O centenário Francisco, o mineiro de Nepomuceno que venceu em Maringá

Ele az parte de um grupo que praticamente não existia alguns anos atrás

O corpo e a mente podem até envelhecer, mas não o espírito. Isso está mais do que provado. Basta ver a disposição do maringaense Francisco Ribeiro da Silva, que festejou seus 100 anos de idade dançando todo animado com as filhas, no início de março.

Seu Francisco faz parte de um grupo que praticamente não existia alguns anos atrás. De acordo com os dados do IBGE, a população com mais de 100 anos em Maringá no final dos anos 90 era quase inexistente.

Seu centenário carrega a experiência de toda uma vida que resultou em frutos, vistos numa numerosa e carinhosa família: são nove filhos, 13 netos e 11 bisnetos. Seu Francisco casou-se em Santo Anastácio, com Maria José Araújo da Silva, filha de José Alves e Mariana Pereira. Ela faleceu em maio de 1966, alguns anos depois de chegar em Maringá, onde se estabeleceu, trabalhando por muitos anos em empresas como a J. Alves Veríssimo e a Importadora São Marcos.
Mais que disposição, a alegria é um marco da trajetória do seu Francisco, que foi trabalhou por muitos anos desde que chegou à região, vindo do interior paulista. Não dispensa um gole de uísque, e não à toa recebeu de presente na festa dos 100 anos alguns litros da bebida.

“Não é fácil [chegar aos 100 anos]”, responde quando perguntado de sua trajetória. Nascido em ano bissexto em Nepomuceno, sul de Minas Gerais, de família menos favorecida, viveu quando solteiro também em Santo Anastácio (SP), para onde foi labutar como trabalhador rural numa fazenda distante de 36 km da cidade. Lembra que dormia em tarimba, uma cama dura e desconfortável.
“Lá em Minas todo mundo andava com uma garrucha 320, 380, revólver 32, 38. Quando ia no baile, saía briga, faca daqui, faca dali. Tinha medo do meu pai saber, perguntar por que fui lá”, conta, em meio a outras lembranças sobre o trabalho na lavoura, no beneficiamento de café, na lida na propriedade rural.

Sentado no sofá da sala do apartamento em que mora com uma das filhas, voz pausada, ele consegue dar detalhes de alguns eventos que marcaram sua vida, diz nome e sobrenome de muitas pessoas com as quais conviveu.

Mas uma de suas histórias mais saborosas é quando reconta como topou com dois dos maiores bandidos que agiam no noroeste do estado, os famosos Diabo Loiro e Carne Seca. “Passei medo”, confessa, depois de falar do assalto cometido por seis homens do bando mais famoso da época da colonização, ocorrido nas proximidades de Uniflor. Ele chegou a ser amarrado e conseguiu fugir.

Talvez a data de nascimento de seu Francisco Ribeiro da Silva ajude a explicar a alegria e disposição que o acompanham. Tem-se que as pessoas que nascem no dia 29 de fevereiro são sensitivas, conseguem o que querem e têm a missão de passar seus conhecimentos e continuar aprendendo – uma tarefa que ele cumpre por mais de 100 anos.


Com a família, na festa dos 90 anos


Seu Francisco, mineiro nascido em ano bissexto


No aniversário, dançando com uma das filhas


Na hora dos parabéns, com os familiares