Por João Batista Leonardo:
Não preciso de tanto para perceber, a importância no mundo de tantos fatores que envolvem a nossa vivência e que imprimem comportamentos. A sexualidade é a comissão de frente determinante que dita atitudes e posiciona boa parte da humanidade.
É assunto longo, palpitante e de relevante importância impossível de ser, satisfatoriamente explanado em tão curto espaço, como nesses dois textos seguintes. Tantos estudos acadêmicos e artigos já foram escritos abordando o assunto e mesmo assim deixaram a desejar. Para início de conversa, nossa própria existência é consequência de um ato sexual, de uma fecundação. Ninguém veio da flor ou da cegonha, como nos falaram na infância e, somos muitos no mundo, quase sete bilhões e meio de seres humanos. É muito sexo.
Também é um assunto polêmico, cheio de informações e posicionamentos, que nem sempre é unanimidade. Das funções humanas, o sexo vem com mais tabus e desvios, com tantas consequências e por mais que busquemos respostas, fica mais desafiante. Os tempos mudam, as pessoas mudam, os preceitos mudam, os posicionamentos também mudam e a sexualidade, fator determinante no meio disso tudo, não poderia ser diferente.
O homem, por natureza, é mais propenso à sexualidade do que a mulher, geralmente ele procura e vai atrás, como mostra um trabalho recente, sobre as preferências cotidianas dos brasileiros. Para os homens, o sexo ficou em terceiro lugar, atrás da saúde e do dinheiro. Para as mulheres, ficou em oitavo lugar, atrás de tantas outras preferências. Interessante é a analogia com os animais, o cavalo exige da égua, o touro da vaca, o cachorro da cadela e assim vai, a fêmea, geralmente não exige do macho.
O que é normal no sexo? Do ponto de vista social e seguindo a medicina tradicional o normal é a prática heterossexual, isto é, um casal composto por homem e mulher. Fugindo dessa norma é considerado em medicina e socialmente, como “Desvio da Sexualidade”.
Na atualidade com o crescente “Desvios da Sexualidade e parafilias”, a tendência atual de orientação sexual no meio médico ficou mais abrangente e o conceito de normalidade também foi ampliado. Considera-se hoje, sexualidade normal, quando há entendimento entre os parceiros e que eles estejam satisfeitos com suas opções e práticas. O que fazem no âmbito restrito de suas vidas privadas, só a eles interessa; cabendo a nós, membros da sociedade respeitar as tendências sexuais de cada um. Hoje, é preciso entender as diferenças.
Deixo claro ao leitor, que nesse pequeno trabalho vou me ater unicamente, na SEXUALIDADE HUMANA HETEROSSEXUAL, que é o sexo entre homem e mulher. Assunto, que me foi de grande preocupação, trabalho e estudos, na vida profissional. Portanto todas as afirmações que expuser aqui são, na maioria, posicionamentos meus, adquiridos nos mais de cinquenta anos de clínica junto às mulheres e às famílias. Os “Desvios da Sexualidade” e das “Parafilias” serão assuntos para outras abordagens.
Testemunhei tantos casais e famílias se desfazerem, principalmente por desajuste sexual. O sexo é frágil e para ser bem ajustado depende de uma série de exigências entre os casais. Ele é dependente de sentimento, motivação, técnica, parceiro, hora, local, frequência e principalmente grande dependência do fator emocional. Não é somente um abrir de perna para a mulher e uma ejaculação vaginal para homem. É muito mais. Por isso, qualquer distúrbio orgânico ou emocional, de um parceiro, o sexo paga o pato.
Para começar, boa parte das pessoas, mormente as mulheres, ainda guardam tabus a respeito dos órgãos genitais e suas funções. Parece que falar, ver e tocar nos órgãos genitais é restritivo, feio, sujo e deve ser evitado. Pelo contrário, os órgãos genitais devem ser bem vistos, tocados e acariciados. Eles têm tanta beleza, importância e dignidade, como qualquer outro órgão do corpo e eu, como ginecologista, acho o mais importante de todos, porque motiva a vivência, propicia o prazer e gera a vida, que em suma nos dá a continuidade.
A mulher por força dos seus hormônios feminilizantes tem um corpo característico. Psicologicamente, muito mais detalhista, afetiva, tem fluência verbal e é determinada pela emoção.
O homem, por força dos seus hormônios masculinizantes, tem um corpo característico. Psicologicamente é mais prático, objetivo, mais corajoso e mais ligado em números.
É evidente que todos os seres vivos praticam sexo e dai a continuidade das espécies. Sou convicto em afirmar que a sexualidade humana é muito diferente da dos outros animais, principalmente para a mulher. A maioria das fêmeas dos animais irracionais, somente aceita a cópula, na época do cio, período em que elas estão férteis. Todas as mulheres podem ter atividade sexual, em qualquer época, independente do seu período fértil, desde a puberdade até a velhice.
Nós somos seres dependentes e com as grandes e rápidas mudanças da própria vivência nos tornam insatisfeitos sempre e buscando caminhos. As DIFERENÇAS ORGÂNICAS E PSICOLÓGICAS do homem e da mulher são decisivas na sexualidade, porque ela é baseada, precipuamente nesses dois fatores.
O homem, quanto ao sexo é determinado na necessidade física. Ele “precisa”, periodicamente eliminar o esperma que está acumulado nas vesículas seminais, o que acontece no orgasmo, junto ao coito, sonho, masturbação, etc.
A mulher é determinada sexualmente pelo fator emocional. No sexo, a mulher não elimina nada, ela ovula naturalmente, sem qualquer conotação sexual. O sexo para ela é muito mais um envolvimento emocional com a pessoa que tem afetividade, do que necessidade física. Ela pode passar dias, semanas, meses sem sexo e sem premente necessidade, muito diferente do homem.
O emocional da mulher é regido e dependente de alguns parâmetros, que abordo, superficialmente.
a- Formação sexual. Traduz a conceituação íntima sexual da mulher, adquirida na vivência dos tempos. Foi bem orientada ou não desde criança? Teve algum trauma? Uma formação boa ou má é importante na sexualidade feminina. Daí uma mulher ser mais propensa ao sexo do que outra.
b- Motivação- Mormente, para a mulher é fator determinante na sexualidade. A motivação é feita, na vivência diária, com procedimentos altruístas do companheiro que valorizem a pessoa dela. Gosta de marido honrado, de ser prestigiada, amparada e de ser reconhecida.
c- Sentimento- Porque é motivada pelo emocional, o AMOR é fundamental para ela. Quem ama não vê barreiras e se entrega com corpo e alma. O casal que se ama não precisa ter de tudo, para ser feliz, ele busca a felicidade no que tem. O maior trovador brasileiro A.A. de Assis é categórico “O sexo é o festejo do amor”
d- Parceiro- Se for pessoa amada e normal não tem erro. A grande maioria das mulheres não gosta do sexo fortuito, sempre procura o parceiro certo, ou que tenha, alguma conotação agradável. É preciso, no casal, um mínimo de coerência física. Quantos casais eu conheci que um parceiro tinha vergonha de sair com o outro em público; nem preciso dizer da sexualidade deles.
e- Técnica- Acho que tudo na vida tem que ser bem feito e o sexo, muito mais. A mulher detesta quando o parceiro chega e sem preparo algum exige sexo. Para que haja prazer e satisfação entre os parceiros é preciso que todo rito sexual seja feito de maneira adequada. Aqui é importante o entendimento e as preferências de cada casal, quanto à posição, frequência e preparo.
f- Hora e lugar- Na vida, tudo tem sua hora. No final de um dia problema, quando coisas deram erradas, a cabeça está virada, tanto de um, como do outro parceiro, o sexo fica sem motivação e é evitado. É preciso, para uma boa tranza, que a hora seja certa e haja tempo para exercer o rito da sexualidade.
g- Família ajustada- A família bem ajustada é muito importante para o casal e acentuadamente para a mulher, onde ela tem maior participação. Aí, ela tendo vivencia boa, percebe a felicidade, o que a motiva também para a sexualidade. Por maior que seja o esforço do casal, por vezes, há desentendimentos, então a renúncia e o perdão, são necessários. O diálogo entre os pais e filhos é de fundamental importância. A presença de Deus é determinante. Um casal que forma uma família sadia, bem orientada, convive na alegria e a sexualidade fica valorizada.
Na segunda abordagem, que será no próximo domingo farei a complementação do assunto – Até lá.
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(*) João Batista Leonardo é médico e escrito em Mariná. Publicado originalmente no Jornal do Povo. Desenhos do pintor Antonio Boh
