Indústria pode deixar de faturar R$ 500 milhões por dia com greve, diz Fiep

A manifestação dos caminhoneiros, que desde segunda-feira compromete o transporte de cargas em todo o país, gera inúmeros transtornos e prejuízos à indústria paranaense. Sindicatos ligados aos mais variados setores, filiados à Federação das Indústrias do Paraná, relatam que boa parte das empresas já parou parcial ou totalmente sua produção.

A entidade diz entender as reivindicações dos transportadores, mas pede soluções para o impasse, que segue nesta sexta. Um cálculo realizado pela Fiep estima que, se toda a atividade industrial do Paraná for paralisada, o segmento deixará de faturar aproximadamente R$ 550 milhões por dia, sem contar os inúmeros outros prejuízos causados pela interrupção não prevista na produção.
O presidente da Fiep, Edson Campagnolo, explica que, além de problemas para recebimento de matérias-primas, boa parte do parque industrial paranaense não consegue retirar os produtos acabados das empresas. “Assim, as indústrias não podem faturar as encomendas, o que compromete significativamente seu fluxo de caixa”, afirma. “Isso preocupa bastante, principalmente porque compromete a operação com bancos, já que as contas não param de chegar, e pode afetar inclusive o pagamento de salários e impostos. A situação é gravíssima para as empresas e para toda a economia do Paraná e do Brasil, especialmente neste momento em que ainda lutamos para superar a crise dos últimos anos”, completa Campagnolo.
Tomando como base o faturamento líquido da indústria paranaense, calculado pelo IBGE, economistas da Fiep chegaram à estimativa de que, caso a manifestação dos caminhoneiros se prolongue e haja paralisação completa das linhas de produção no Estado, as empresas deixarão de vender o equivalente a R$ 550 milhões por dia. Considerando a indústria brasileira como um todo, o montante poderia chegar a R$ 6,5 bilhões ao dia na mesma hipótese. Já os prejuízos gerados pela paralisação das atividades são muito maiores, seja pelo descarte de produtos e matérias-primas perecíveis, como no setor de alimentos, seja pelo atraso na entrega das mercadorias. Há ainda o caso de indústria que, por peculiaridades de seus processos produtivos, não podem simplesmente desligar determinados equipamentos, como fornos e caldeiras.
Apesar disso, Campagnolo afirma que a Fiep entende as reinvindicações dos caminhoneiros e pede uma solução para o impasse. “Os transportadores são parte essencial de toda e qualquer cadeia produtiva. Como este movimento atual comprova, a falta de prestação de seus serviços causa impactos diretos às empresas, à economia e toda a população”, diz. “Se esses profissionais estão parados é porque, assim como os demais elos do setor produtivo, também enfrentam imensas dificuldades para exercer plenamente suas atividades. Por isso, é preciso que o governo tome atitudes e encontre soluções para o problema o mais rápido possível”, completa.

Setores
Um levantamento interno realizado pela Fiep junto a sindicatos filiados confirma que a maioria dos setores já contabiliza prejuízos com a manifestação dos caminhoneiros. A principal queixa dos empresários é justamente em relação a atrasos no faturamento junto aos clientes. Segundo eles, sem receber matéria-prima para produção, as atividades precisam ser interrompidas. Os trabalhadores são dispensados e não é possível cumprir o prazo das entregas de produtos e mercadorias.
O presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná (Sinditrigo), Daniel Kümmel, diz que o parque moageiro do Estado, com 67 moinhos, está praticamente parado. Em maior ou menor grau, todos estão sendo afetados e vários já pararam a produção. “Em breve deve começar a faltar farinha nas padarias, causando desabastecimento para a população”, relata Kümmel.
O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Pato Branco (Sindimetal), no Sudoeste do Estado, afirma que 75% das 90 indústrias filiadas à instituição, fornecedoras de componentes e peças para fabricantes de eletrodomésticos e outros produtos, estão paradas. As demais, segundo ele, param até segunda-feira caso a greve não seja encerrada. “Já não há insumos para continuar a produção. Outro fato que preocupa é espaço para estocar o que já está pronto, mas não foi entregue devido à interrupção das estradas”, informou.
Na região de Londrina, que congrega mais de 600 indústrias do segmento do vestuário, já começa a faltar tecidos, principalmente nas micro e pequenas empresas que têm estoque reduzido. Com isso, o prazo de entrega dos produtos já está comprometido, assim como o faturamento aos clientes. “Com as estradas paradas não conseguimos nem entregar o que já estava previsto”, afirmou Alexandre Graciano, do Sindicato do Vestuário do Paraná.
Problemas parecidos enfrentam as indústrias de Arapongas, maior polo moveleiro do Paraná. O presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), Irineu Munhoz, relata que todas as empresas do setor na região estão sendo afetadas. “Poucas indústrias ainda trabalham com produção plena, e várias já precisaram paralisar pelo menos parte da produção. Mesmo as que ainda possuem matéria-prima suficiente estão diminuindo o ritmo de produção porque começa a faltar espaço para estoque dos produtos acabados”, afirma. Além disso, há várias empresas com caminhões parados em estradas, sem conseguir entregar os produtos para os clientes. “O grande problema é que, sem expedir os produtos, as empresas não conseguem fazer o faturamento, o que compromete o fluxo de caixa. Há empresas que estão há três dias sem faturar”, conta. (Fiep)

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