Atrasos e contas reprovadas marcam atuação da OMF em obras de hospitais com o poder público

Depois do fiasco de eventos como a feira internacional de aviação, que deveria durar décadas em Maringá mas já acabou, e a icônica fábrica de helicópteros e aviões de Luigino Fiocco, o Hospital da Criança de Maringá, ou da deputada Maria Victória como querem os pais, Ricardo Barros e Cida Borghetti, começa a ser visto com reservas.

A começar da tentativa de se vincular a Organização Mundial da Família com uma das agências especializadas da Organização das Nações Unidas. Não é, como se verifica aqui. Em 2009, a ONG e sua presidente, Deisi Noeli Weber Kusztra (foto), já haviam protagonizado o que chamaram de “Prêmio Mico“, no qual caiu o então ministro da Saúde, José Serra. Nesta época a ONG já atuava na construção de hospitais municipais com recursos públicos.
Em agosto do ano passado, a presidente da OMF teve as contas reprovadas pelo Tribunal de Contas da União, por conta de irregularidades na construção da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, inaugurada no final de 2006 a partir de uma parceria com o governo de Sergipe. O TCU determinou a devolução de recursos da obra. O caso ganhou ares de escândalo: dos R$ 11 milhões gastos a ONG não conseguiu comprovar a aplicação de R$ 6 milhões.
A União Nacional das Associações de Proteção à Maternidade, Infância, Família e Entidades Sociais (Unapmif), igualmente ligada a ela, também foi condenada no mesmo processo pelo TCU, uma multa individual de R$ 55 mil às suas dirigentes mais um total de R$ 2.144.937,55, equivalentes a recursos repassados pelo Fundo Nacional de Saúde entre outubro de 2005 e abril de 2007, os quais teriam sido usados em despesas consideradas “estranhas” ao objetivo do contrato ou não tiveram a comprovação de sua aplicação nas obras da maternidade. O MPE de Sergipe foi o autor de ação por improbidade administrativa contra os gestores das duas ONGs.
Antes, houve questionamentos sobre o Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú, onde foram investidos R$ 27 milhões em recursos conveniados. A obra sofreu atraso (o prédio foi entregue como pronto-atendimento em 2008 e somente em 2011 passou a atender como hospital) e a entidade quis receber da prefeitura o que teria gastado além do previsto. A promessa em Camboriú foi de construir o hospital em oito meses; em Maringá, fala-se em até nove meses.
Em 2014, a construção de um hospital em Biguaçu (SC) passou por perícia judicial após problemas com a Vigilância Sanitária, por conta do “sistema americano” adotado. A construção sofreu um atraso de dois anos. O hospital é gerido pela Beneficência Camiliana do Sul.
Além da Unapmif, Deisi Noeli Weber Kusztra é sócia, administradora ou dona da União Internacional dos Organismos Familiares, ambas criadas em 1994 e 1995, com sede em Curitiba. Desde 2002 é diretora do Fórum Internacional das Mulheres Árabes.
Antes do anúncio da parceria com o Ministério da Saúde, governo do estado e Prefeitura de Maringá, a OMF esteve em Ponta Grossa, com o prefeito Marcelo Rangel, com quem foi tratada a possibilidade de uma parceria para incrementar o Hospital da Criança João Vargas de Oliveira.
A OMF (que também usa a sigla WFO, em inglês) está envolvida na construção do segundo bloco do Hospital da Criança de Brasília José Alencar, com 220 leitos, centro cirúrgico com quatro salas, centro de diagnóstico, centro de ensino e pesquisa, hemodiálise, hemoterapia, quimioterapia, serviço de imagem, entre outros serviços. A construção, anunciada para abril deste ano, só deve ser entregue, totalmente concluída e equipada, no final do primeiro semestre de 2018. O primeiro bloco, entregue em 2011, foi construído graças à Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), parceira do HCB.
Neste mês a ONG realizou em Genebra, Suíça, a World Family Summit 2017 e para comemorar seus 70 anos de existência convidou vários políticos e dirigentes de estatais do Paraná, que oficialmente participaram da sessão plenária especial que discutiu o tema “Parcerias para os objetivos governos e famílias locais sejam a mudança”. Eles também receberam prêmios. Ao divulgar o evento, informou-se que o convite, que incluiu palestras de cinco membros do governo, foi assinado pela presidente do World Family Organization, Deisi Kusztra, e “pela secretária executiva assistente da diretoria, Unitar, Nikhil Seth”. Na verdade, Nikhil Seth é um homem, um indiano que em 2015 assumiu como diretor executivo do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (Unitar), este sim ligado à ONU.

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