O primeiro moniquini

O trovão rugiu e o raio rasgou o céu e veio de encontro ao mundo, despejando fogo.
Adão havia provado a maçã…

E quando os dois saíram do Paraíso, o pecado lhes mostrou que estavam nus.
Surgira o pudor com toda sua força, com toda sua ingenuidade…
Embrenhados na floresta agreste, Adão queria cobrir a nudez de sua companheira.
Seus olhos aflitos procuravam aquilo que seria o primeiro monoquini do mundo.
Foi quando seus olhos deram com as folhas de um parreiral.
Correu, rápido arrancou uma, colocou no colo já fecundado de Eva e viu que a medida era certa.
Aflito, sentiu que algo precisava para segurar o precioso achado.
Seus olhos percorreram a majestade das árvores e a imponência negra da mata.
E de repente encontrou.
Rápido, vendo sua força hercúlea, tonificada pelo amor, arrancou o cipó e carinhosamente enlaçou os quadris da sua amada…
Fez o mesmo consigo, num gesto de respeito àquele que seria a mãe de seus filhos…
Diz a lenda que a folha de parreira é mais pálida de um lad o porque foi a primeira a ver o altar do amor e o cipó guambé tão forte, porque jamais esqueceu que sua primeira tarefa no mundo foi cingir as ancas, cheias de sexo, da primeira mulher do Universo…
(Ivens Lagoano Pacheco, in O Fantasma do Espinilho)
(*) Arte sobre pintura de Masaccio)