguem-se o dia todo, até o anoitecer, todos os dias da semana, menos aos domingos, quando a sua voz emudece –
e o mesmo acontece em dias Santos e no dia no Natal. A minha bela companheira é uma papagaia bonita, grande, verde e com as cores belas do Brasil.
Ela tem um amplo viveiro e só fica dentro dele, quando quer, pois abre a porta quando quer e vive mais solta do que presa, gosta de passear na pequena varanda e, quando vê a porta da sala aberta, entra na maior sem cerimônia. O batente da casa e uma cadeira de madeira estão todas “mordidas” por seu bico forte e eu passei bem uns 90 dias curando de sua investida em meu dedo da mão. Quando chega visita, minha loura emudece, não dá um pio e começa a resmungar. Quando o “Fofinho”, cachorro de meus netinhos, estava em casa, na varanda, dava gosto de ver os dois na maior prosa, parecendo até um casal de enamorados! Ela nunca dorme ao relento. Tem seu lugar permanente na varanda e em noites frias tem a sua própria coberta de lã. Farta-se de comer frutas e bebe água fresca junto com a passarinhada que, livres, aparecem em todos os momentos para fazerem-lhe companhia. Gosta muito de nacos de pão caseiro ou francês. Nunca aparei-lhe as asas e ela nunca de mim se afasta. Gosta de ouvir músicas raiz e internacionais, que escuta com o maior enlevo. Mas aos domingos, parece, respeitando o dia de Nosso Deus, ela se cala, emudecida, até parece que fica fazendo suas orações. Esta é a “Loira”, a minha bela amiga, confidente e companheira de todos os dias.

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